Vida Celebrativa - Ano Eclesiástico


ID: 2654

1 Pedro 3.13-22

Auxílio Homilético

17/05/2020

 

Prédica: 1 Pedro 3.13-22
Leituras: João 14.15-21 e Atos 17.22-31
Autoria: Vera Maria Immich
Data Litúrgica: 6º. Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 17/05/2020
Proclamar Libertação - Volume: XLIV

Aparta-te do mal e faze o bem

1. Introdução

O presente subsídio quer iluminar o 6º Domingo da Páscoa. Como diz Teobaldo Witter: “Páscoa não é só um domingo, mas é um período que compreende sete domingos. É um período do Ano Litúrgico que corresponde ao primeiro Domingo da Páscoa e vai até Ascensão do Senhor. Temos, portanto, 40 dias de Páscoa do Senhor. Certamente, sonhamos e vivemos Páscoa todos os dias, pois, a realidade da Páscoa do Senhor é a nossa esperança eterna”. Deus vem revelar-se à comunidade reunida por meio de sua santa palavra. Neste domingo, três textos querem nos comunicar seu amor e sua orientação.

Em Atos 17, Paulo se prepara para pregar em Atenas e sabe que não será fácil. Ele terá que enfrentar os estoicos, que davam ênfase à lógica e à razão e acreditavam que Deus fosse uma pessoa; os epicureus acreditavam que a vida surgiu ao acaso. E nenhum desses grupos acreditava na ressurreição. Logo, Paulo, que pregava a esperança na ressurreição e vida eterna, devia preparar-se para enfrentar resistência.

No texto de João, Jesus diz que vai subir para junto do Pai, deixando o Espírito Santo com os seus discípulos como mediador. Ele nos apresenta as várias funções do mediador como aquele que é advogado e protetor em quaisquer circunstâncias. Ele é santificador.

No texto de nossa pregação, 1 Pedro 3.13-22, encontramos orientações para um caminho de fidelidade a Deus, orientado para o bem e evitando o mal, para o testemunho humilde em meio às tribulações.

2. Observações exegéticas

Na compreensão de alguns autores, essa carta foi escrita primeiramente às pessoas cristãs que foram expulsas de Jerusalém e dispersadas pela Ásia Menor nos anos 62 a 64 d.C. Seu conteúdo nos impacta pela semelhança com nossos tempos. É palavra viva e dinâmica, orientação às primeiras pessoas cristãs e para nós hoje. Pedro está encorajando e animando aquele grupo de pessoas cristãs que sofria perseguições. A perseguição iniciou em Jerusalém pelos judeus e foi aumentando e se expandindo até o descalabro de Nero César, que acusou as pessoas cristãs de incendiar Roma, quando, na verdade, acredita-se que ele próprio tenha mandado fazer isso.

Pedro já havia sido preso, torturado e nada o havia quebrado em sua esperança e fé no ressurreto. Ele, que outrora havia fraquejado e negado Jesus Cristo, agora estava firmemente alicerçado nele, estava assumindo sua vocação de pedra, Pedro, profetizada por Jesus (Jo 1.42).

O texto reafirma um dos grandes consolos que encontramos em Cristo: independentemente do que acontece, recebemos sempre força, perdão e vida eterna. Portanto sem medo e sem alarde, mas seguindo em frente com confiança. Pedro exorta ao testemunho coerente e manso no mundo conturbado e violento. Lembra que santificar o nome de Jesus é honrá-lo em meio ao sofrimento e à angústia, em meio às tentações de retribuir na mesma proporção quando nos sentimos agredidos.

A mansidão da qual nos fala Pedro motiva aquelas comunidades da Ásia, Capadócia, Galácia e Bitínia a anunciar o evangelho, renunciando a radicalismo e fanatismo, nos permite uma ponte aos dias atuais. Coerência e constância no anúncio, santificando o nome do Senhor e não o envolvendo na promoção do ódio, da violência e da perseguição. No mundo passamos por provações e sofrimentos, sendo esses os momentos mais propícios ao testemunho e ao fortalecimento na fé.

