Quaresma - Tríduo Pascal - Tempo Pascal



ID: 2656

Vivendo a nova dimensão

A bússola aponta para ações concretas a partir da Ressurreição

15/04/2018

... Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: — Que a paz esteja com vocês! 37 Eles, porém, ficaram assustados e com medo, pensando que estavam vendo um espírito. 38 Mas ele lhes disse: — Por que vocês estão assustados? E por que surgem dúvidas no coração de vocês? 39 Vejam as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo. Toquem em mim e vejam que é verdade, porque um espírito não tem carne nem ossos, como vocês estão vendo que eu tenho. 40 Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. 41 E, por não acreditarem eles ainda, por causa da alegria, e como estavam admirados, Jesus lhes disse: — Vocês têm aqui alguma coisa para comer? 42 Então lhe apresentaram um pedaço de peixe assado, 43 e ele comeu na presença deles. 44 A seguir, Jesus lhes disse: — São estas as palavras que eu lhes falei, estando ainda com vocês: era necessário que se cumprisse tudo o que está escrito a respeito de mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. 45 Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras. 46 E disse-lhes: — Assim está escrito que o Cristo tinha de sofrer, ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia, 47 e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando em Jerusalém. 48 Vocês são testemunhas destas coisas.” ‭‭Lucas‬ ‭24.36b-48‬‬‬‬‬‬‬ (NAA)

Prezada comunidade,
por que a festa do Natal é tão popular, mesmo entre pessoas que não curtem crer em Cristo?
Provavelmente porque o nascimento de uma pessoa sempre vai despertar expectativas e representar esperanças.
Por que a Sexta-feira da Paixão, embora nada popular, é facilmente compreendida quanto ao seu significado?
Provavelmente porque todos entendemos ou imaginamos entender o que representa uma morte cruel.
Por que a Páscoa é tão popular e festejada com símbolos que não combinam, como coelhos pondo ovos de chocolate?
Por que Pentecostes é facilmente compreendido entre as pessoas que conhecem um pouco a respeito das histórias cristãs, pelo menos lembrando das línguas de fogo?
Quem consegue compreender o significado prático da ressurreição de Jesus dentre os mortos, que passou a agir e transitar entre seus discípulos e uma pequena multidão depois de ter sido sepultado?
Certamente algumas pessoas logo vão reagir dizendo: a gente precisa crer e não compreender. Crer no impossível e no improvável.


Uma nova visão
Enquanto a história da nossa vida e da humanidade vai passando, enquanto comemoramos datas, vamos somando anos e experiências. Com naturalidade dizemos que há fatos acontecidos aC – antes de Cristo – e aqueles que aconteceram dC – depois de Cristo. Tão somente isto já indica que a humanidade reconhece um antes e depois dos eventos que envolveram este homem de Nazaré, chamado de Jesus, que recebeu o título de Cristo, o prometido Messias. 

Naquele dia da Páscoa havia uma total sensação de trevas entre as pessoas que seguiam o Cristo Jesus de Nazaré. Não recordaram das palavras evangélicas de Isaías: “Aquele que anda em trevas, sem nenhuma luz, confie no nome do Senhor e se firme sobre o seu Deus.” Muito menos poderiam saber o que Paulo escreveria décadas mais tarde: “Ele nos libertou do poder das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado,” (Is‬ ‭50.10; Cl‬ ‭1.13 – senhas do dia 14/04).‬ Não havia mais Jesus. ‬‬Ninguém bradava: Jesus Vive!

A resposta vem através de um espírito – “Jesus apareceu no meio deles” – que provoca susto e medo. Jesus declara PAZ! Onde havia dúvidas – será um fantasma? – este ente saúda a todas as pessoas reunidas de forma tradicional e conhecida entre os israelitas. Jesus vai pavimentando aquele caminho da fé que ajuda a crer em coisas improváveis e inexplicáveis. Jesus abre uma nova visão para dentro de uma nova dimensão.

“Vejam as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo. Toquem em mim e vejam que é verdade, porque um espírito não tem carne nem ossos, como vocês estão vendo que eu tenho.” (v.39) O ressurreto tem mãos e pés, pode ser tocado e sentido. 

Consequência prática de tudo isso: de agora em diante o mundo não mais poderá falar de um Cristo derrotado e defunto. Ele está vivo! O Salvador está vivo! Cristo está vivo! Agora vemos seus pés e mãos multiplicados entre as pessoas que o seguem, e seu corpo, tangível, reproduzido nas ações em favor da vida em todos os lugares, repreendendo e denunciando todos os poderes da morte.

O meio de compreensão
Como ainda não conseguissem entender o que estava acontecendo, como se não bastasse o fato de mostrar pés e mãos que foram feridos pelos cravos da cruz, como se não bastasse verem seu corpo ferido pela lança do soldado e a cabeça cravejada pelos espinhos de Sua coroa – mais uma prova é necessária.

Me permitam uma pergunta implicante: “Fantasmas comem?” 

