Quaresma - Tríduo Pascal - Tempo Pascal



ID: 2656

Páscoa é tempo de... | Atos 4.32-35

2º Domingo da Páscoa

11/04/2021

 

Amados irmãos e amadas irmãs,

é bom comemorar a Páscoa. Jesus está vivo! A sua presença está entre nós. Ele é o Emanuel, o Deus Conosco, aqui, pertinho e próximo. Como isso é bom! Jesus Cristo não está morto. Sua sepultura está vazia. Ele vive e reinará para sempre. Ressuscitou com o corpo! Seu reino nunca terá fim! Reinará para sempre com paz e justiça para os seus que, agradecidos, o louvarão eternamente pelo gratuito benefício da ressurreição eterna concedida àqueles que nele creem.

Páscoa é tempo de louvar! É momento para louvar e agradecer a Deus pela vida que nos é doada, e vida em abundância. Não precisamos mais viver encurvados em nós mesmos neste mundo, como pessoas desesperadas, desanimadas e que não veem saída para si mesmos. Ao contrário, o Evangelho nos levanta para enxergamos a graça de Deus e também para vermos o nosso próximo. Já não há mais nada a temer: até mesmo a morte foi vencida e aniquilada. Assim como Jesus, viveremos para sempre com o Senhor. Podemos nos levantar e adorar a Deus por tamanha obra a nós revelada.

Páscoa é tempo de agradecer! O que seríamos nós sem o agir de Deus? O que seríamos nós sem a ressurreição? O que seríamos nós sem a presença real do Cristo vivo? Seríamos pessoas fadadas à morte eterna e ao esquecimento eterno. Seríamos fadados a esgotar essa vida sem nenhuma esperança para depois. Seríamos fadados ao desespero e cairíamos em uma espécie de busca perigosa pela validação da própria existência. Por isso, Páscoa é tempo de gratidão! Ele venceu a morte e nele nós também a venceremos. Sabemos da nossa vida limitada neste mundo ao mesmo tempo em que cremos na salvação vindoura: o melhor está por vir! E não há outra maneira de receber tal salvação senão pela fé em Cristo Jesus. Você já agradeceu a Deus pela Páscoa? Já agradeceu que o último suspiro neste mundo leva ao primeiro suspiro na vida eterna? Como diz Francisco de Assis no final da oração a ele atribuída: “É morrendo que se vive para a vida eterna”. Gratidão, meus irmãos e minhas irmãs. Ele fez tudo por nós! Entreguemo-nos completamente a ele!

Páscoa é tempo de testemunhar! Era isso que os apóstolos faziam, conforme o texto que ouvimos anteriormente. Diz-nos o v. 33 que “os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça.” Esta maravilhosa notícia não pode ser calada! Precisa ser anunciada aos quatro cantos do mundo! Ele está vivo! Porque ele vive, podemos crer no amanhã! Esta notícia precisa ser comunicada aos ouvidos. Nem todos crerão, mas isso não pode nos impedir de anunciá-la. Esse é o nosso dever. Esta é a nossa missão. É isso que cria uma igreja missional: ela não apenas faz missão, mas é missão!

Nem sempre o testemunho é bem recebido. A palavra testemunho vem do grego μαρτύριον que significa martírio. Isso não é interessante? Testemunhar da vida pode causar a morte! Isso mesmo! Testemunhar da vida pode causar a morte! Falar da ressurreição pode levar ao martírio. Por incrível que pareça, a mensagem da vida não soa bem a alguns ouvidos, assim como incomodava muitos religiosos e muitas autoridades nos primeiros anos da Igreja Cristã. Em grande medida, testemunho também é martírio e os apóstolos souberam o que isso significa, pois, com exceção de João que morreu pela idade e Judas que já havia tirado a própria vida, todos foram mortos por causa do seu testemunho.

Esse martírio acontece ainda hoje. Infelizmente, testemunhar da preservação da vida se tornou quase um crime! “Neste assunto não se deve tocar”. Como pode que quase dois mil anos do acontecimento pascal original ainda ignoremos que a mensagem cristã é uma mensagem de vida? Mas, que vida? Uma vida digna neste mundo e uma vida eterna com o Senhor: Reino de Deus já agora e ainda não. O testemunho da Páscoa deve gerar em nós uma vontade de viver e uma vontade de manter a vida. Hoje, fala-se de salvar muitas coisas, mas já faz um ano que a vida tem sido deixada de lado. O resultado nós conhecemos: 349 mil vidas que se foram! Quer salvar-se tudo, menos as vidas, principalmente as vidas mais vulneráveis como é o caso dos idosos.

