Na liturgia deste domingo meditamos a partir do relato da Transfiguração do Senhor. Quando Jesus é mais uma vez revelado como sendo o “filho amado” a quem devemos ouvir, Mc 9.7. A semana que iniciamos é uma semana especial. Estamos vivendo em dias de carnaval. Sem dúvida uma expressão cultural das mais importantes do povo brasileiro. Nosso país orgulhosamente proclama que aqui se faz o maior carnaval do mundo, capaz até mesmo de influenciar no calendário, pois como se diz: O ano só começa depois do carnaval. Carnaval mesmo em tempo de crise econômica mundial movimenta milhões. Faz esquecer os problemas. São dias de grande alegria, desfiles, festas..., bebedeiras, exageros, mortes...
As festas e folias de MOMO são seguidas da quarta-feira de cinzas. Inicia o tempo da Quaresma ou Paixão de Cristo. Os quarenta dias que antecedem a celebração da páscoa. Acabou a folia, começa a via crucis do povo, que por alguns dias esteve anestesiado, embriagado e agora deve enfrentar a realidade nua e crua.
A folia de momo dura apenas poucos dias, mas o sofrimento, a dor, a longa espera nas filas em busca de atendimento, as macas largadas nos corredores dos hospitais, consultas médicas agendadas para janeiro ou fevereiro de 2010, as mortes provocadas pela imprudência no trânsito ou por balas “perdidas” são a realidade do dia-a-dia de muitas pessoas.
No período da quaresma somos convidados a refletir e a contemplar o sofrimento de Jesus Cristo. A tônica central nas celebrações, nos círculos de estudo bíblico será a do sofrimento, da cruz e morte de nosso Senhor. Contemplação que vem de contemplar é um termo quase que estranho para muitos dentre nós. Aqui deveríamos recuperar o sentido e valor da verdadeira contemplação do sofrimento de Cristo, conforme o ensina o reformador Martin Luther em seu Sermão Sobre a Contemplação do Santo Sofrimento de Cristo.
Ao refletirmos e contemplarmos o sofrimento de Cristo somos também desafiados a atentar para o sofrimento, a dor e a cruz do povo. O caminho que percorremos durante a Paixão nos conduzirá a cruz. Não se trata de um exercício sádico ou masoquista. Nesta contemplação somos levados a reconhecer que também nós, muitas vezes, somos responsáveis pelo sofrimento de Cristo. Assim canta a Igreja:
Ó meu Jesus, que mal tu cometeste, que tão cruel sentença recebeste? Qual tua culpa? Quais os teus pecados tão castigados?
Por que motivo foste maltratado? Foi minha culpa, foi o meu pecado! Eu, meu Jesus, causei as tuas dores, teus amargores.
Ó que castigo singular e estranho: o Bom Pastor morrer por seu rebanho. Paga o Senhor a culpa dos criados já condenados. (HPD 48)
Sim, meditar e contemplar o sofrimento de Cristo nos ajuda também a nós quando nos encontramos em angústia e sofrimento. A quaresma nos revela o Cristo solidário com a humanidade caída, pecadora e sofredora. A caminhada que fazemos durante o período da quaresma nos conduzirá por fim a cruz e ao domingo da Páscoa. Na contemplação do sofrimento de Cristo somos fortalecidos, consolados e animados pelo próprio Cristo que afirma: No mundo passais por aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo, Jo 16.33.
Que tenhamos um santo e abençoado tempo da Paixão e que na contemplação do sofrimento de Cristo sejamos conscientizados de que tal foi por nós. Que este reconhecimento nos conduza ao louvor e a gratidão a Deus e com o apostolo Paulo possamos exclamar: Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
P. Odemir Simon, Pastor da IECLB em Nova Friburgo/RJ.