Celebração


ID: 2651

Êxodo 12.1-14

Auxílio Homilético

04/04/1996

Prédica: Êxodo 12.1-14
Leituras: 1 Coríntios 11.23-26 e João 13.1-17,34
Autor: Selma Nascimento
Data Litúrgica: Quinta-Feira da Paixão
Data da Pregação: 04/04/1996
Proclamar Libertação - Volume XXI


Páscoa dos judeus, Páscoa cristã evocam particularidades da celebração de hoje: instituição da Santa Ceia. Marco de momento novo: partilha, respeito à Vida, memória da ação divina. A comunidade cristã tem a tarefa de torná-la realidade. Para tanto, o texto paulino nos adverte das ambigüidades do dia-a-dia comunitário.

1. Percorrendo o Texto...

A festa da Páscoa era originalmente uma festa de pastores, que celebravam, na primavera, o nascimento das ovelhas. Através do ritual do derramamento de sangue ao redor do acampamento, queriam proteger-se dos espíritos que pudessem prejudicar a família e o rebanho.

Com a saída do Egito o rito necessitou adaptar-se ao novo estilo de vida: transformou-se em refeição e era o próprio Senhor que assumia a proteção do povo. Também ocorreu a associação de outra festa — ázimos —, festa agrícola. Seguiam-se os seguintes passos: da massa levedada retirava-se uma parte antes de assá-la. Esta era guardada com o objetivo de fermentar a próxima remessa de massa. Porém, quando ocorria nova colheita, a nova massa não era fermentada com a massa da colheita anterior. A Festa dos Ázimos consistia, então, durante uma semana, em preparar o pão sem fermento, iniciando um ciclo de pureza na nova colheita.

Esta festa só foi incorporada a Israel após a posse da terra, e foi unida à celebração pascal depois da reforma de Josias.

Uma pergunta natural seria: por que aparecem juntas neste relato?

O texto que relata a Páscoa dos judeus foi posto por escrito bem mais tarde, num contexto de opressão para Israel, semelhante ao primeiro, ou seja, durante o exílio na Babilônia, alguns séculos depois. Na ocasião, as festas da Páscoa e dos Ázimos já eram celebradas juntas. O redator da escola sacerdotal coletou informações das fontes javista e eloísta, elaborando o texto final, para que viesse a responder aos anseios do povo oprimido no exílio da Babilônia, reevocando assim a libertação do Egito. (Bortolini, 1995.)

2. O que o Texto Fala...

A narrativa evoca uma situação de sofrimento, em que o Senhor age de forma decisiva: ele mesmo vem em socorro de seu povo. Para além do ritualismo, o texto quer ir ao encontro do sofredor em sua dor, chegar até seu coração. É memorial da ação divina, porém atualizado: o Senhor, em nosso meio, está, mais uma vez, como Senhor absoluto da história.

O contexto da narrativa está no confronto de forças entre Moisés e o faraó. Numa luta desigual, com promessas, derrotas e desânimos, irrompe o triunfo do lado aparentemente mais fraco. É necessário que, perpetuamente, este fato não seja esquecido (v. 14).

Alguns detalhes precisam ser destacados: é inaugurado um novo tempo de liberdade (v. 2); nele, o Senhor chega na intimidade, na casa, e cada família é convidada a expressar o gesto fraterno da partilha, onde ninguém carece nem tem demais (v. 4 e v. 10). A vida adquire seu valor real: deve ser preservada a qualquer custo (v. 7 e v. 12). E preciso não se esquecer de que existem outros projetos, em que as consequências não são a vida e a partilha, e sim a morte e a dor (v. 8 e v. 13). A presença do Senhor emergiu numa situação de perigo, de emergência (v. 11), e a nova relação com o Senhor e com o próximo exige uma postura nova, sem resquícios das opressões antigas (v. 8).

3. O que Ouvimos do Texto...

Na Quinta-Feira da Paixão, nós, cristãos, celebramos a instituição da Santa Ceia. Uma vez que Jesus realiza a sua Ceia em memória da anterior, trata-se da mesma Ceia — a antiga e a nova.
Não há passe de mágica, participar da Ceia não implica, de imediato, vida nova. Necessário se faz reconhecer, mais do que nunca, que a luta desigual se perpetua — é só olhar ao redor e identificar os protagonistas de nossa sociedade. A vida não tem sido preservada como valor: as condições mínimas de sobrevivência não são garantidas a todos. Entre nós, a partilha não é característica do grupo — seja no campo, seja na cidade, ainda compactuamos com sutis diferenças entre nós — falta-nos fazer valer o dito popular: Fazei o bem sem olhar a quem. Por receio, por prudência e por outras motivações, o quem nos é bem conhecido.

Celebramos anualmente a semana da Paixão do Senhor. E quando chegará o novo tempo? O desafio que ocorreu com o povo eleito repete-se entre nós — É preciso ir alem do próprio gesto. Urge cultivarmos aquela intimidade com o Senhor, ler coragem de partilhar com outras pessoas, outros grupos, famílias, a presença do Senhor na história; dar passos concretos na busca da libertação pessoal e coletiva. Lutar para que a Vida seja preservada de todas as formas, seja na questão política, econômica, social, onde estiver ameaçada.

A Santa Ceia não aparece com clareza no texto de João. Este não cita a Páscoa dos judeus; a Páscoa será celebrada com a morte de Jesus, e morte de cruz. E um dos gestos singulares de Jesus, neste texto, é sua ação desinteressada em favor de todos, até dos possíveis hostis (vv. 2-5). O Amor acima de tudo — e o Amor gera vida.

A ceia celebrada em Corinto tinha seus problemas: pode-se celebrar a Santa Ceia com divisões internas, quando não há partilha? O Senhor estará presente gerando Vida entre nós? O próprio apóstolo responde.

4. Caminhos de Reflexão...

Importa que nossas comunidades se deixem questionar: somos sinais do novo? Para nós mesmos e para os outros? Há sinais de partilha, de Vida, exercícios de libertação entre nós? Nossa ação na comunidade está numa linha de serviço desinteressado? As repreensões que o apóstolo Paulo faz à comunidade de Corinto se aplicam à nossa comunidade?

Não é o mais importante sabermos onde estamos, pois é a Palavra que incita a ir além. É ela que dinamizará a nós e à comunidade. Suscitará a responsabilidade e o compromisso próprios do/a cristão/ã. Através dela poderemos perceber que, apesar de nossas resistências, o Senhor quer cear conosco e conta conosco. Neste exercício, seremos capazes de perceber a presença do Senhor entre nós e tornar a memória da Páscoa uma realidade na comunidade cristã.

5. Bibliografia

BÍBLIA PASTORAL. São Paulo, Paulus, 1990.
BORTOLINO, José. Meditação sobre Êxodo 12,1-14. In: MARIN, Darci Luiz, ed. Vida Pastoral. São Paulo, Paulus, 1995. p. 50-51.
KNEBELKAMP, Ari. Meditação sobre Tiago 5.1-6. In: STRECK, Edson E. & KILPP, Nelson, coords., Proclamar Libertação. São Leopoldo, Sinodal, 1993. vol. XIX, pp. 254ss.
KONINGS, Johan. A Bíblia, Sua História e Leitura: uma Introdução. Petrópolis, Vozes, 1992. PIXLEY, Jorge V. Êxodo. São Paulo, Paulinas, 1987.


Autor(a): Selma Nascimento
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Quaresma
Perfil do Domingo: Quinta-feira Santa
Testamento: Antigo / Livro: Êxodo / Capitulo: 12 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 14
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1995 / Volume: 21
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 13296

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