Acolhida
Sejam bem-vindos, sejam bem-vindas a este culto! Espero que possam sentir-se acolhidos pelo Senhor que ressuscitou para dar a cada um de nós a salvação.
Neste culto, no Segundo Domingo da Páscoa, reflexionaremos sobre a vida a partir da comunhão com Cristo. A primeira comunidade de fé é exemplo para nós cristãos. Com aquelas primeiras pessoas podemos aprender que os valores do Reino de Deus podem ser aplicados na prática.
Também hoje, como comunidade de fé, acolhemos familiares, amigos e amigas enlutados. Por um lado, lembrando que já se passou um ano do falecimento do Norberto Müller. E por outro, da morte recente do Marcos Flohr.
Pregação baseada em Atos 4.32-35
Após a Páscoa é crucial o testemunho da fé no Cristo ressuscitado. Este é o centro da fé cristã: Cristo ressuscitou! Ele vive! É essa certeza que nos dá força por meio do Espírito Santo. Com a ressurreição de Cristo, podemos ver como Deus age em meio aos poderes de morte deste mundo. Uma das formas que Deus encontra para fazer valer a força da vida sobre os sinais de morte é através da comunhão, uma comum união que faz com que as pessoas saiam do seu individualismo, comodismo e se reúnam em comunidades, partilhando tempo, tesouros e talentos. A partir da ressureição de Cristo, as pessoas são exortadas a viver seguindo os valores do Reino de Deus.
O texto do livro de Atos relata como aquela primeira comunidade de fé reagiu à mensagem da ressurreição de Cristo. Mas, a leitura bíblica nos fala como aquelas pessoas, quase dois mil anos atrás reagiram e viveram a mensagem do Evangelho. Por isso, devemos perguntar: Como eu reajo, como você reage à ressurreição de Cristo? Como a ressurreição de Cristo afeta as nossas relações interpessoais? Como nós vivemos a fé que Deus nos deu?
A “multidão” que fala o texto de Atos faz referência à grande comunidade cristã que se reunia no início em casas, formando uma unidade humana que pensava, agia, orava e partilhava a vida de fé com um só coração e uma só alma. A riqueza dessa comunidade não é econômica, mas provém do poder e da força de Deus que acompanha o serviço de testemunho do povo de uma vida digna de partilha, amor e justiça. Mesmo assim, aquela imagem de nosso texto de uma comunidade congregada, unida e reunida não consegue ser suficientemente ilustradora, por isso seguem dois exemplos: o de Barnabé uma pessoa com muitas posses que coloca as suas coisas a serviço dos apóstolos e por isso da Igreja; e o exemplo de Ananias e Safira que quiseram dar um jeito não entregando todo o valor e por isso foram castigados. O paradigma daquela primeira comunidade é complicado, por isso carece de explicação. Ao colocar esses dois exemplos que terminam de forma diferente, quem escreveu Atos quis mostrar que naquela primeira comunidade, o discernimento para o agir são os valores do Reino de Deus.
A primeira comunidade cristã precisou permanecer unida e firme, a fim de que pudesse dar um bom testemunho e confessar abertamente a sua fé, apesar de todo o contexto de perseguição do Império Romano. Diante dessa situação perigosa, a coesão, a partilha e a oração eram essenciais. Esse foi o antídoto para que as comunidades pudessem resistir e viver comunidade num tempo em que nada era fácil. Foram animados pelo Espírito Santo a viver com coragem, ousadia e fé. Acreditaram na força da vida e na fonte da vida. Apostaram num modo de viver que os favorecia e auxiliava a vida em comunidade contra a divisão e opressão, modo de vida do império que não condiz com o Reino de Deus.
Lembrem-se, os valores do Reino não eram os valores da sociedade daquela época, nem são os valores da sociedade de hoje. Somos convidados a sermos contra culturais em muitos aspectos: nós pregamos comunhão onde se prega o individualismo; a solidariedade, onde se prega a lei do mais forte; o cuidado, onde se prega o desprezo pelo outro; o diálogo, onde ninguém quer escutar a outra pessoa. Nós seguimos a Jesus onde cada qual segue a si mesmo ou ao seu messias.
Comunidade realmente cristã aposta por uma vida de partilha, de solidariedade, de ajuda mútua, de reciprocidade, de cuidado com a vida das pessoas e suas necessidades. Mesmo à distância, como pessoas discípulas de Cristo podemos dar testemunho ali onde estivermos. Que nossas ações possam mostrar ao mundo, que nós acreditamos num Deus que em Cristo venceu à morte e que por isso, tem como maior valor o amor. Deus nos chama para uma nova forma de viver. Amém.
Alocução da Oração Memorial
Aqui perto da pia batismal, quero acolher às pessoas enlutadas que participam deste culto. Sei que a saudade é grande. Sei que, muitas vezes, a morte não tem sentido. Por que tantas pessoas boas estão morrendo? Por que já são trezentas cinquenta mil mortes só pela Covid-19 aqui no Brasil? Por que uns são assintomáticos e outros terminam falecendo? Tantas perguntas, tanto sofrimento para aqueles que ficam.
Eu, como pastor da IECLB, não tenho as respostas. Eu mesmo questiono este sem-sentido. Mas em meio a tanta dor, eu me refúgio aqui, perto da pia batismal. Lembro que não estou sozinho, assim como vocês também não estão sozinhas. No Batismo, fomos unidos a Cristo e essa união vale para além daquele breve momento em que fomos molhados. Naquele dia, nós deixamos de estar sós, a partir dali Cristo está junto de nós, seja nas situações difíceis ou nas fáceis, quando triunfamos ou quando falhamos, na vida e na morte. Por isso como comunidade de fé, não podemos deixar de testemunhar que ainda que a morte parece vencer, em verdade não é o fim. Ao receber o batismo, fomos unidos também na ressurreição de Cristo. Por isso convido a que possamos lembrar a fé na qual fomos batizados:
Creio em Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra. E em Jesus Cristo, seu Filho unigênito, nosso Senhor, o qual foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria, padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu ao mundo dos mortos, ressuscitou no terceiro dia, subiu ao céu, e está sentado à direita de Deus, Pai todo-poderoso, de onde virá para julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na santa Igreja cristã, a comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição do corpo e na vida eterna. Amém.
Nosso Deus é um Deus de vida. A vida continua, continua para nós que ficamos vivos, ainda que preferíssemos ter ocupado o lugar daquele que faleceu. Continua também para aqueles que faleceram, pois a ressurreição é a nossa fé. A pandemia é cruel, não permite poder nos despedir como quisermos, sequer passar os últimos instantes como tanto desejaríamos. Mas mesmo diante dessa dificuldade, podemos olhar novamente o texto de Atos e ver a importância da comunidade de fé, de nossos irmãos e irmãs em Cristo. Partilhamos alegrias e dores. E hoje acolhemos vocês, com cuidado e carinho, para que possam partilhar o pesado fardo que a morte trouxe para vocês.