Quaresma - Tríduo Pascal - Tempo Pascal



ID: 2656

PRÉDICA PARA O 2º DOMINGO DA QUARESMA

Lucas 13.31-35

18/02/2016

Lucas 13.31-35

Irmãos e irmãs em Cristo!

A passagem bíblica faz parte de um conjunto de textos, que inicia em Lucas 9.51 e vai até Lucas 19.17, denominado: Relato do caminho de Jesus para Jerusalém. Nós celebramos hoje o 2º Domingo da Quaresma e somos convidados a fazer esse caminho com Jesus, caminho este que passa pela cruz e chega ao seu objetivo na manhã da Páscoa. Celebrar Quaresma é caminhar com Jesus nos passos da Paixão!

Conforme a passagem bíblica, Jesus é advertido por alguns fariseus de que o Rei Herodes quer matá-lo, assim como fizera anteriormente com João Batista. Porém, Jesus não se deixa intimidar e persiste no seu caminho a Jerusalém - a cidade que mata profetas e apedreja os mensageiros de Deus (V.34). Jesus dá a entender que sabe muito bem o que o espera. Além disso, ele aponta para o 3º dia (v. 32), numa clara alusão à manhã da Páscoa (ressurreição). Não seria a primeira vez que alguém perderia a vida por anunciar a vontade de Deus em meio à corrupção, à mentira, à injustiça e à idolatria reinantes na cidade, que deveria ser a morada de Deus entre as pessoas. Porém, Jesus anuncia uma novidade: Ressurreição - O agir amoroso de Deus! Deus ama a humanidade, apesar do pecado reinante.

Ao se referir ao Rei Herodes, com toda sua violência e iniquidade, Jesus o compara a uma raposa. A raposa é um animal esperto. Ela faz o possível e quase o impossível para abocanhar a galinha. Quando perseguida pelos cães, a raposa sabe se fingir de morta. Ela é astuta e enganadora. Ela costuma correr em círculos ao redor do galinheiro até que uma galinha fique tonta e caia do poleiro tornando-se presa fácil. Jesus compara com raposas Herodes e todos os que oprimem e exploram as pessoas. As pessoas que se deixam enganar e desviar, com pintinhos indefesos (com ovelhas sem pastor...)

Quando os pintinhos estão em perigo, eles devem ouvir o chamado da choca e correr para debaixo das asas dela. Jesus expressa um sentimento de amor para com as pessoas tal qual a choca, que protege sua ninhada. O desejo do Senhor é abraçar cada pessoa e envolvê-la com carinho e cuidado. Tal qual a choca, que se põe à frente de seus pintinhos para protegê-los e defendê-los, Jesus não recua ante as ameaças de Herodes. Jesus convida as pessoas a buscar refúgio nele e lamenta a incredulidade de Jerusalém, que não quer reconhecer a salvação trazida por ele. O desfecho dessa história nós conhecemos = Sexta-Feira da Paixão!

Nessa sua ação, Jesus se apresenta como o pastor que cuida de um rebanho - de um rebanho de pessoas desprezadas, à margem da vida, indefesas. Seu coração amoroso bate forte pela cidade de Jerusalém. Em Lucas 19.41-45, Jesus volta a lamentar e chora pelo povo que habita Jerusalém, a cidade santa, escolhida e amada por Deus. Jesus lamenta que a cidade, que já fora cruel com os profetas no passado, continue se fechando para a oferta do Evangelho da graça e da paz. Jesus lamenta que Jerusalém, seu povo e suas autoridades, se negam a aceitar a proteção e o aconchego do próprio Deus.
Como uma choca, que protege sua ninhada diante dos ataques da raposa e a acolhe debaixo de suas asas, Deus oferece acolhida e proteção a todos nós.