A dádiva do batismo é trazida como alicerce de nossa pertença a Deus e nossa purificação. Não estamos sós neste mundo, mas além de pertencermos a Deus, também pertencemos a uma grande e, às vezes, conflituosa família estendida, qual seja, as pessoas batizadas no Senhor. E ao ascender ao céu, Jesus está à direita do Deus Pai, revelando a autoridade absoluta de Deus que está em todos os lugares.

3. Meditação

A pregação poderá ser orientada por uma estrutura básica:

– Relacionar aspectos do texto com a atualidade.

– O que significa testemunhar e resistir hoje?

– O que promove o testemunho e a resistência?

Vivemos tempos caóticos no mundo e no Brasil. Assistimos estarrecidos ao crescimento do antissemitismo, à perseguição de pessoas cristãs no mundo, ao conflito Israel x Palestina com envolvimento mundial, direitos humanos e trabalhistas sendo relativizados em nome da concentração do capital. Enquanto um seleto grupo enriquece cada vez mais, um enorme contingente humano padece de fome, de falta de água potável e de moradia digna. Uma vida humana tem valor diferente, dependente do contexto onde ela nasce, seja país, família ou até continente. Uma tragédia na África, por exemplo o ciclone que atingiu Moçambique em 2019, varrendo centenas de vidas, e o incêndio na igreja/monumento histórico de Notre Dame, em Paris, nos impactaram de maneiras diferentes. Os dois eventos invadiram nossos meios de comunicação com peso diferenciado e reuniram recursos financeiros para a reconstrução com diferença incomparável. Notre Dame deve ser reconstruída e a África não deve ser abandonada. Não temos que optar entre uma reconstrução e outra. Reunimos recursos para ambas e devemos fazê-lo.

Todavia, do caos emerge a possibilidade do novo. Da denúncia ao anúncio. Orar e agir localmente com mais afinco e fé, com mais confiança e humildade, com mais esperança em meio à desesperança. Precisamente esse contexto fala e grita com nossos valores e nossa fé. É o tudo ou nada que marca o nosso desalento devido às dificuldades crescentes ou que reafirma nossa fé e nossa esperança.

“Deus sussurra em nossos ouvidos por meio de nosso prazer, fala-nos mediante nossa consciência, mas clama em alta voz por intermédio de nossa dor; este é seu megafone para despertar o homem surdo” (C. S. Lewis). As adversidades são oportunidades para testemunharmos nossa fé e para sermos instrumentos da revelação do amor de Deus a este mundo em trevas e guerras, em lutas desumanas e em corrupção. É para este mundo que Jesus quer se revelar, quer lembrar o que ele ensinou. Oportunidade ímpar para fazermos o que é certo, mesmo quando tantos optam pelo mais fácil e vantajoso.

É oportunidade de reconhecer, testemunhar e viver de acordo com o senhorio de Jesus Cristo independente dos outros e deste mundo. É ser aquele  pássaro que crê que consegue apagar o fogo na floresta, embora seja pouca a água que consegue transportar; ele continua incansavelmente, porque acredita que essa é sua missão. Deus saberá o impacto dessa ação e também sua mais sincera intenção.

Não importa o que os outros fazem, importa o que eu faço. Não importa sequer se me provoca sofrimentos, talvez deboche por parte do mundo e de seu poder destruidor e aniquilador de toda esperança e de todos os intentos, que não levam seu carimbo e sua credencial de sucesso. Zelar pelo que é certo e estar sempre pronto para testemunhar e testificar com esperança, alegria e mansidão, não como fanáticos donos da verdade e da razão, mas como ovelhas humildes que reconhecem que sua força e seu alicerce não vêm de si mesmos, mas do Senhor que chama e capacita. Para que dessa forma não somente o que cremos, mas a forma e o jeito também sejam parte desse testemunho. Porque convém sofrer fazendo o que é certo e justo do que ser condenado por fazer o que é fácil e inadequado.