Sim! Páscoa tem a ver com isso também, pois páscoa é vida e vida em abundância: vida digna em todos os lugares da terra e uma vida digna com o Senhor que reinará para sempre com justiça e paz. É ali onde estão acontecendo mais de três ou quatro mil mortes por dia que a mensagem da vida precisa ser testemunhada com ânimo e coragem, pois os ataques certamente virão. Páscoa é tempo de testemunhar que a vida não pode ser colocada depois do dinheiro! E “ai de mim se não pregar o Evangelho”. (1 Coríntios 9.16).

Páscoa é tempo de ajudar! A mensagem da vida levada a ações que promoviam a vida. Chama-nos a atenção a maneira como Lucas descreve a administração dos bens realizada pelos primeiros cristãos. Todos ajudavam a todos. Todos eram abnegados, ou seja, não estavam presos às suas coisas, mas distribuíam seus bens conforme as necessidades que apareciam. No próximo Domingo, 18 de Abril de 2021, celebraremos o Dia Nacional de Diaconia. Compreendemos que o Dia Nacional da Diaconia é uma oportunidade de refletir com as pessoas em como elas podem, a partir de seus dons, fazer ações diaconais que contribuem para termos um mundo com mais justiça, solidariedade e paz. Através da diaconia (que é o serviço cristão) ajudamos a quem precisa. O Cristo vivo nos motiva a descruzarmos os braços e a fazermos alguma coisa. Era isso que os primeiros cristãos faziam.

Como Paróquia Ferrabraz, alegramo-nos com algumas belas iniciativas que tem acontecido. Como pastor, alegro-me ainda mais que estas belas iniciativas surgem dos próprios membros. Voluntariado e cooperação são as palavras-chave para um mundo melhor. Isso tem brotado aqui em nossa paróquia. Podemos testemunhar dos produtos que doamos ao Hospital Sapiranga quando estavam em falta e também dos cartuchos de amendoim doados em homenagem e agradecimento aos profissionais da saúde na última semana. Estas são as coisas que sabemos. Mas, com certeza, todos nós temos realizado ainda outras coisas que aqui não foram mencionadas, mas não deixam de ser importantes.

É isso! Páscoa é tempo de ajudar. É o testemunho do Cristo vivo unido à ação que levaram a igreja por seus dois mil anos de história. Se perdermos isso, perdemos tudo. Sem testemunho e ação, não há verdadeiro cristianismo. O que nos move é a fé que recebemos de Deus e que guardamos no coração com as ações que fazemos como resultado da crucificação e ressurreição de Jesus.

Páscoa é tempo de ajudar! Mas, o que é ajudar? Sabia que usar máscara já é ajudar? Higienização das mãos já é ajudar! Evitar aglomerações já é ajudar! Em muitos momentos, queremos ajudar com grandes obras. Entretanto, que grande obra seria se através das pequenas ações e dos pequenos cuidados de cada um pudéssemos nos unir para pôr fim à pandemia. Precisamos nos unir como humanidade e a Páscoa o tempo propício para falar disso, pois ele vive e por isso podemos crer no amanhã.

Páscoa é tempo de cooperar! A competição divide o mundo em ganhadores e perdedores. Já passou da hora de superarmos esta visão de mundo. Somos todos iguais e todos devemos ter pelo menos o mínimo para desenvolver uma vida digna. Isso não significa que as posses ou a própria riqueza sejam pecados. De modo algum. Porém, pecado é deixar alguém sem ter nem mesmo o mínimo que lhe garantiria uma vida digna. Crescer na vida faz parte e certamente muito do que temos nós conquistamos com muito trabalho, muito suor, muito foco. Mas isso não deve nos fazer julgar quem não conseguiu o mesmo êxito e que precisa de ajuda pra viver e não apenas sobreviver.

