Vida Celebrativa - Ano Eclesiástico


ID: 2654

Começa um novo tempo

14/04/2018

Lucas 24.36b-48

Essa é a primeira vez que Jesus aparece a todos os seus discípulos, depois da ressurreição. Ele já tinha aparecido antes para as mulheres, depois apareceu a um grupo de discípulos que estavam pescando e também apareceu a um outro grupo no caminho de Emaús. Agora é a primeira vez que Jesus aparece a todos eles juntos.

E Jesus encontra os seus discípulos apavorados. Os acontecimentos da prisão, da crucificação e da morte de Jesus deixaram eles apavorados. E seu medo tinha razão de ser: Literalmente eles estavam sendo caçados pelas lideranças judaicas.

Nesse clima de medo, eles tinham ouvido falar que Jesus ressuscitou. Mas será que era verdade mesmo? Será que não é um fantasma? E eles também tinham medo de fantasma.

Certa vez, depois que Jesus alimentou uma multidão de pessoas com 5 pães e 2 peixes, os discípulos entram no barco e atravessaram o Lago de Genesaré que tem uns 13km de largura. No meio do lago começa a soprar um vento forte e as ondas bateram com violência contra o barco. Começou uma turbulência muito forte. O barco balança de um lado para o outro, para cima e para baixo. Já era de madrugada. Os discípulos ficaram com muito medo. O barco parecia que ia virar. Nesse momento Jesus apareceu andando sobre as águas e o desespero dos discípulos aumentou ainda mais, porque pensaram que era um fantasma. Os discípulos começaram a gritar de medo. Então Jesus disse – Coragem, sou eu! Não tenham medo (Mateus 14.22-32). Quando eles viram que era Jesus mesmo, então se acalmaram.

O medo sempre foi um instrumento de controle. Ainda hoje alguns pais/mães dizem aos seus filhos: Não vai lá fora que o bicho vai pegar! Mas não só as crianças que são amedrontadas. Também as pessoas adultas são controladas pelo medo. Medo de falar o que se pensa, medo de ser acusado de coxinha ou de mortadela. O medo faz as pessoas calarem a boca. No tempo de Jesus as pessoas tinham medo das autoridades judaicas, que podiam mandar matar sem piedade, como mataram a João Batista e como crucificaram a Jesus. As pessoas também tinham medo dos soldados romanos. Também no âmbito religioso, as pessoas tinham medo de ofender a Deus e serem castigados por Deus com alguma doença ou alguma catástrofe. Portanto, ter medo faz parte da vida. E por isso os discípulos de Jesus estavam apavorados. Eles sabiam que se alguém os visse eles pelas ruas – eles seriam denunciados as autoridades. Seriam presos e provavelmente seriam também mortos como foi Jesus.

E nesse contexto surge essa notícia que Jesus está vivo. Quem poderia acreditar numa coisa dessas. Jesus foi torturado e alguns dos discípulos até viram Jesus pendurado na cruz e morrer. Por isso, essas histórias que Jesus apareceu vivo aqui e ali não eram suficientes para que eles perdessem o medo. O ver-para-crer não estava presente somente na cabeça do discípulo Tomé. 

As portas estavam trancadas, as janelas estavam bem fechadas – e de repente Jesus aparece no meio deles e diz: Que a paz esteja com vocês. O primeiro efeito da aparição de Jesus não foi de paz, mas justamente o contrário. Eles ficaram ainda mais assustados porque pensaram que era um fantasma. O coração de cada um deles acelerou ainda mais. Se as portas e as janelas não estivessem tão bem trancadas, certamente eles teriam saído correndo. 

O que Jesus faz para acalmá-los? Jesus apela para os sentidos: Olhem para minhas mãos e meus pés – vejam que sou eu mesmo. Toquem em mim. Não sou um fantasma(v.39). Mas nem mesmo vendo, tocando, ouvindo eles acreditaram. O medo, o pavor era mais forte. Jesus então pergunta se eles têm alguma coisa para comer(v.41). E eles lhe deram um pedaço de peixe assado e Jesus comeu diante deles. Esse momento de silêncio, de observar a Jesus comendo foi acalmando os discípulos. Jesus então começou a explicar que tudo o que havia acontecido já estava previsto nas Escrituras, na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Aos poucos a mente dos discípulos foi se abrindo e eles entenderam que os últimos acontecimentos da prisão e morte de Jesus não eram o final de uma história, mas que realmente havia acontecido a ressurreição e assim começava um novo tempo. Vocês vão ser testemunhas dessas coisas, eu lhes mandarei o que o meu Pai prometeu (v. 48).

Quantas vezes também nós passamos por momentos de angústia, de medo. Nós ouvimos que Jesus apareceu aos seus discípulos no meio de suas angústias, de seus medos. E da mesma forma Jesus quer aparecer também em nossa realidade atual. Assim como ele se mostrou aos seus discípulos – ele quer se mostrar ainda hoje. Ele também quer dizer para nós hoje que ele não está morto, que ele não é um fantasma, mas quer estar presente em nossa realidade tão contraditória e apavorante. E que ele quer contar conosco, assim como contou com seus discípulos, para dar inicio a um novo tempo. Jesus precisa de nós hoje. Ele nos deixou os seus ensinamentos, os seus valores que são a compaixão, a misericórdia, o respeito, a tolerância, a bondade, o amor. Nesse mundo marcado pelo ódio, por tantas pessoas de mau-caráter, está na hora de falarmos desses valores. Precisamos começar um novo tempo. Caso contrário, estaremos todos perdidos. Já está na hora de cada pessoa decidir: ou seguimos a Jesus ou seguimos a maldade desse mundo.

Quando Jesus mostrou as suas feridas aos seus discípulos, ele apontou para a crueldade e as dores deste mundo. Ser seguidor de Jesus é olhar para as feridas deste mundo.

No campo internacional é perigoso quando governos de extrema direita como nos Estados Unidos resolve começar uma guerra contra outros países de extrema direita. Parece que cada presidente dos Estados Unidos precisa começar uma guerra, precisa atacar um país. A razão é sempre a mesma: atacar quem tem armas químicas. Assim foi com o Iraque, o Afeganistão, a Líbia. Na Síria está o exército islâmico que foi controlado pelo governo sírio. Será que atacar o governo sírio não vai ressurgir o exército islâmico? 

Também aqui no Brasil vemos os grupos de extrema-direita, que defendem a violência armada contra pobres, índios, comunidades quilombolas e homossexuais, que expõem mulheres nuas no meio da rua.

Penso que Deus nos está dizendo que precisamos finalmente dizer se estamos ou não de acordo com o que grupos da extrema-direita estão fazendo.

Estimados irmãos e irmãs: Nos tempos de hoje, a Palavra de Deus parece estar cada dia mais viva. Cada vez nos damos conta que ela foi escrita justamente para esses tempos atuais. Mas Deus sabe que também nós precisamos ser libertados do medo. Ele sabe que a maldade do mundo também nos apavora e por isso falamos de Deus somente entre 4 paredes. Oremos para que Deus nos liberte desse medo e que consigamos ouvir com alegria o chamado de Jesus aos seus discípulos: “Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”. (Mateus 16.24)

Amém
 

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