Tolo é o ser humano que veste a camisa do lado avesso. Escrevo este texto no tempo da Quaresma. O tempo quaresmal nos faz ler e interpretar a história de Deus com a humanidade feita pelo lado avesso. Por quê? É muito difícil entender que Deus possa sofrer até a morte. Que uma pessoa morra, isto sim. Mas Deus que morre? A cruz lembra o estranho agir de Deus. Com freqüência tenho sido abordado: por que as igrejas cristãs históricas, de longa tradição experimentam, aparentemente, mais fracassos do que sucessos? Relaciona-se a indiferença das pessoas ou a falta de sucesso das igrejas consideradas tradicionais com a sua forma de ser e de trabalhar.
É verdade, é preciso aplicar sabedoria e criatividade para a construção de uma igreja viva, ativa que seja, de fato, “luz do mundo e sal da terra”. Afinal, não somos um museu cheirando a mofo. Por que é tão difícil fazer da comunhão eclesial um lugar de vida, comunidade missionária, sedenta por unidade, sendo luz a serviço da transformação de pessoas e de toda a sociedade? São as tradições antigas que travam o avanço missionário e mancham o convívio eclesiástico? Ou poderíamos descobrir a razão de tamanha indiferença na forma de como Deus se revelou em Jesus Cristo?
Deus é diferente. Esta constatação deveria ser o lema orientador de todas as atividades eclesiásticas; constituir a marca para ser escrita sobre todos os portais dos nossos templos, nas capas e contracapas dos nossos livros inspirados no Evangelho.
Deus é diferente: uma constatação a indicar o princípio da teologia e servir como ponto de partida para toda a sabedoria humana.
Deus escreve a história e age através dela pelo lado avesso. Depositar a confiança num Deus que garante o meu sucesso, a minha saúde, que dá garantias ao meu futuro é bem mais tranqüilo do que ser discípulo de Deus que caminha rumo à cruz, para ali ser sacrificado.
Humanos são tentados a buscar um Deus feito ao nosso modo humano de pensar. A lógica matemática não deixa dúvidas, é coerente: 2x2 são 4; na forma de Deus agir 2x2 pode ter resultado alterado.
Deus é diferente.
Além de diferente, Deus age de modo estranho: tornou-se criança e não tinha onde reclinar a sua cabeça; finalmente, desprezado, sofreu a morte cruel na cruz. Seria o fim de um Deus fracassado?
Cremos em Deus que estende a sua mão a partir da cruz. Demonstra compreensão, dá esperança aos sofredores, aos que estão “por baixo”.
A manhã da Páscoa sugere disposição para caminhar, seguir em frente, não se detendo diante da realidade da morte. Jesus, o ressuscitado, está a caminho. É Ele que nos excita a caminhar, também. Caminhar rumo à evangelização, ao serviço, à celebração, é caminho em direção à unidade dos cristãos!
Pastor Sinodal Manfredo Siegle