Possuímos um livro que é um tesouro de incalculável valor. É pena que muitos ainda não descobriram este tesouro. Estou falando do nosso hinário “HINOS DO POVO DE DEUS” (HPD).
Apesar de o HPD ser fruto de um trabalho penoso de muitos anos, está longe de ser um hinário perfeito. Faltam alguns hinos preciosos que se encontravam em hinários anteriores. E foram incluídos outros hinos de menos qualidade. Mas tomando em conta o todo do HPD é aquilo que diz o título: um livro para o povo de Deus. A seleção foi feita para atender todos os tipos de membros da nossa Igreja: crianças jovens e adultos; pessoas com pouca e pessoas com melhor educação musical; membros que gostam de cantar corais, e membros que preferem canções e corinhos. Tem algo para cada um.
Folheando as páginas deste hinário descobrimos hinos desde o século VI (p.ex. nº280) até o século XX (p.ex. nº 284-286). Encontramos textos de famosos autores alemães como Martim Lutero (p.ex. nº 97), Paul Gerhardt (p.ex. nº 217), Ludwig von Zinzendorf (p.ex. nº 94) e tantos outros. Temos hinos de autores de outros países, como Austria (nº 13), França (nº 20), Japão (nº 114), Polônia (nº 122), Inglaterra (nº 125), Nova Zelândia (nº 166), Suécia (nº 176), Estados Unidos da América (nº 216) e Eslováquia (nº 270). Alguns são de uso geral em quase todas as Igrejas evangélicas no Brasil, grande parte da autoria de Sarah Poulton Kalley (p.ex. nº 84, 85, 117). E não falta uma seleção de produções de membros atuais de nossa Igreja: Oziel Campos de Oliveira Jr. (nº 71 e 229), Nelson Kirst (nº 141), Heinz Soboll (nº 167), Reynoldo Frenzel (nº 256), Ernesto Fischer (nº 285) , Alfonso Butzke (nº 286), Osmar Falk (nº 289) e Lindolfo Weingärtner (nº 135, 138, 139 e outros).
No que se refere às músicas, a variação igualmente é como um leque colorido. Temos melodias antigas (p.ex. nº 61), e da época da Reforma Luterana (p.ex. nº 155,156); composições de grandes mestres como Johann Sebastian Bach (nº 26), Georg Friedrich Haendel (nº 11), Johann Crueger (nº 65); melodias do folclore brasileiro (nº 260, 263), “negro espiritual” (nº 216), e música de contemporâneos de nossa Igreja, como Frank Graf (nº 144, 145 etc.), Hans Günther Naumann (nº 146), Micaela Berger (nº 139) Reynoldo e Marlise Frenzel (nº 256). O HPD contém melodias que se aprendem logo no primeiro cantar, e outras que levam mais tempo para entrar no ouvido. Tão diversificado como é o povo de Deus, tão variado são as melodias.
O conteúdo dos hinos também é muito vasto e abrange toda a nossa vida cristã. Em primeiro lugar temos os hinos especialmente ligados à vida e obra de Jesus Cristo, agrupados conforme as grandes datas no calendário litúrgico (nº 1-75). Depois segue um grupo de hinos sobre a Igreja, os meios de graça e nossa fé e ação (nº 76-199). Na terceiras parte temos hinos para as mais diversas situações e oportunidades da vida cristã até a morte e eternidade (nº 200-306). A subdivisão segue mais ou menos o exemplo do hinário alemão em uso na IECLB, o “Evangelisches Gesangbuch”.
Apesar do tão diversificado conteúdo dos hinos, apesar dos autores diferentes e da distância de séculos que separa um hino do outro, todo o hinário forma uma sólida unidade. Isto porque o fundamento dos hinos é a Bíblia, a Palavra de Deus. – Alguns hinos são entonações de puros textos bíblicos, principalmente de Salmos (p.ex. nº 213 = Salmo 90,1+2). Outros descrevem ou ilustram textos bíblicos (p.ex. nº 20 = Lucas 2.8-20). Ainda outros são meditações sobre palavras bíblicas (p.ex. nº 109 1. Pedro 2.4-6). Ainda outros são uma confissão de fé ou expressam a nossa resposta àquilo que Deus nos diz em sua palavra (p.ex. nº 204 = João 15.1-8). Tão diversificada como a própria Bíblia, tão colorido também é o nosso hinário. – O hinário, portanto, nos quer ajudar a entender melhor a Bíblia. Por isso muitos hinos vêm encimados com a indicação de referências bíblicas.
Como usar o nosso hinário.
O hinário, além de nos levar em direção à Bíblia, também serve para levar a mensagem bíblica aos nossos corações. E quando cantamos, levamos esta mensagem também a outras pessoas que nos ouvem.
Muitas crianças, e mesmo adultos, têm certa dificuldade na leitura; estão em pé de guerra com as letras; não gostam de ler. Por isso também não abrem a Bíblia. Mas cantando, as verdades de Deus se gravam bem mais fácil no coração. As palavras estão ligadas a uma melodia. A melodia toma conta da mente. E assim as palavras também se gravam para nunca mais serem esquecidas. Quem tem filhos pode fazer a seguinte experiência: Faça um dos filhos ler 10 vezes o Salmo 90.1+2. Com outro filho cante algumas vezes o corinho do nº 213 do nosso hinário. Depois de uma semana verifique, qual dos dois filhos ainda se lembra das palavras deste Salmo.
