Quaresma - Tríduo Pascal - Tempo Pascal



ID: 2656

Isaías 53.4s - Esperança para todos

Prédica

11/04/1952

ESPERANÇA PARA TODOS
 

Em verdade, Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores. O castigou caiu sobre Ele, para que nós tivéssemos paz. com essa confissão que a comunidade se aproxima da cruz de Jesus Cristo. Ele que fez isso por nós, que deu a sua vida por um mundo que dele não era digno, revela-nos na cruz o seu coração cheio de amor que procura a todos os homens, que inclui até os seus mais fanáticos inimigos. Esse amor do Salvador é mais forte do que todo o ódio infernal que homens podem ter uns aos outros, e que ainda hoje pode transformar o mundo e a nossa vida em um inferno. 

Separam-se, diante da cruz de Cristo, os espíritos humanos, hoje como naquele dia. Vemos, na colina, sobre a qual está erguida a cruz, os três grupos de homens que ainda hoje existem. Estão ali, em número maior, os escarnecedores, aos quais nada é sagrado. Estão ali os que procuram a Deus que, como o malfeitor, já na presença da morte, em última hora, desejam converter-se; e está ali a pequena, dispersa comunidade de seus discípulos que na noite da traição tinha fugido, mas, apesar de tudo, •é atraída para Ele irresistivelmente. E para cada um desses três grupos, Ele, o Salvador, na hora de sua morte, só tem uma palavra de amor. 

Primeiro para os escarnecedores. Se lemos as palavras que esses homens dirigiram ao Salvador, em sua aflição de morte, podemos sentir um calafrio. Homens que possuem um coração — como podem ser capazes de tal baixeza de espírito! Antes, quando Jesus Cristo estava diante deles, eles o temiam, tão poderosa era a sua palavra. Mas agora, Ele é, como julgam, um adversário vencido, agora está em suas mãos — e eles o aproveitam para satisfazer aos seus desejos de vingança. Escarnecem da última oração do moribundo, Eli, Mi, tinha Ele clamado — Meu Deus, meu Deus — e eles gritam: Está chamando o Elias — vamos ver, se Elias vem e lhe ajuda. (Mt. 27. 46 - 49) Escarnecem da sua confiança em Deus: Confiou em Deus, Ele lhe ajude, se acha agrado nisso. (Mt. 27.43) Escarnecem do Filho de Deus: Ó tu, se tu és Filho de Deus, então desce da cruz! (Mt. 27.40) Escarnecem do seu amor, no qual ajudara a todos que em seus sofrimentos a Ele se dirigiam: A outros ajudou, mas a si mesmo não pode ajudar! (Mt. 27. 42) Seria compreensível se o Senhor dissesse: Homens que são capazes dessa atitude, já não são mais humanos e não merecem compaixão. Para eles, só resta o juízo eterno. Assim diríamos nós. A nossa força de perdoar tem os seus limites bem estreitos. Estamos prontos, talvez, a perdoar quem nos ofendeu, mas só se ele se arrepender do que fez e pedir perdão. Enquanto isso não suceder, permanecemos irreconciliáveis. Por isso, entre homens uma vez separados, é tão difícil restabelecer a paz. Mas Aquele que por nós todos passou pela mais profunda solidão, que foi ofendido tão desumanamente, Ele responde com amor aos seus ofensores. Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. (Lc. 23.34) A alma daqueles que se deixam dominar pelo ódio, o Filho as leva ao Pai e pede por eles. Não sabem o que fazem; tornaram-se cegos pelo ódio, escarnecem e desprezam Aquele que é o único que lhes pode ajudar. Mas o amor do Salvador não se deixa limitar nem pelo ódio e desprezo. E nesse amor concede também a eles o auxílio que só. Ele pode dar-lhes — pedindo perdão para eles, em seu lugar. 

Jesus se mostra como o verdadeiro sacerdote que não deixa entregue nenhum homem a si mesmo por mais que ele tenha caído. E por isso, por termos esse sacerdote, há ainda uma esperança para o mundo com todo o seu ódio e todo o mal. O Salvador não deixa o mundo e os homens entregues a si mesmos. A sua prece, com a qual intercede por todos que o odeiam e perseguem, é um poder, mais forte do que todo ódio, e é o único poder capaz de salvar a humanidade de destruir-se a si mesma. E se no Novo Testamento nos é dito que Jesus Cristo nos deixou exemplo, para que sigamos as suas pisadas (1 Pd. 2. 21), então é esperado de nós que ao menos nós não nos deixemos dominar pelo ódio e pela inimizade, mas ponhamos contra todo ódio a oração, a oração pelos que são inimigos, com a força de perdoar que tem a sua fonte na cruz. 

