No domingo bem cedo, um informante levou a notícia ao Procurador Pôncio Pilatos: Apesar da rígida vigilância, o corpo de um dos três crucificados da última sexta-feira havia sumido misteriosamente da sepultura. Imediatamente, Pilatos dirigiu-se à gruta e conferiu pessoalmente o que havia acontecido. Tratava-se justamente daquele condenado a quem o povo aclamara como Rei, Messias e Filho de Deus. Pilatos ficou observando longamente o túmulo vazio. A grande e pesada pedra estava removida e quebrada. Os panos que envolveram o cadáver agora estavam espalhados pelo chão. Os guardas, profundamente apavorados. Nenhuma palavra foi proferida. Silêncio absoluto.
Ao virar-se para ir embora, Pilatos ficou frente a frente com um dos seus acompanhantes. Este percebeu que o rosto de Pilatos permanecia impassível como um deserto sem vida. Seus olhos estavam gélidos. Nenhuma emoção transparecia em seu olhar.
E nada mudou depois que Pilatos partiu do túmulo vazio. Em seu horizonte limitado, ele só enxergava até onde regras fossem cumpridas. Ordens existiam para serem obedecidas. Pessoas nascem e são executadas, julgadas e enterradas. A Ressurreição não se enquadra nessa lógica. Incontáveis julgamentos e sucessivas crucificações continuariam a levar a assinatura de Pôncio Pilatos. A ordem estabelecida deste mundo continuaria a cobrar o seu preço. Pilatos foi um dos últimos a interrogar Jesus, mas não se deu conta da oportunidade de vida que tinha diante de si. Preferiu lavar as mãos. No vocabulário dos poderosos não cabem palavras como céu, eternidade, salvação. Somente a morte mantém a última palavra.
As sombras da morte deixaram a sua marca no rosto de Pilatos. Os olhos gélidos denunciaram o vazio do seu coração. Da forma como conduzia a sua vida, não teve a capacidade de perceber a grandeza do momento: O túmulo vazio! Pilatos não se deu conta: É Páscoa!
(traduzido e adaptado de: Dürrenmatt, Friedrich - Pilatus. Citado em: Pastoralblätter, März 2013, p. 213ss. Kreuz Verlag GmbH, Freiburg, 2013)