Dissemos no início que o HPD é um tesouro de inestimável valor. E é um tesouro que pode e deve ser usado para enriquecer a nossa vida e a de outros. Tem pessoas que usam o hinário e a Bíblia como se fosse um porta-joias, cujo conteúdo só se usa em dias de festa ou oportunidades especiais. Isto está errado. Os hinos não estão ai para enfeitar um pouco a vida, mas, sim, para alimentar a fé.
Melhor é usar o HPD como se usa a geladeira, da qual se tira diariamente os alimentos para a família de Deus. Já vimos no parágrafo sobre o conteúdo do HPD que esta “geladeira” está repleta de muitos e variados alimentos, não tem só leite, mingau e pudim para crianças na fé (ou seja: canções e corinhos fáceis de rápida aprendizagem), mas também comida substancial e nutritiva, necessária para o crescimento (ou seja: hinos que a primeira vista talvez não sejam tão atraentes para o paladar de muitos cristãos). Como ensinei meus filhos a não só comer o que é gostoso, e, sim, também o que é necessário para a saúde, assim convém escolher do hinário não só os hinos dóceis e agradáveis, mas cantar igualmente os que parecem mais difíceis e alimentam melhor a alma.
Antigamente hinários foram dados de presente aos jovens no dia da Confirmação. Pais e padrinhos que assim fizeram, sabiam do grande valor dos hinos para a vida dos filhos e afilhados. Além do uso normal do hinário nos cultos, em aulas de doutrina, grupos de OASE e JE e outras reuniões da comunidade, o hinário também deve e quer ser usado em casa, no lar, na família. – Foi na casa de meus pais que eu aprendi a amar os hinos. Cada noite, após a refeição, quando a família toda ainda estava reunida ao redor da mesa, foi cantado um hino após a leitura bíblica e meditação. O devocionário já sugeria os hinos. E quando o hino indicado não se encontrava em nosso hinário ou era demais desconhecido, nós filhos, em rodízio, podíamos escolher um hino. – É um exemplo a ser imitado. Vale a pena.
Tive o privilégio de ter pais que sabiam e gostavam de cantar. Em muitos lares cristãos não se canta mais, porque os pais não aprenderam mais a cantar, em consequência da proibição do uso da língua alemã e do fechamento das escolas particulares durante a 2ª guerra mundial. A estes dou a sugestão: cantem com os filhos o que sabem cantar, e leiam os hinos que não sabem cantar, pois o texto é mais importante do que a melodia. – Por outro lado: participem das reuniões onde se canta, para aprender e firmar mais algumas melodias. Procurem aprender pelo menos um hino novo por mês. Assim, passo por passo, podemos nos apropriar do grande tesouro do nosso hinário.
Mais uma sugestão: Quem absolutamente não tem voz para cantar, não precisa invejar aqueles que cantam, pois ele pode orar os hinos. Pois muitos (nem todos) os hinos são orações. Quem tem um hinário, já possui um livro de orações. Sempre quando o texto dum hino fala de Deus na 2ª pessoa do singular (tu, teu, ti, contigo...) temos diante de nós uma oração. Por exemplo nº 204 “Sempre quero estar contigo, sempre a ti, Jesus, servir...” todas as quatro estrofes são em forma de oração. Já no nº 222 “Quem no mundo há de magoar-me? Cristo é meu, eu sou seu...” fala de Jesus na 3ª pessoa do singular, nas 1ª e 2ª estrofes. Aí temos uma confissão de fé. Mas as 3ª e 4ª estrofes do mesmo hino passam para a 2ª pessoa “Tu me dás toda alegria” e “Eu sou teu...”; aí a confissão se transforma em diálogo com o meu Senhor.
Nosso HPD (1º Volume) contém 306 hinos e canções. Quem frequenta regularmente os cultos de todos os 52 domingos, onde se cantam na média 3 a 4 hinos, chega a cantar 150 a 200 hinos por ano. Mas quem reúne a família para cantar 1 hino por dia, passa pelo hinário inteiro durante um ano, e ainda pode repetir os 50 hinos preferidos.
Antes de finalizar convém lembrar ainda: não devemos só alimentar a nossa própria fé, mas com os hinos também devemos chamar outros para crerem em Jesus. Hinos são um ótimo meio de evangelização. A nossa missão não é só cuidar de nossa própria alma e da vida espiritual de nossos filhos, mas igualmente levar a boa nova de Jesus para os que ainda não a conhecem e para aqueles que se afastaram. Usando o hinário neste sentido, ele faz parte das boas ferramentas que devem ser usadas na vinha do Senhor.
Temos comunidades onde os jovens ou membros da OASE, na época de Advento, visitam os idosos e acamados, para, cantando, lhes levar a mensagem de esperança. Em outros lugares voluntários colaboram com missionários em campanhas evangelísticas, para, cantando, despertar os ouvintes e chama-los para o rebanho do Bom Pastor. Também há crianças que brincam de “escola dominical” e cantam o que aprenderam aos domingos, e assim levam o evangelho aos vizinhos. “Viver com Jesus é cantar” (nº 181).
Leonhard Fr. Creutzberg
De “Roteiro de Trabalho da OASE 1987” pág.63-65. Ed. Sinodal, S.Leopoldo, 1986.