Passar por provações, encontrar dificuldades, muitas vezes é necessário e Deus o permite para que aprendamos e desenvolvamos persistência e humildade. Nem tudo sempre estará ao alcance de nossas mãos ou temos o caminho para alcançar. Abrir estradas e aplainar colinas para chegar ao objetivo pode ser necessário para crescermos na fé, na esperança e na humildade.

O início do texto pode ser a parte final de nossa pregação, o arremate: quem há de vos maltratar se fordes zelosos do que é bom? Mas ainda que... Fazer o bem sem risco de sofrer é cômodo e nos convence, mas não é garantia, e nem por isso devemos desistir. Persistir, convictos de que, sem importar as adversidades, é o próprio Cristo que concede força, perdão e vida eterna. Essa força se transforma em persistência criativa, o perdão, em alento renovador, mesmo em meio a erros e desacerto.

Gotffried Brakemeier, em seu livro “Fazer o bem faz bem”, lembra que somos criados para o bem, para importar-nos com o coletivo, com a comunidade. Nosso bem-estar e felicidade dependem do outro, do grupo, da comunidade e da sociedade. Como então não se importar com o sofrimento alheio, se dele também depende meu bem-estar? O autor nos lembra de que o Pai de Jesus Cristo não tolera nem o ódio aos inimigos, aos maus, aos incrédulos, porque quer reuni-los em uma só família. Quer nos reunir em uma só família. Pai e mãe não abandonam filhos, nem aqueles que se desviaram, mas também para esses têm uma palavra de arrependimento e restauração e o mais profundo desejo de reuni-los em família.

4. Imagens para a prédica

O ouro e a prata são depurados pelo fogo, mas é o Senhor que revela quem as pessoas realmente são (Pv 17.3). Ser depurado é ser transformado e ter a oportunidade de ser nova criatura. Ouro e prata precisam perto de mil graus para derreterem, precisam de mãos habilidosas e com conhecimento para realizar essa manipulação/transformação. Precisam também de uma razão e objetivo para fazê-lo. Não é esporte. Envolve risco e perigo. Transformar esses metais em uma linda joia requer técnica e amplo e milenar conhecimento, talvez facilitado pela modernidade, mas que em sua essência permanece igual.

O ser humano, para ser transformado em nova criatura, também demanda tempo, técnica e conhecimento. Demanda mãos habilidosas e muitos responsáveis, porque ele não é somente matéria a ser transformada, mas história, sentimentos, sonhos, expectativas e o sopro do Espírito Santo de Deus, podendo quebrar se não manuseado com cuidado.

5. Subsídios litúrgicos

Hinos

LCI 33: Eu quero ser
LCI 558: Haja paz na terra
LCI 165: Estou pronto, Senhor

Bênção

Que o Deus criador nos recrie para a comunhão e a partilha.
Que o Filho salvador nos salve do egoísmo e do desamor.
Que o Espírito Santo nos sopre para a fraternura dos filhos e filhas de Deus.
Vão na paz e no amor, no abraço, na salvação e no sopro do Trino Deus.
Amém!

Bibliografia

BÍBLIA DE ESTUDO DA REFORMA. Sociedade Bíblica do Brasil. Barueri: São Paulo, 2017.
BRAKEMEIER, Gottfried. Fazer o bem faz bem. São Leopoldo: Sinodal, 2019.
WITTER, Teobaldo. 6º Domingo da Páscoa: 1 Pedro 3.13-22. In: Proclamar Libertação. São Leopoldo: Sinodal; EST, 2013. v. 38, p. 188-194.

 


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Autor(a): Vera Maria Immich
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 6º Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Pedro I / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 13 / Versículo Final: 22
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2019 / Volume: 44
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 54659

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Fé e amor perfazem a natureza do cristão. A fé recebe, o amor dá. A fé leva a pessoa a Deus e o amor a aproxima das demais. Por meio da fé, ela aceita os benefícios de Deus. Por meio do amor, ela beneficia os seus semelhantes
Martim Lutero
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Entrega os seus problemas ao Senhor e Ele o ajudará.
Salmo 55.22
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