Ação de Graças - Festa da Colheita


ID: 2852

Os frutos da Justiça - 2ª Coríntios 9,6-11

Prédica proferida no Capela de Cristo no Culto de Ação de Graças em 30/09/2012

30/09/2012

6 Saibam de uma coisa: quem semeia com mesquinhez, com mesquinhez há de colher; quem semeia com generosidade, com generosidade há de colher.
7 Cada um dê conforme decidir em seu coração, sem pena ou constrangimento, porque Deus ama quem dá com alegria.
8 Deus pode enriquecer vocês com toda espécie de graças, para que tenham sempre o necessário em tudo e ainda fique sobrando alguma coisa para poderem colaborar em qualquer boa obra,
9 conforme diz a Escritura: «Ele distribuiu e deu aos pobres; e sua justiça permanece para sempre.»
10 Deus, que dá semente ao semeador, também dará o pão em alimento; para vocês multiplicará a semente, e ainda fará crescer o fruto da justiça que vocês têm.
11 E vocês ficarão enriquecidos de todos os modos para praticar toda espécie de generosidade, que provocará a ação de graças a Deus por meio de nós.

Os frutos da Justiça

Estimados irmãos, estimadas irmãs!

I. Liberdade sim, indiferença não: Aprendemos como bons luteranos desde nosso batismo enquanto éramos crianças que Deus nos ama de todo jeito, incondicionalmente independente dos nossos erros ou acertos. Deus não ama nosso erro mas nos ama enquanto criação dele. Os teólogos chamam isto de “justificação por graça e fé”. Na essência significa que Deus e seu amor não se compra com nenhum dinheiro do mundo. Dependemos da livre decisão dele de nos amar o que ele expressa na pessoa de Jesus Cristo.
A partir desta base ganhamos muita liberdade na vida sobretudo no que diz respeito de o que fazer com os nossos bens. Paulo deixa isto muito claro: “Cada um dê conforme decidir em seu coração...”
Ele é corajoso porque de fato precisa arrecadar uma oferta para a comunidade empobrecida de Jerusalém. Ele prometeu se esforçar nisto para sinalizar a esta comunidade “matriz de todos os cristãos” que os novos cristãos das comunidades paulinas de origem não-judaica sentem-se unidos numa mesma igreja de cristo. Se ele não puder levar nada seria entendido como um sinal de divisão. Acredito que ele, ao apresentar a ideia em Coríntios deve ter recebido uma reação parecida com nossos dias: “eu mesmo mal tenho, a situação está difícil para todos. Mal consigo pagar minhas contas. Roma (Alemanha ou o Japão) não pode pagar isto?”
Paulo reage com tranquilidade e deixa claro que, sem dúvida a liberdade é de cada um de dar conforme sente no coração. Seu coração é bem grande e ele também sabe muito bem que ele não possui nenhum poder de força. O poder dele está mais em apontar na profundidade o efeito enorme que os nossos atos têm sobre nos.
É verdade que Cristo nos libertou para a liberdade como o próprio Paulo expressa na carta aos Gálatas, mas é igualmente verdade que Deus tem total liberdade de nos expor às consequências dos nossos atos. “...quem semeia com mesquinhez, com mesquinhez há de colher.” Liberdade não significa que tanto faz, que Deus não se interessa pelo que fazemos. E também não significa que vivemos igual indiferente dos nossos atos.

II. O amor de Deus chega: É verdade que Deus nos declara justos porque nos ama, mas isto só podemos sentir se aceitamos dar o fruto desta justiça. Quem nega dar este fruto fica bloqueado na questão da fé. Pode semear com mesquinhez mas não pode depois reclamar de viver uma vida mesquinha, cinzenta, uma vida que fica aquém do que poderia ser e do que a princípio almejamos como uma vida de alguém que vive sua fé.
Há um mistério que se processa em nossos atos na prática do amor: “Deus ama quem dá com alegria.” Nossa obra de justiça não salva mas ela faz com que possamos sentir algo do amor de Deus. Deus só se faz sentir quando saimos da nossa reserva, saimos da toca e começamos a praticar o que a fé nos sugere: A dar frutos da justiça.
Quais seriam estas obras da justiça? Sem dúvida tudo o que nos chamamos “a prática do amor ao próximo.” Mas neste contexto especial isto se expressa em primeiro lugar pondo a mão no bolso. Paulo sugere aos seus corintianos que eles ficariam mais distantes do amor de Deus fechando seus bolsos.
Creio que também vale para nos. É de olhar com ceticismo justificado aquela fala. Já faço em outros contextos por isso não preciso dar aqui. A rigor, cristão que não ama a sua comunidade, sua igreja e separa algo para ela, tem um problema no coração da sua fé e podemos suspeitar que isto reflete em toda sua vida. Quem expressa seu amor a sua igreja a aceitar, entre outro, a por mão no bolso sentirá isto com abrangência em toda sua vida. “Deus ama quem dá com alegria.”
A rigor, a prática do amor ao próximo é sem credibilidade se ela não inclui explicitamente o amor a igreja, a comunidade. Luterano indiferente a sua comunidade e de se suspeitar. E este amor se expressa em primeiro lugar na participação em atividade, sobretudo no culto e na contribuição regular, todo resto é secundário. Não depende da necessidade de pagar contas na comunidade mas é da natureza de sermos cristãos.

III. Temos em abundância: Mas da onde vem toda esta dificuldade de se doar, de tirar algo do seu? Paulo nos dá uma dica: ...Deus pode enriquecer vocês com toda espécie de graças, para que tenham sempre o necessário em tudo e ainda fique sobrando alguma coisa para poderem colaborar em qualquer boa obra,.... O sentimento de riqueza vem da graça de Deus. Pessoas não se sentem capazes de partilhar porque vivem com a sensação que e que a vida ficou devendo a eles que foram passados para trás. Independe da riqueza de fato a existe este sentimento. E aí fica difícil por algo em comum.
O remédio para isto é a graça de Deus, a prédica do amor incondicional de Deus. Deus nos amou primeiro. Ele pode fazer abundar em nossa vidas. Uma outra palavra mais prática aqui diz: A contribuição nunca fará falta. Isto porque expressa se através dela que a vida sempre é presente e não propriedade. …E vocês ficarão enriquecidos de todos os modos para praticar toda espécie de generosidade, que provocará a ação de graças a Deus... Quando a vida é encarada a partir desta ótica isto gera sobretudo gratidão e por consequência generosidade.
Em nossa pequena história da Capela de Cristo temos o testemunho vivo disto. Que este lugar existe é prova da graça de Deus que já abundou aqui. Deus mexeu aqui com coração de pessoas que puderam experimentar a verdade da palavra: “Deus ama quem dá com alegria.” Obrigado! Amém.

P. Guilherme Nordmann

 


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