Vida Celebrativa - Ano Eclesiástico


ID: 2654

Colossenses 3.1-4

Auxílio Homilético

07/04/1996

Prédica: Colossenses 3.1-4
Leituras: Atos 10.34-43 e Mateus 28.1-10
Autor: Marli Lutz
Data Litúrgica: Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 07/04/1996
Proclamar Libertação - Volume: XXI


1. Introdução


Colossos era uma pequena cidade do interior da Ásia Menor, situada a uns 200 km de Éfeso. Se em tempos passados Colossos tinha sido um importante centro de artesanato de lã, agora não passava de uma cidade decadente. Paulo não a conheceu pessoalmente. O que soube a seu respeito, recebeu como informação verbal através de Epafras.

A comunidade era formada principalmente por ex-pagãos. Tensões e conflitos levaram Paulo a interferir na comunidade, através desta carta. A carta tem um estilo muito próprio; limita-se praticamente a uma resposta a problemas bem concretos.

2. Observações sobre o Pano de Fundo

Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as cousas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas cousas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então vós também sereis manifestados com ele, em glória.

Este texto deve ser lido tendo como pano de fundo o todo da carta. Seu tema principal é a advertência contra os pregadores de uma (falsa) filosofia. Consideravam-se como filosofias as doutrinas religiosas que apresentavam outras mediações salvíficas. Qual é o conteúdo dessa filosofia? Comblin o sintetizou da seguinte forma:

a) A filosofia refere-se a várias potências (potestades). As potências são seres celestiais que não pertencem a este mundo. Podem ser os astros, ou então forças que geram sua energia e sua capacidade de interferir na terra. Acreditava-se que essas potências celestiais, além de dirigirem o mundo material, lambem presidiam os sistemas de ritos, liturgias, observâncias religiosas. Até no judaísmo menos ortodoxo esses conceitos/sistemas religiosos tiveram muita aceitação. Havia certa identificação entre as potências e os anjos.

b) Essa filosofia requer um conhecimento superior para a compreensão dos mistérios e das forças ocultas. Pregadores que aparecem na carta como hereges, certamente falavam desses conhecimentos misteriosos. A palavra conhecimento aparece diversas vezes: Cl 1.9-10 27-28; 2.2-3).

c) Essa filosofia incluía ritos e práticas tidos como meios de acesso ao conhecimento superior. Estão incluídos aqui ritos de passagem, de purificação, comida, bebidas, jejuns ou celebrações de dias específicos dedicados às potências, de acordo com o ritmo da lua ou do ano.

Para Paulo essa filosofia de vida é altamente contraditória com a fé cristã. Ele a rejeita totalmente. Mas, de uma forma muito hábil, a desmascara, valendo-se da forma de comunicação empregada por ela mesma. Isto explica a sua linguagem nesta carta e especificamente neste texto. Essa filosofia não é compatível com a fé cristã por várias razões. A fé cristã é exclusiva. Confessa um Deus único (triúno), que não depende de outras mediações divinas nem se expressa por meio de outra doutrina religiosa.

A pessoa crente se entrega exclusiva e integralmente a Deus; é uma atitude que requer compromisso e fidelidade no cotidiano da vida. A escolha quem faz é Deus em Jesus Cristo. Assim a pessoa que crê passa a pertencer a um corpo, uma comunidade: o povo de Deus.

A fé cristã é vivida comunitariamente, vinculada a um compromisso ético. Outra característica é que ela não é um espaço desvinculado da vida, que serve para preencher necessidades religiosas. Nem é refúgio espiritual para fugir do mundo material.

No mundo romano pagão, havia uma mistura de religiões provenientes das diferente regiões do império. Dava para escolher à vontade, tirando de cada uma o que mais convinha, de acordo com o gosto pessoal. Essas religiões não exigiam, necessariamente, um compromisso definitivo. Nem estavam interessadas nos problemas concretos e nas suas transformações. Antes invocavam a fuga do mundo material para buscar um mundo melhor no além, num ideal imaginário. Para isto era necessária a busca do conhecimento superior através da perfeição humana. Os interesses estavam voltados para o outro mundo, onde se alcançaria a compensação pelas duras realidades sofridas aqui.

