Estamos em pleno século 21. Era da modernidade, da tecnologia, das redes sociais, das relações virtuais. Cada dia estamos mais envolvidos nessa nova maneira de viver. Vivendo na grande cidade ou na roça, não há como viver fora dessa realidade. Por outro lado, muitas pessoas são obrigadas a viver como se não fizessem parte desse mundo. E, em muitos casos, elas estão bem ao nosso lado, enfrentando todo tipo de adversidades.
Nesse mundo da modernidade e da tecnologia, uma reflexão se faz necessária: qual é o espaço que estamos dando para a nossa fé e o exercício dos valores ensinados por Jesus Cristo? Como celebramos a páscoa? O que estamos comunicando a respeito desse evento central da fé cristã?
A Páscoa tem sua origem na experiência de libertação de um povo que era escravizado e precisou enfrentar muitas lutas em busca da liberdade. Nesta luta um povo sem casa, sem-terra fez uma profunda experiência com um Deus libertador que viu e ouviu seus clamores, compadeceu-se de seu sofrimento e tomou partido, decidindo tirá-lo da desgraça da escravidão e dando a ele uma terra que emana “leite e mel”.
Para nós, cristãos e cristãs, a Páscoa foi plenificada por Jesus Cristo que venceu o maior de nossos inimigos ao ser ressuscitado por Deus numa manhã de domingo. Jesus Cristo, o Filho de Deus, foi enviado ao mundo para anunciar que a libertação definitiva finalmente se tornaria uma realidade para todos os povos oprimidos. No entanto, como bem sabemos, essa sua ousadia de falar da chegada do Reino de Deus que acolhe todas as pessoas sem discriminação ou preconceito, sua coragem de falar da libertação dos pobres e oprimidos não foi aceita pelo poder político e religioso. Por isso Jesus é acusado, preso e condenado à morte na cruz. Mas, para surpresa de todos, inclusive dos seus discípulos, Jesus não foi vencido pela morte; ao contrário, ela foi vencida por ele.
A memória da Páscoa nos desafia a perceber, tanto na experiência da libertação do povo de Israel, quanto na ressurreição de Jesus, algo impensável para o mundo do poder: um Deus que se coloca ao lado daquelas pessoas que são exploradas e oprimidas; um Deus que não compactua com o poder, com a violência e com a morte. Assim, ao levantar Jesus do túmulo naquela manhã de domingo, Deus anima e convida seus discípulos e discípulas a continuarem sua missão em defesa da vida.
Paulo, na sua carta aos Colossenses, escreve que a pessoa cristã já vive como ressuscitada e, por isso, precisa se comprometer, assim como fez e ainda faz seu Senhor, na defesa da vida, na prática do amor ao próximo. Ou seja, a celebração da Páscoa só terá sentido quando arregaçarmos as mangas e nos colocamos em movimento, com atos concretos de amor em favor das pessoas oprimidas e exploradas do mundo de hoje. Caso contrário, ela será apenas uma celebração vazia.
O escritor José Lisboa Moreira de Oliveira afirma: “A celebração da Páscoa deve ser uma verdadeira primavera que expulse todo e qualquer mofo e frieza da Igreja e a faça pulsar de vitalidade e de acolhida da vida. Não cabe celebrar a Páscoa num contexto de rigidez e de falta de misericórdia, num ambiente em que as leis e as normas estão acima da vida das pessoas (Mc 3,1-5). Não haverá Páscoa de Jesus numa Igreja que condena e discrimina certos filhos e certas filhas de Deus; que reserva os bancos de seus templos para aqueles que se autoproclamam perfeitos e merecedores do céu”.
A celebração da Páscoa, portanto, não pode ser apenas “espiritual”, “virtual”. A celebração da Páscoa precisa sair da igreja e se fazer presente em nossas atitudes em defesa da vida dos pobres e oprimidos de hoje. A celebração da Páscoa precisa sair da igreja e se fazer presente no cuidado com nosso planeta que está morrendo, porque nós não cuidamos dele como foi pedido por Deus. Páscoa é a festa da vida, da alegria, da esperança; a celebração da vitória de Jesus sobre a morte. Mas toda essa alegria e toda essa festa será falsa e mentirosa se não vier acompanhada do compromisso com a libertação dos oprimidos de hoje, com a denúncia e o combate à violência, com o cuidado para com a criação de Deus.
A ressurreição de Jesus foi um evento do passado. Se não a vivermos hoje como força do amor em cada encontro com nosso semelhante, não passará de um folclore religioso, vazio e sem sentido. A Páscoa de Jesus nos desafia permanentemente a irmos ao encontro de nossos semelhantes, em especial daquelas pessoas mais fracas que o mundo despreza. E isso só podemos fazer quando não ficamos apenas nas relações virtuais. É preciso ver, ouvir, se compadecer, abraçar, se indignar; enfim, tomar partido pela vida de todas as pessoas. Assim, celebraremos verdadeiramente a Páscoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus, nosso Salvador. Pense nisso e tenha uma abençoada Páscoa.