Mais uma vez Jesus se reúne em torno da mesa para demonstrar quem Ele é. Tudo novamente começa ao redor de uma mesa. Era uma clara demonstração da proximidade que Jesus faz questão de ter com as pessoas que realmente fazem questão de ter proximidade com Ele.

O partir de pão (At 2.46s) é, no caso deste texto, “um pedaço de peixe assado”. A refeição faz parte desta mostra de proximidade. É partindo o pão e o peixe ao redor da mesa que se estabelece comunhão e crescimento entre pessoas que querem proximidade. Quem não lembra dos bons tempos em que se faziam piqueniques sem medo e com toda alegria?! Invariavelmente essas experiências evocam paz (mesmo que uma ou outra vez as formigas tenham estragado tudo; afinal, piquenique sem formiga não é piquenique!). Quando Jesus desejou “ — Que a paz esteja com vocês!” a materializou “na comunhão de mesa e no olhar para as misérias do outro como fonte inesgotável de testemunho e fé. (...) Ele chama os presentes para apalpar suas marcas, olhar e sentir a superação das amarras de dor e sofrimento.” (Immich, PL 42, p.149)

Que mais falta para que a plenitude do Reino de Deus esteja estabelecida? O que ainda prendia aquela gente toda em Jerusalém? É hora de testemunhar!

A bússola para o caminho
A ressurreição do Messias é prova inconteste de que veio não para ser derrotado, e sim para ser ressuscitado, seguido e testemunhado. Mas como isso pode acontecer com segurança dentro de um mundo que ainda vive a experiência sinistra, cada vez mais de mau aspecto, da escuridão? Como saber o que fazer e para onde ir?

Falávamos disso há poucas semanas neste púlpito e o tema retorna neste texto prescrito para a pregação neste 3º Domingo após a Páscoa: a Palavra. A Palavra abre o entendimento. “Jesus lhes disse: — São estas as palavras que eu lhes falei, estando ainda com vocês: era necessário que se cumprisse tudo o que está escrito a respeito de mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.” (v.44).

A Escritura Sagrada, como uma bússola, aponta para tudo o que Jesus fez e ainda fará. Os textos do Antigo Testamente assumem agora um novo sentido a partir do testemunho da ressurreição. “As coisas antigas já passaram, eis que se fizeram novas”, disse o apóstolo Paulo mais tarde (2Co 5.17).
Os textos do AT e NT são didáticos. Eles têm por objetivo instruir e facilitar o ensino ou a aprendizagem; servem para ensinar, educar ou aprender. A fé resulta desta didática usada pela palavra de Deus. Esta fé se torna ativa no amor.

Portanto, a Escritura que não indica para uma vida prática de fé, é uma escritura vazia e sem sentido, embora possa estar eivada de lindas palavras. A Palavra leva à fé que promove o amor, o perdão, a compreensão e a compaixão – não uso aqui a palavra “tolerância” porque a considero fria e distante. E a fé provoca marcas. “...são marcas do amor que querem ensinar de maneira concreta, sem margem alguma para dúvida.” Estas marcas de Jesus “são uma prova indelével desse amor.” (id. ibid, p. 150)


Conclusão
Prezada comunidade, o texto termina dizendo:

“Vocês são testemunhas destas coisas.” (v.48) Com esta afirmação de Jesus, que no Ev. de Mateus se concretiza nas palavras da grande ordem para a ação missionária da Igreja Cristã, é decretado que a humanidade está vivendo uma nova dimensão. É decretado que a comunidade da fé em Cristo tem nova mensagem a anunciar.

Natal, Paixão, Páscoa, Pentecostes passam a ter uma nova ordem, um novo significado, com a Ressurreição. 

O embate raivoso que percebemos ao nosso redor nestes dias conturbados são tentativas de fazer uma força sobrepujar a outra e aniquilar com a mensagem da ressurreição. Palavras duras são publicadas aos quatro ventos como se cada pessoa tivesse sua verdade particular para ser a única válida para todos. Com isso, na prática, a mensagem da ressurreição é deixada de lado para que prevaleçam os projetos de poderes pessoais. No entanto, não fica dúvida: o reino de Deus com seus valores prevalecerá porque nem a morte pode nos separar do amor de Cristo. Ele ressuscitou! 

A nossa bússola aponta para o lado da vida, da vida em Cristo e com Cristo. Vamos fazer valer a nossa bússola.

Desafia nossa vontade de tua palavra cumprir;
ajuda-nos a, obedientemente, realizar as tuas obras;
quando fraquejarmos, nos dá forças.
Louvamos a ti, Senhor.

Amém.


Autor(a): Pr. Rolf Rieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Martin Luther (Centro-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 24 / Versículo Inicial: 36 / Versículo Final: 48
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 46811

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Senhor, tu és bom e compassivo, abundante em benignidade para com todos os que te invocam.
Salmo 86.5
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Ainda não somos o que devemos ser, mas em tal seremos transformados. Nem tudo já aconteceu e nem tudo já foi feito, mas está em andamento. A vida cristã não é o fim, mas o caminho. Ainda nem tudo está luzindo e brilhando, mas tudo está melhorando.
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