Hoje, a competição entre cidadãos comuns não acontece somente em quem possui maior poder e autoridade, mas em quem é capaz de consumir mais. A competição se dá através do consumo: quanto mais consumo há, mais valor a pessoa tem. O mundo que vivemos está dividido em quem consome mais e quem consome menos. A palavra status passou a definir o valor de uma pessoa. A marca de smartphone que tenho diz mais sobre mim do que meu caráter no mundo atual. E pode faltar comida na mesa, mas o celular no bolso precisa ser de marca e o carro na garagem precisa ser melhor que o do meu vizinho. No mundo da competição do consumo, somos escravizados pela necessidade de precisar demonstrar nosso status o tempo todo. Até “compramos coisas que não queremos para impressionar pessoas das quais não gostamos”1. Quanto mais consumo, mais valor tenho, pois faço a economia girar. Do contrário, sou apenas sujeira a ser descartada como inútil.

O falecido sociólogo polonês Zygmunt Bauman diz no seu livro O Mal-Estar da Pós-Modernidade: o ser humano atual

tem de mostrar-se capaz de ser seduzido pela infinita possibilidade e constante renovação promovida pelo mercado consumidor, de regozijar com a sorte de vestir e despir identidades, de passar a vida na caça interminável de cada vez mais sensações e cada vez mais inebriante experiência. Nem todos podem passar pela prova. Aqueles que não podem são a “sujeira” da pureza pós-moderna.2

Ele diz também em sua análise:

Uma vez que o critério da pureza é a aptidão de participar do jogo consumista, os deixados fora como um “problema”, como a “sujeira” que precisa ser removida, são consumidores falhos – pessoas incapazes de responder aos atrativos do mercado consumidor porque lhes faltam os recursos requeridos.3

Esta é a sociedade que criamos. E precisamos nos perguntar se essa é uma sociedade que promove a vida com dignidade ou a descarta quando não alcança as metas e as expectativas. É assustadora a frieza com a qual humanos são tratados quando – por serem humanos e não máquinas – não conseguem atingir as metas colocadas: são simplesmente descartados, jogados fora, considerados inúteis. À luz da Páscoa, precisamos discernir o que seguimos: a lógica fria do mundo ou a verdade amorosa e libertadora do Evangelho.

Páscoa é tempo de libertar! No Antigo Testamento, ela significava exatamente a libertação da escravidão no Egito quando os hebreus atravessam o mar vermelho e passam quarenta anos no deserto rumo à terra prometida. No Novo Testamento, a Páscoa ganha um novo significado: a libertação do pecado, da morte e do inferno.

Libertação é a palavra que resume bem o que já foi dito até aqui. Através da Páscoa, somos livres para louvar, agradecer, testemunhar, ajudar e cooperar. Através da Páscoa, somos livres para fugir da própria autoadoração, livres de acharmos que somos autossuficientes, livres de calarmos o evangelho, livres de não ser solidários e diaconais. Ele nos libertou do pecado, da morte e do inferno. Portanto, pela sua graça, somos livres para cuidar. Somos livres para dar testemunho e praticar o testemunho. Mesmo que queiram calar nossa libertação com a nossa morte, também ela já foi vencida e nem ela poderá nos separar do amor de Deus.

Páscoa é tempo de tudo isso e mais um pouco. Reflita sobre tudo isso. Dê lugar à cooperação no lugar da competição, ao amor no lugar da indiferença, ao cuidado no lugar da irresponsabilidade. O que mais você acrescentaria a esta lista? Páscoa é tempo de quê para você? Enquanto você pensa, convido a assistirmos um vídeo com uma dinâmica bem legal:

E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os nossos corações e as nossas mentes em Cristo Jesus, amém.


2º DOMINGO DA PÁSCOA | BRANCO OU DOURADO | CICLO DA PÁSCOA | ANO B

11 de Abril de 2021


P. William Felipe Zacarias


1 GISH, Arthur G. Beyond the Rat Race. New Canaan: Keats, 1938. p. 19. Apud: FOSTER, Richard. Celebração da disciplina: o caminho do crescimento espiritual. São Paulo: Vida, 2007. p. 213.

2 BAUMAN, Zygmunt. O Mal-Estar da Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. p. 23.

3 BAUMAN, 1998. p. 24.


Autor(a): P. William Felipe Zacarias
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio dos Sinos / Paróquia: Sapiranga - Ferrabraz
Área: Missão / Nível: Missão - Coronavírus
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Atos / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 32 / Versículo Final: 35
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 62008
MÍDIATECA

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Ó Deus, meu libertador, tu tens sido a minha ajuda. Não me deixes, não me abandones.
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Martim Lutero
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