Nisso estão incluídas as cidades, as comunidades, as famílias, as pessoas. E qual é a resposta que nós damos a este chamado?
Inicialmente, eu afirmei que Celebrar Quaresma é caminhar com Jesus rumo a Jerusalém. Quando vamos de carona com alguém, andamos no mesmo ritmo e tomamos a mesma direção e o mesmo sentido. Ao caminharmos com Jesus, tomamos parte de sua Paixão - aquilo que o preocupa e faz sofrer também passa a ser o nosso sofrimento; suas palavras profética contra injustiça, violência, opressão, incredulidade e idolatria também passam a ser as nossas palavras; seu amor, sua solidariedade, seu cuidado também passam a ser o nosso jeito de ser. Ao irmos com Jesus, também nós seremos chocas a defender a ninhada da astúcia das raposas, a defender o rebanho das garras dos lobos. A cidade de Jerusalém, pela qual Jesus chora, passará a ser o objeto da nossa atenção e cuidado. Não me refiro à Jerusalém geográfica, localizada na Palestina. Refiro-me à nossa Jerusalém, que também pode ser chamada de .... (Nome da cidade ou localidade local).
Jesus lança um olhar profético, porém, primordialmente amoroso sobre a cidade, sobre o lugar onde está e enxerga (identifica) todas as mazelas nele existentes: Abuso de poder, exploração, sofrimento, incredulidade, falta de condições de vida, (problemas de saneamento básico - Campanha da Fraternidade Ecumênica)... Jesus chama ao arrependimento, mas também chama ao cuidado e à proteção (assim como a choca chama seus pintinhos). Jesus não se deixa intimidar nem desviar pelas ameaças, mas segue firme no propósito de anunciar e concretizar o amor de Deus pela humanidade (João 3.16 - Lema da Semana). Jesus se sabe chamado e enviado por Deus. Por isso, ele não retrocede. Ao mesmo tempo, também saber o que espera por ele em Jerusalém.

O que nós enxergamos, quando lançamos este olhar com Jesus sobre a nossa cidade, sobre o lugar onde vivemos e agimos?
Jesus chora conosco quando ele vê tanta gente desempregada, tantas famílias sem rumo, tantos jovens sem perspectivas de futuro. Jesus chora conosco quando ele vê tanta corrupção, tantos desmandos e tanto abuso de poder. Ele chora conosco quando vê pessoas procurando restos de comida no lixo, dormindo na rua. Ele chora conosco quando vê crianças e adolescentes sendo cooptados pelo crime e possivelmente marcados para morrerem jovens. Ele chora conosco quando vê tantos casais em crise e tantas famílias destroçadas. Ele chora conosco quando vê tanta doença que poderia ser evitada e tantos doentes sem assistência.

Qual é nossa palavra profética e qual é nossa ação solidária/diaconal em relação a tudo que percebemos?
Jesus não recuou nem se desviou de Jerusalém. ele também não se desvia da nossa Jerusalém. Ele quer ir conosco. Por isso, neste tempo de Paixão/Quaresma, nós queremos redescobrir Jesus o nosso lado - Este Jesus da Paixão, que chora pela sua Jerusalém querida e chama pessoas para o seu cuidado, para a profunda expressão do amor de Deus; que faz tudo isso em meio à incredulidade de muitos, sem temer as consequências - mesmo que seja a cruz!

Que as lágrimas de Jesus venham a ser também as nossas. Que sintamos na profundidade do nosso ser a dor daqueles que, por motivo de doença, de desemprego, de migração, de fome, de solidão, de exploração, não têm mais esperança futura. Que nos sintamos chocados com o egoísmo dos que se agarram no poder, que deveriam estar a serviço dos mais fracos, mas, por corrupção e omissão, aumentam ainda mais o sofrimento do povo, sobretudo, sendo responsáveis por uma infância perdida. Que nos sintamos chocados com a hipocrisia e a idolatria existentes na sociedade. Ao aceitarmos o chamado de Jesus a caminharmos com ele - também pelos caminhos da Paixão - possamos perceber que ele não chora para si, mas que suas lágrimas são o motor, o impulso para libertar os oprimidos, para nos salvar. É o impulso para ser sua fonte de justiça, amor e paz.

Queridos irmãos, queridas irmãs!
Nós somos chamados a sermos imitadores de Cristo (Filipenses 3.17-4.1 - continuem firmes, vivendo em união com o Senhor). Somos chamados a caminhar com Cristo e indicá-lo às tantas pessoas que se encontram perdidas, sem referencial, sem orientação, sem rumo. Somos chamados a caminhar com Cristo, mesmo passando por humilhação, por incompreensão, por sofrimento, por angústia e por dor. Temos uma promessa: Aguardamos ansiosamente a vinda do Salvador, a transformação de todas as coisas, a vida de um novo céu e de uma nova terra! Essa será a nossa Páscoa. Somos testemunhas, profetas e mensageiros - tanto pelas palavras de denúncia e de anúncio e atitudes quanto por gestos e ações de amor e de solidariedade.

Quaresma: Tempo de caminhar com Jesus - também pelo caminho da Paixão!
Amém

P. Geraldo Graf
g.graf@uol.com.br
 


Autor(a): Pastor Sinodal Geraldo Graf
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 13 / Versículo Inicial: 31 / Versículo Final: 35
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 36842

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