Prédica para lançamento do tema do ano Viver o Batismo: dons a serviço na Paróquia Maripá no período da quaresma
Textos Bíblicos 1Pe 2.1-7 3 Mt 16.21-24
Estimada comunidade,
Eu quero convidá-los para um passeio no tempo e espaço. Vamos voltar 1900 anos no tempo para conhecer um cantinho da Ásia Menor no Mediterrâneo, atual Turquia. Naquele tempo e lugar existiam muitas cidades prósperas, com comércio florescente e uma cultura desenvolvida. Coexistia uma mistura estranha de forças. Quem mandava na política eram os romanos, mas a maior influência cultural vinha dos gregos. E dentro deste caldeirão cultural que nascia um pequeno grupo de pessoa que se diziam seguidores de Jesus o Cristo. Para a sociedade em geral os cristãos eram mais um grupo judeu, como muitas outros que existiam na época.
Visto que a fé em Jesus o Cristo era uma novidade, inclusive para as pessoas da própria comunidade cristã, o apóstolo Pedro lhes escreve uma carta, buscando guiar a comunidade cujos membros eram como criancinhas recém-nascidas que precisavam beber do leite espiritual para crescer, amadurecer na fé e na salvação. É uma carta escrita num tom pastoral, visando o bem das pessoas, orientando a conduta da comunidade, incentivando os irmãos e irmãs a permanecer unidos em Cristo Jesus, estando sempre preparados para responder às pessoas de fora a razão de sua esperança em Cristo (1Pe 3.15).
Para conduzir a comunidade o apóstolo faz uso de uma imagem bastante comum na antiguidade: pedras. Pedro escreve, “cheguem perto de Cristo, a pedra viva que Deus escolheu como pedra de grande valor . . . vocês também, como pedras vivas, deixem que Deus use vocês na construção de um templo espiritual” (1Pe 2.4-5). De fato, na antiguidade as pedras eram muito usadas para a construção de pontes, edifícios públicos, pavimentação de estradas. Algumas das pontes construídas pelos romanos estão de pé até os dias de até hoje. Foram construídas para durar.
Hoje, nesta era tecnológica do mundo digital, nós não damos tanta importância às pedras, mas elas continuam a fazer parte da nossa vida. Quem constrói uma casa usa pedras para fortalecer o seu alicerce. Pedras são utilizadas para reforçar a cabeceira de uma ponte e a construção civil depende de diferentes tipos e tamanhos de pedras para realizar seus projetos. E ainda lembramos que a indústria extrai da pedras e rochas diversos materiais para objetos do nosso dia a dia.
Na Bíblia encontramos outros momentos em que pedras fazem parte da história bíblica, tanto em sentido literal como sentido simbólico. Os Dez Mandamentos foram escritos em tábuas de pedra (Dt 5). Jesus, quando falava da destruição do enorme templo na cidade de Jerusalém, disse: “Não ficará pedra sobre pedra” (Mc 13.2). E quando criticado pelas lideranças judaicas sobre as pessoas que aclamavam a chegada de Jesus em Jerusalém, Jesus lhes responde, “se os meus seguidores se calarem, as pedras gritarão” (Lc 19.40).
No texto da carta de 1Pedro, o apóstolo também escreve sobre pedras. Não num sentido literal, mas num sentido simbólico. O apóstolo compara as pessoas da comunidade cristã a um templo, onde cada pessoa é uma pedra viva que faz parte desta construção. “Vocês também, como pedras vivas, deixem que Deus os use na construção de um templo espiritual”. Como podem pessoas ser pedras vivas? O que significa a expressão “pedras vivas”?
Estar vivo é o oposto de estar morto. Então no caso das pedras, as pedras só podem estar vivas no sentido da função, porque pedras não têm vida. Um ser vivo se desenvolve, nasce, cresce, amadurece e morre. Enquanto que pedras - pedras são algo assim, sem vida, inertes, mortas. Uma pedra no jardim não é como a planta que cresce e floresce. Portanto, quando o apóstolo escreve “pedras vivas” isto se refere ao uso que se faz das pedras. Quando usadas para o bem, pedras podem promover a vida. Por exemplo, as nossas casas onde pedras também são usadas na construção. As casas onde moramos nos protegem do frio, do calor, da chuva, proporcionam um ambiente agradável e seguro. Pedras vivas são pedras que promovem o bem.
Na comunidade cristã somos pessoas chamadas para sermos pedras vivas, ou seja: pessoas que estão aqui para somar, para ajudar com seus dons, para colaborar a favor do reino de Deus. E assim como um edifício para ser construído usa pedras de diferentes tamanhos e formas, assim também na comunidade cristã temos pessoas de jeitos diferentes jeitos, diferenças na idade e experiência de vida, uma diversidade de dons e perspectivas que juntas são usadas por Deus para a edificação do seu templo espiritual. Onde existem pessoas dispostas a trabalhar, pessoas prontas para ajudar um ao outro e apoiar o presbitério da comunidade, onde existem pessoas comprometidas para servir a Deus e ao próximo, então temos uma comunidade de pedras vivas.
Lamentavelmente existem pessoas que são como pedras mortas. E, de fato, o apóstolo Pedro nesta mesma carta chama a atenção da comunidade para atitudes que prejudicam a edificação da igreja. Ele escreve. “abandonem tudo o que é mau, toda mentira, fingimento, inveja e críticas injustas” (1Pe 2.1). Atitudes desta natureza representam pedras mortas. Atitudes desta natureza ferem e machucam a convivência em comunidade. A comunidade que vive desta forma é pedra de tropeço, um mau testemunho perante as pessoas de fora. Mentiras, fingimento e críticas injustas são como pedras lançadas na vidraça que estilhaçam o vidro da janela, abrindo um buraco na casa.
Foi isto o que aconteceu com Jesus. A carta apostólica refere-se a Jesus como a pedra rejeitada que veio a ser a mais importante de todas. A missão de Jesus, sua proposta de valorizar as pessoas, seu gesto de acolher especialmente aos pequeninos eram motivo de crítica por parte das autoridades judaicas. E assim Jesus é condenado pelos poderosos de sua época a morrer na cruz.
O plano de Deus, porém, não termina na cruz. Igreja viva se constrói com pedras vivas. Pelo poder de Deus a grande pedra que selava o túmulo de Jesus foi removida. Jesus o Cristo foi ressuscitado. Deus chamou o Jesus morto na cruz para edificar sua igreja A pedra que as lideranças judaicas e romanas rejeitaram, esta veio a ser a pedra principal. Sobre este fundamento, esta pedra viva chamada Jesus Cristo, Deus nos acolhe em sua comunidade e nos chama para viver como pedras vivas. Isto significa que toda pessoa batizada pode colaborar na construção da comunidade, cada uma com seus dons e limitações. O próprio apóstolo Pedro pode dar testemunho desta experiência de conversão e transformação. Pois um dia Jesus lhe repreendeu porque Pedro estava sendo Pedra de tropeço, “Você é como uma pedra no meu caminho para fazer com que eu tropece, pois está pensando como um ser humano pensa e não como Deus pensa” (Mt 16.23). Pela graça e bondade de Deus, Pedro, porém foi perdoado, restaurado e chamado para ser apóstolo e testemunha de Cristo Jesus.
Ouçamos nós também o chamado. A palavra que Pedro escreve vale para mim, para você, para nós, para todas as pessoas que querem estar unidas com Jesus, “cheguem perto dele, a pedra viva que Deus escolheu como pedra de grande valor . . . vocês também, como pedras vivas, deixem que Deus use vocês na construção de um templo espiritual”. Amém.