Joao 20.19-29
Depois da morte de Jesus a Comunidade dos discípulos ainda se sente com muito medo, insegura, indefesa diante das represálias que podem tomar contra ela a instituição judia. A mensagem de Maria Madalena e de alguns discípulos que foram ao sepulcro vazio, não os libertou do temor. Não bastava a notícia do sepulcro vazio – somente a presença concreta-física de Jesus poderia dar-lhes confiança, paz e esperança. Por enquanto, é mais seguro nem sair de casa, se esconder por algum tempo até baixar a poeira e manter as portas trancadas.
(O medo é uma defesa natural contra o perigo. O maior índice de acidentes com jovens é por terem medo do perigo. Mas o medo exagerado imobiliza. É natural ter medo de cobra. Mas não entrar numa sala porque tem um quadro com uma cobra, isso 'e algo exagerado. E nesse caso esse medo precisa ser enfrentado.
Um outro forma de ir vencendo nossos medos é conviver com quem é mais corajoso. A convivência com pessoas que não tem medo do meu medo, me ajudara a vencer esse meu medo.)
Mesmo com todas as portas trancadas, Jesus aparece no meio daquela comunidade. Agora está visível para tods. Sua presença um tratamento de choque contra o medo dos discípulos. As feridas nas mãos e no lado, são a prova concreta que não era outra pessoa, mas sim o mesmo Jesus que havia sido crucificado. Sua presença lhes devolve a paz. Se antes eles tinham medo da morte, agora eles tem uma prova que a morte não pode aprisionar a Jesus e também não vai poder aprisionar a eles mesmos. Por isso, esse encontro com Jesus produz alegria. Jesus então lhes dá uma missa. A missão será anunciar as pessoas que Deus é amor e não um carrasco cruel, que ele veio ao mundo no seu Filho Unigênito, que todas as pessoas tem acesso a esse Deus, não importa a nacionalidade, e que esse Deus de amor perdoa os pecados para que todos tenham vida e vida em abundância.
Mas nem todos creram. Tomé que ante das crucificação estava disposto a enfrentar a morte ao lado de Jesus (Jo 11.16), agora não consegue crer no testemunho dos seus colegas discípulos. Não admite que aquele que eles viram seja a mesma pessoa que foi crucificada. Por isso, ele quer uma prova individual. Ele quer examinar com seus próprios olhos e com seus próprios dedos a esse ressucitado – como se fosse uma relíquia – para ter provas de que é verdadeira.
Jesus aparece a Tome e lhe possibilita esse exame. Veja as minhas mãos, coloca tua mão aqui do meu lado. Examina com atenção. Diante disso, mesmo sem tocar em Jesus, Tome exclama: Meu Senhor e meu Deus. Em seguida Jesus pronuncia uma nova bem-aventuranca. Você creu porque viu, bem aventurados são os que não viram e mesmo assim creram.
A salvação da morte sempre foi o fundamento das religiões. No tempo de Jesus se ensinava a doutrina greco-romana. Essa dizia que tudo no universo tem seu lugar específico. A natureza “e prova disso. O vento sopra, a chuva fertiliza, a femea fecundada gera a reprodução da vida, etc... Se cada coisa funciona bem, então o todo funciona bem. Mas se uma coisa falha, isso contamina o mal funcionamento do todo. Por isso, é importante reconhecer que cada coisa deve estar no seu lugar. Quando cada coisa cumpre maravilhosamente a sua finalidade, isso ‘e Deus, isso é o Universo.
O único que está na contra mão é o ser humano. Para que o ser humano se integre a essa perfeição do Universo, ele precisa primeiro encontrar a finalidade de sua existência. Se a pessoa não encontrar a sua finalidade, ele não encontrará a Deus. E se ele não encontrar a Deus ele desaparece do universo. Vira pó.
Nesse contexto, Jesus vem com um pensamento totalmente diferente. Ele diz: O divino não é o Universo. O divino é o Criador. O Verbo (logos) se fez carne e habitou entre nós. O ser humano não é um bicho perdido nesse mundo, mas ele é imagem e semelhança de Deus, ele é o filho de Deus.
Por isso, a salvação não está em você procurar se encaixar nessa engrenagem do mundo, mas em reconhecer que – mesmo com todos os medos e imperfeições – você também é um filho(a)de Deus. Deus não exige uma prova para te salvar. Ele vem a ti porque ele é teu pai, porque ele te ama.
Essa mensagem crista ganhou o apoio dos mais humildes. Já não importava se a pessoa era rica ou pobre. Isso não era sinal de benção ou castigo de Deus. O que importa agora “e o que a pessoa faz nesse mundo. Se ela reflete a imagem e semelhança de Deus por meio de sua vida e de suas atitudes. Se ela viver como filho de Deus, ‘e o que basta para entrar no Reino do Céus. E os romanos, mesmo que os perseguissem e os matassem, eles não podiam tirar dos cristãos a salvação da morte.
Por isso, nos relata o livro de Atos dos Apóstolos – como foi que a fé em Jesus se organizou em comunidades e como eles colocaram em pratica os ensinamentos de Jesus (Atos 4.32-35). O culto passou a ser um lugar onde Deus vem servir a sus filhos e filhas. É o lugar onde as pessoas vão buscar orientação, porque fé sem amor não vale. A fé recebe de Deus, mas “e necessário que o amor compartilhe. A fé nos motiva a viver o amor e a enfrentar as coisas ruins com esperança. E a esperança nos faz olhar por cima das dificuldades e a enxergar o que está mais adiante das dificuldades do presente.
Dietrich Bonhoeffer, pastor luterano, enforcado no dia 9 de abril de 1945 pelos nazistas na Alemanha. Ele foi um dos que falavam de uma Teologia da esperança. E uma de suas histórias falava de um judeu italiano que relatou um caso de enforcamento num campo de concentração nazista. A vítima a ser enforcada havia explodido um forno de cremação em Birkenau. E os outros presos no campo de concentração eram obrigados a assistir todas as execuções. Antes de ser enforcado, porém, já no patíbulo, a vítima se virou para os outros presos e gritou: Companheiros, não tenham medo, eu serei o último.
O pastor Bonhoeffer ensinava que a esperança nos faz ver que aquele ato de corrupção, aquela mentira, aquela guerra, aquela injustiça, etc... pode ser a última. Que a partir daí as coisas podem ser diferentes.
No entanto, isso não é algo fácil de aceitar e de entender. Para entender e aceitar essa mensagem, vamos precisar passar por uma transformação dentro de n’os mesmos. O professor Rubem Alves usava o exemplo do milho de pipoca. As grandes transformações na nossa acontecem quando passamos pelo fogo (por situações muito difíceis). Quem não passa pelo fogo – fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma dureza assombrosa, tal qual o milho de pipoca. Na simbologia crista, a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. Ele deixa de ser de um jeito e passa a ser de um novo jeito. Ser discípulo de Jesus é deixar-se transformar, é vencer toda a incredulidade, é vencer a dureza da vida. Por isso, uma igreja de Jesus ressuscitado mantem viva a esperança, não se entrega a fatalidade, não se acomoda com as coisas ruins, mas enfrenta tudo com fé, proclamando que Jesus ressuscitou e por isso, nada mais é impossível para Deus.
Diz o apóstolo Paulo em (Romanos 8.38-39)
8.38 Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios,
Ou autoridades celestiais nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes,
39nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Amem