Quaresma - Tríduo Pascal - Tempo Pascal



ID: 2656

O balançar dos ramos...

03/04/2012

(Sugestão de leitura: Evangelho de acordo com João 12.12-16)

Neste fim de semana, muitos cristãos celebraram o Domingo de Ramos e em nossas comunidades luteranas também não o foi diferente. O Domingo de Ramos nos faz lembrar a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém na semana da páscoa judaica. Iniciamos aqui a semana santa, por isso também, este domingo é conhecido como Domingo da Paixão.

Durante sua entrada em Jerusalém, o Senhor Jesus foi aclamado e exaltado. Uma multidão de pessoas arrancaram ramos de palmeiras e os balançavam com muita euforia. Lançaram seus ramos ao chão, para que o Rei pudesse passar.

E assim, Cristo entrou ao som dos gritos: “Hosana a Deus! Que Deus abençoe aquele que vem em nome do Senhor! Que Deus abençoe o Rei de Israel!” (v. 13b). A entrada de Jesus ali representava o anseio e o clamor político e social daquelas pessoas, tão sofridas e exploradas.

Ao imaginar esta cena, logo me fez refletir sobre a situação de grande parte do cristianismo hoje. O cristianismo tem dado abertura para que se instale cada vez mais um mercado religioso entre seus fiéis. Quantos shows, cantores, bandas e superproduções tem se expandido Brasil a fora.

Pulseirinhas, anéis, brincos, camisetas, e tantos objetos estão expostos no mercado gospel, cada vez mais em alta, também cada vez mais caro. Em muitos shows cristãos entram em êxtase espiritual, tudo é muito bonito – naquele momento!

Parecem, ainda hoje, com os judeus que balançavam seus ramos com grande euforia. Naquele momento, Jesus foi aclamado e exaltado, mas ao verem que Ele não era o líder e libertador político, logo o abandonaram. Aliás, as mesmas pessoas que o aclamaram e gritaram “Hosana!” foram aquelas que logo em seguida gritaram: “Mata! Mata! Crucifica!” (Jo 19.15).

Quando a proposta diante dos olhos das pessoas daquela época foi o caminho da cruz, a decepção tomou conta. E hoje? Parece-me não ser diferente. Toda euforia e exploração gospel vêm a exaltar um Cristo poderoso, milagreiro, que oferece bênçãos mil e muita prosperidade.

Mas, o que tem acontecido quando as pessoas se deparam com o caminho da cruz? Ser cristão não nos isenta de dor e sofrimento, de dificuldades, perseguição, decepções sejam elas qual for. Ser cristão em espírito e verdade é saber tomar sobre si a sua cruz e seguir ao Senhor crucificado.

Para muitas pessoas, um escândalo, como já pregou o apóstolo Paulo em sua época. E este escândalo continua ainda hoje. Pessoas exaltam a Cristo, depositam dinheiro e boas obras em troca de felicidade, curas e prosperidade. Elas buscam em sua fé um Deus que atenderá em primeiro lugar suas necessidades pessoais e não, o caminho da cruz, pelo qual Jesus nos afirma que também passaremos.

Infelizmente pessoas caem na fé por causa da decepção. Apegam-se nas pregações de um Cristo com promessas de prosperidade, poder e benefícios pessoais diferentes do Cristo testemunhado na santa Palavra. Ao serem confrontadas com a cruz abandonam a fé num Senhor aparentemente fraco.

Mas é exatamente olhando para a cruz, para o Cristo crucificado que podemos sim ter forças. Em primeiro lugar, é na cruz que Deus nos encontra na dor, sofrimento, abandono, desespero, humilhação, luto, doença e morte. Por isso, Deus é solidário e compreende melhor do que imaginamos as nossas situações. Assim, podemos ter a certeza que o Cristo crucificado está de braços abertos para nós. Jesus convida todas as pessoas cansadas e sobrecarregadas a virem a Ele e promete alívio. Ele mesmo promete ajudar cada um/a a carregar sua cruz.

Agora, ao olhar para o Cristo crucificado e entender o que Ele fez por nós e aquilo que nós também estamos expostos a passar por este mundo, nós dá uma esperança muito grande. Temos a promessa de que Deus, em Cristo e pelo Espírito Santo, não nos abandonará ou desamparará em suas promessas. A morte não deu e não dará a palavra final. Cristo venceu a morte, bendita a nossa sorte! Na Páscoa lembramos e celebramos isto.

A cada domingo, dia do Senhor (uma nova Páscoa) lembramos e celebramos sempre de novo a esperança cristã na vitória. “E, por que eu vivo, vocês também viverão” nos promete o Senhor Jesus (Jo 14.19b). Mas precisamos sempre nos lembrar que cruz e ressurreição são inseparáveis. Uma não teria sentido sem a outra. Ambas se complementam!

Não é atoa que Jesus, após ter ressuscitado, se apresentou com suas chagas, ou seja, as marcas da cruz, da dor, da morte. Por tanto, o Senhor nos mostra com isso que a ressurreição não anula a cruz, pelo contrário, será uma consequência para pessoas que mesmo diante do peso da sua cruz, acreditaram e continuaram seguindo-o.

Em fé, viva e verdadeira, balancemos sim nossos ramos! Louvemos, aclamemos e exaltemos nosso Senhor – crucificado e ressurreto, por fé sincera e não por interesses pessoais buscando barganhar com Deus. Gritemos “Hosana”, bendito o que veio e virá novamente em nome de Deus!

Mas saibamos que a cruz de cada um é uma realidade da qual não temos como fugir, mesmo que ao sermos confrontados com ela, abandonemos nossa fé. Teremos cada um/a que carregá-la de qualquer jeito. E aqui, será a fé consciente nas palavras de promessa de Cristo: “No mundo vocês vão sofrer; mas tenham coragem. Eu venci o mundo” (Jo 16.33b), que nos auxiliará a continuarmos nosso caminho, mesmo que a cruz seja pesada, ainda assim conseguiremos carregá-la e alcançar nosso objetivo, por que o Senhor nos sustém.

Que o Deus do amor, manifestado no Senhor da cruz e da sepultura vazia, esteja entre nós com seu Santo Espírito, nos auxiliando por meio do Evangelho, a entendermos o caminho verdadeiro que nos leva a vida. Que possamos rejeitar as falsas promessas e nos apegarmos à promessa de Deus que nos oferece: a vida eterna, mesmo sob o peso de nossa cruz. Amém.
 


Autor(a): Marcio Simões da Costa
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 12 / Versículo Inicial: 12 / Versículo Final: 16
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 13415

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