O batismo nos lembra de celebrar o amor. Celebramos no tempo e no espaço. O tempo nos lembra do chamado à oração. E isso nos lembra que a igreja de Jesus Cristo nasce no Pentecostes. E é por isso, que celebramos esse momento de forma especial como o aniversário da igreja. Mas também gosto de imaginar o Pentecostes como um momento no qual as pessoas compreendem que ela é composta de muitos membros e que cada pessoa é importante. Pentecostes como um momento de compreender que somos muitos, somos diferentes e que cada pessoa tem sua própria cultura, forma de ser e língua etc.
Em contraposição à história do Pentecostes, temos na Bíblia a história da torre de Babel. Sempre que ouvia essa história no Culto Infantil, eu ficava imaginado a mais alta torre construída pelo ser humano. Onde uma única língua era falada e as pessoas se entendiam. Mas tudo isso veio abaixo por causa da maldade humana, por não colocarem Deus no centro de suas vidas. As pessoas imaginaram que construindo uma torre tão alta e bela haviam alcançado a perfeição e não precisariam mais de Deus. Tudo isso, representou uma grande ilusão. Acontece que a torre de Babel foi abandonada. Nunca foi concluída. As pessoas que ali estavam começaram a não se entender mais. Cada pessoa falava uma língua e se dispersaram por outros lugares. Um não entendia o que o outro está dizendo, relato o texto bíblico de Gênesis 11.
As pessoas que já tiveram a oportunidade de viajar ou ter contato com pessoas de outros países podem se sentir dentro de uma Babel. Várias pessoas de lugares diferentes, com experiências de vida diferentes, com linguagens e culturas diferentes. Esse é o mundo no qual vivemos. Na última oportunidade que tive de fazer uma viagem ao exterior, pude acompanhar ao longo de duas semanas o encontro do Conselho Mundial de Igrejas na Tanzânia, no continente africano. O primeiro estranhamento foi durante a viagem de avião até a capital da Etiópia. Com um alfabeto que não é latino e com uma língua que não era nem o português e nem o inglês, francês, alemão ou espanhol não pude compreender, nem entender o que as pessoas falavam em sua língua. Apenas quando falavam em inglês pude compreender o que se passava. No encontro estive com pessoas de muitos países e o que se ouvia no dia a dia do encontro era uma verdadeira festa de Pentecostes, onde várias línguas e culturas se encontraram.
Mas até mesmo entre as pessoas que falam português há diferença de cultura e linguagem. Enquanto escrevo essa parte, penso na eterna briga se é biscoito ou bolacha. Ou ainda se é aipim, mandioca ou macaxeira. Não irei tentar responder se eu como biscoito ou não, mas lá na casa da minha mãe sempre tem aipim. E aí nos vem justamente o Pentecostes e o Espírito Santo de Deus (Atos 2). E lá estavam as/os discípulos reunidos e ouviram um vento impetuoso, e o Espírito Santo concedeu a cada pessoa uma nova linguagem. O texto bíblico diz que as pessoas ficaram cheias do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, e cada pessoa ouvia falar de Deus na sua própria língua.
O milagre de Pentecostes tem relação com o fato de que o ser humano tem a capacidade de compreender e aceitar a diferença. Mas, por vezes, as pessoas preferem viver numa torre de Babel. Afastando as pessoas que são diferentes ou que pensam e agem de forma que “não concordam” ou entendem. E infelizmente isso pode acontecer também na igreja, quando entre as pessoas não se consegue ouvir, dialogar e respeitar ao próximo. O que não nos damos conta é que ao rejeitar o outro, o diferente, estamos afastando de nós o Espírito Santo. Estamos afastando o próprio Deus.
Ao refletir sobre a minha própria experiência, consigo enxergar o agir do Espírito Santo. Pois mesmo que eu não falasse ou compreendesse uma linguagem, uma vivência cultural ou a realidade de vida de uma pessoa, eu conseguia enxergar ali a força do Espírito Santo. Conseguia ver ali, na diversidade de línguas e culturas, a manifestação de Deus. Pois, ali no meio do povo havia amor e respeito. E a cada dia se celebrava o amor de Deus. Ser igreja de Jesus Cristo é ser uma igreja onde se falam várias línguas, onde se encontram várias pessoas, e onde podemos nunca concordar se é bolacha ou biscoito. Mas é onde nos reunimos para vivenciar e aprender sobre o amor de Deus (Gl 3.26-28).