A preocupação se concentrava nas possibilidades de conseguir acesso a essas experiências espirituais e celestiais. Diante disso se pode concluir que essas religiões não eram deste mundo, mas estavam a serviço deste mundo. Transformavam este mundo, no caso o Império Romano, num opressor sagrado, dirigido pelas potências celestiais e espirituais deste outro mundo, sobre o qual o ser humano não tem nenhuma influência.

Paulo inverte esses esquemas de pensamento. O argumento que usa é Cristo, único mediador. Em Cristo toda essa especulação celestial perdeu o seu sentido. A cruz, anulou o poder das potestades. O mundo foi vencido, derrotado. O grande sinal desta vitória partiu do túmulo vazio e continua acontecendo na vida que não é deste mundo. Porque de fato este mundo é por demais ineficaz, limitado c mesquinho. Os projetos deste mundo, que se nutrem de tantos espiritualismos, sabem tão bem multiplicar dores e sofrimento. Estão muito distantes do Domingo da Páscoa, por mais que sejam conhecedores de tantas filosofias prenhes de sabedoria e conhecimento. Por mais que estejam em busca do mundo superior, estão muito distantes do conhecimento de Deus.

3. O Texto

1) A fé cristã celebra uma nova vida a partir do Cristo ressurreto. A ressurreição é o sinal maior da libertação de todos os poderes que escravizam e oprimem. Se antes os colossenses estavam submetidos às ordens das potestades, agora já não vivem sob seu senhorio. A sua morte para os poderes do mundo marca o início desta vida junto com o Ressurreto. Daí vem a necessidade de buscar as coisas lá do alto. São as coisas que vêm de Deus, que, lá de cima, ilumina toda esta realidade.

2) Essa nova humanidade agora reconciliada com Deus não está mais presa aos sistemas e conceitos elaborados por este mundo. Esta experiência a motiva na busca de caminhos e projetos que abram possibilidades de vida, que sejam construídos a partir de um horizonte maior, que resgata a dimensão do eterno e relativiza o passageiro. Essa ruptura leva a uma grande mudança de rumo. Ela acontece a partir do Batismo, na morte e ressurreição com Cristo. E ali nos é revelado que a vida não é o que somos de fachada. A vida tem uma dimensão escondida. Mas esse lado escondido não é o que os gregos entendiam. O que está escondido será revelado. A revelação se dá em Jesus Cristo e leva à participação na ressurreição total e definitiva.

4. Sugestão Prática

O texto sugere algo mais do que uma pregação no culto de Páscoa. Poderemos fazer uma experiência daquilo que ele expressa, não só com a audição, mas com todos os sentidos.

Para a sugestão que se segue valho-me da experiência que a Paróquia de Alto Jatibocas está vivenciando na madrugada da Páscoa. Acredito que esta paróquia tem prazer em compartilhar conosco sua valiosa experiência: trata-se de uma caminhada pascal antes do amanhecer. Os diferentes grupos partem de seu local de moradia e se encontram em determinado local, onde se dá o início da caminhada até a igreja para a celebração da ressurreição de Jesus. Durante a caminhada se canta, se ora, se busca, na comunhão com os/as caminhantes, a grande esperança da libertação, simbolizada pela vela acesa que cada caminhante deverá levar.

Na caminhada podem ser lembrados diferentes momentos de nossa vida, de dor e sofrimento, de escravidão e opressão. Lembrar das pessoas doentes e marginalizadas.

A celebração na igreja/capela buscará vivenciar um momento de graça e de compromisso com ações conseqüentes em favor da vida. Nesta celebração, quando o dia está amanhecendo, podem ser realizados batismos.

É importante a participação de uma equipe de liturgia.

5. Bibliografia

BRAKEMEIER, Gottfried. Mundo Contemporâneo do Novo Testamento. São Leopoldo, Publicações EST, 1984. vol. 1.
COMBLIN, José. Epístola aos Colossenses e Epístola a Filemon. Petrópolis, Vozes; São Leopoldo, Sinodal; São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1986. (Comentário Bíblico do Novo Testamento).


Autor(a): Marli Lutz
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Páscoa

Testamento: Novo / Livro: Colossenses / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 4
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1995 / Volume: 21
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 13320

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