Ao lado desses escarnecedores vemos o segundo grupo de homens, representado para todos os tempos pelo malfeitor. São os homens que até então, em toda a sua vida, nada perguntaram por Deus; que viveram como se Deus não existisse. Mas agora, na presença da morte, despertam, e, em última hora, se lembram da realidade de Deus e procuram salvar-se. Quantas vezes acontece isso! Também aqui diríamos do ponto de vista humano: Um homem que durante toda a vida desprezou a Deus e seus mandamentos — e então, no último minuto que lhe é dado implora a graça de Deus — que valor tem esse arrependimento? Não pode ser sincero, é uma conversão ditada pelo medo. Mas, meus irmãos: demos graças a Deus que nosso Salvador não pensa assim. Se Ele assim pensasse — quem de nós poderia ser salvo? Porque nenhum de nós, embora tenhamos tido tempo, arrependeu-se de sua culpa, assim como devia ter se arrependido, e como um dia, perante a face do supremo juiz, certamente todos nos arrependeremos das horas perdidas de nossa vida. É por isso um verdadeiro consolo para nós que o Salvador disse a esse pobre homem que em última hora se converte, entregando todo o seu destino às mãos de Cristo — que Ele lhe diz a palavra: Hoje estarás comigo no paraíso. Hoje tomo a tua vida toda sob a minha proteção. Quem a mim se entrega, esse eu não deixo mais cair de minhas mãos. (cf. Lc. 23. 43) Essa certeza que também a morte não pode separar do Salvador quem a Ele pertence — não devia ela ser suficiente também para nós? Não contém essa certeza: Eu estou nas mãos de Cristo, •e Ele não me solta nunca — não contém ela todo o consolo que pode haver para cristãos? Mas muitos não se contentam. Desejam saber alguma cousa mais a respeito daquele reino além da morte que aqui é chamado o paraíso. E procuram revelações em outra parte, afastam-se de Cristo para cair sob o domínio de outros poderes. Mas, esses, embora pareçam satisfazer à curiosidade de homens, não podem ajudar, não podem consolar. Porque não há auxílio verdadeiro, nem consolo diante da morte, senão em Cristo — não há outro Salvador. Só Ele pode dizer: Hoje ainda estarás comigo no paraíso. Imaginamos o que isso significa: Cristo, depois de toda a luta, volta para o reino da eternidade. Mas, Ele não vem sozinho. Está mais alguém ao seu lado, conduzido por sua mão. E esse companheiro do Rei vitorioso é um pobre condenado, um malfeitor desprezado — mas que alcançou a graça, porque depositou toda a sua confiança em Cristo. Como é consolador esse fato! Todos nós somos incapazes de pôr inteiramente em ordem a nossa vida — mas se entregarmos o nosso destino, para este tempo e todo o sempre, a Jesus Cristo, então podemos ter a certeza de também entrarmos nós no reino de Cristo conduzidos pela sua mão. Tão misericordioso é Cristo conosco. Mas, importa é que deitemos tudo, o que somos e temos, em suas mãos, que aceitemos o que Ele nos dá — e não gastemos o nosso tempo procurando mais em outro lugar. 

E vemos ainda um terceiro grupo debaixo da cruz. É um resto da pequena grei dos seus discípulos que na noite da traição tinham fugido como todos os outros. Mas depois, tímidos e perturbados por tudo que sucedera, tinham voltado — e agora estão, emudecidos, debaixo da cruz. É a primeira comunidade de Jesus Cristo. Vemos João, o mais jovem dos apóstolos, do qual sempre é dito que Jesus o amava. Ao lado dele, vemos Maria, a mãe de Jesus, e a sua irmã; e está aí Maria Madalena, a qual Jesus livrara de culpa e aflição, e que desde então pertencia a Ele, em gratidão e amor. Todos eles tinham abandonado a Jesus, deixaram-no ir sozinho o seu último caminho. Mas, o Senhor com nenhuma palavra os repreende. Só tem, para com eles, amor. Tão forte é o seu amor que com ele não só encobre o pecado do mundo, mas também a culpa de seus discípulos que o conheciam e, no entanto, se tornaram infiéis na hora da tentação. E com amor Ele, o Salvador, cuida e dirige a sua comunidade que deixou no mundo. Eis o teu filho, eis a tua mãe (João 19. 26 s.) — palavras de um amor que se sacrifica, mas que pensa unicamente naqueles que ama. E com esse amor acompanha até hoje a sua comunidade na terra, encobrindo as suas faltas e fraquezas. Também nós, se o abandonamos, se nos tornamos infiéis, podemos voltar — Ele não nos repele, Ele nos recebe com amor. 

Meus irmãos: a um desses três grupos de homens debaixo da cruz pertencemos nós também. Para todos Jesus tinha uma palavra de amor. Como o grande irmão de todos os homens Ele nos traz a nós todos em seu coração, pensando em ajudar-nos. Mas Ele é mais do que nosso irmão. Ele é o Salvador e Senhor. Não procuremos mais auxílio e consolo em outra parte. Depositemos hoje o nosso destino todo em suas mãos — e será nossa a confissão da Igreja de todos os tempos: Cristo é a nossa paz. 

Dr. ErnestoTh. Schlieper
11 de Abril de 1952 (Sexta-feira Santa), Porto Alegre 

Veja:

Testemunho Evangélico na América Latina

Editora Sinodal

São Leopoldo - RS
 


Autor(a): Ernesto Theophilo Schlieper
Âmbito: IECLB
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Natureza do Domingo: Sexta da Paixão

Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 53 / Versículo Inicial: 4
Título da publicação: Testemunho Evangélico na América Latina / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19526

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