Celebração


ID: 2651

Marcos 16.1-8 - Cremos em um Senhor que vive

Prédica

15/04/1979

PÁSCOA

CREMOS EM UM SENHOR QUE VIVE 

Marcos 16.1-8 (Leitura: Salmo 116)

As três mulheres que vão ao túmulo de Jesus, na madrugada do primeiro dia da semana, têm os pensamentos embotados pela morte. Elas pensam em um corpo sem vida, em um cadáver, que vão encontrar dentro da caverna que foi aberta na rocha justamente para este fim — para abrigar um cadáver — para servir de lugar de repouso aos «restos mortais» de uma criatura humana extinta. As três mulheres «pensam morte», por assim dizer. Levam aromas para embalsamar o corpo de Jesus ervas cheirosas para encobrir o hálito da morte, para deter ao menos um pouco o processo de decomposição. Elas pensam morte; e não é de se admirar: O túmulo de Jesus fica perto de uma cruz que ainda está de pé lá na colina de Gólgota. Foi ali que elas tinham experimentado todo o horror da morte; foi ai que elas tinham visto o seu Senhor sofrer, que o tinham ouvido exclamar: Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste? Não admira que elas continuem totalmente envolvidas por esta névoa de angústia e de tristeza. Não admira que elas não estejam pensando em outra coisa, a não ser em ervas cheirosas e na pedra pesada que tinha sido colocada à entrada do túmulo de Jesus: «Quem nos removerá a pedra da entrada do túmulo?» 

Como são humanas estas três criaturas: Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé! Elas agem como nós agimos. Todos sabemos que, quando a morte falou, não adianta discutir com ela. Sabemos que contra a morte não há recurso — não há nada a fazer, a não ser, entregar o corpo à terra: Terra à terra, cinza à cinza e pó ao pó! E apesar disto todos fazemos de conta de que é possível fazer alguma coisa: Levar aromas, levar buquês de flores, colocar coroas com fitas que expressam a nossa saudade: acender velas, escolher a melhor funerária, o caixão mais precioso, encomendar uma lápide memorial condigna. . . 

Você dirá: Sim, mas isso tudo se faz por amor. É o último serviço que somos capazes de prestar a uma pessoa querida, que nos acaba de ser arrancada pela morte. Ai a gente não mede esforços, não mede despesas. Faz o que pode! Sim, é verdade. O amor está presente — assim como está presente nos corações das três mulheres que vão ao túmulo de Jesus, na manhã da primeira Páscoa. Mas é um amor ferido, um amor perturbado e desconsolado conformado com o inevitável, talvez, mas um amor sem saída. Amor que não vê mais nenhum caminho em sua frente, já que o caminho terminou perante o abismo da morte. A morte destruiu aquilo que parece dar sentido ao próprio amor: O convívio real com uma pessoa que possamos amar, com a qual possamos falar, com a qual possamos compartilhar dores e alegrias. coração humano ingênuo, ó amor humano irracional e tolo — e ao mesmo tempo comovente: Tu queres fazer alguma coisa onde evidentemente nada há a fazer. Queres agir onde ação nenhuma faz sentido. Onde o homem está no fim, onde encontrou seu limite intransponível! Para entendermos a mensagem da Páscoa, será preciso termos chegado conscientemente a este limite. 

Para entendermos o aleluia pascoal, será preciso, antes, termos passado pelo desespero da experiência que Jesus teve, em representação de todos nós, ao morrer: «Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste!» Porque a esperança pascoal não nasce da saudade do coração humano. Não é um sonho, um ideal em que acreditamos. O acontecimento da Páscoa vem de surpresa. Ele vem contra todas as expectativas das três mulheres que estão aí paradas com suas ervas aromáticas e com sua preocupação em acharem acesso a um cadáver, A mensagem da ressurreição irrompe na vida de pessoas desesperadas — vem como milagre, como evento que nenhum homem é capaz de imaginar ou de prever. 

A mensagem da ressurreição vem da parte de Deus. «Um jovem vestido de branco» é o mensageiro de Deus, cujas vestes já indicam que ele não vem daquele mundo de negra tristeza, mundo de luto, mundo preocupado com ervas aromáticas, preparadas para encobrirem o cheiro da morte. É um mensageiro diferente de qualquer outro que já tenha transmitido um recado a ouvidos humanos. Ele traz a mensagem da própria vida; «Não vos atemorizeis. Buscais a Jesus, o nazareno que foi crucificado; ele ressurgiu, não está mais aqui; vede o lugar onde o tinham posto.» 

«Ele ressurgiu!» — Esta mensagem rasga o véu da tristeza que tinha embaciado o olhar das mulheres. Afasta o cheiro das ervas aromáticas, afasta as preocupações pelo corpo inanimado, pela pedra que fecha o acesso ao túmulo. A pedra foi revolvida, e o corpo já não está aí. O Jesus morto que elas tinham procurado, não está aí. Elas vêem um lugar vazio, mas dentro deste vazio ressoa a mensagem, e esta mensagem jubilosa invade o vazio de seus corações, que agora já não estão vazios: Ele ressurgiu. O Cristo vive. Vive vida glorificada, depois de passar pelo abismo escuro da morte: Vive o crucificado, o que o mundo tinha rejeitado e desprezado. Deus lhe deu a vitória sobre este mundo dominado pela escuridão, pelo medo, pela tristeza, pela injustiça. Ele ressurgiu: Estas palavras são o fundamento da igreja de Cristo. A igreja de Cristo é o povo que pode dizer: Nós fomos salvos, fomos resgatados por Jesus Cristo que, após morrer por nós na cruz, ressurgiu. O Senhor que vive — para que nós também vivamos. Não cremos em um Senhor morto, Um Senhor que precisasse de ervas aromáticas. Cremos em um Senhor que morreu e ressuscitou. Só à luz da Páscoa entendemos o que aconteceu na Sexta-feira Santa. Assim foi com os primeiros discípulos — assim acontece conosco. 

Conosco? Talvez você pergunte: Mas onde está acontecendo? Onde está aquele jovem de branco que me diga a mensagem, que me arranque de minha tristeza, que espante a névoa do desespero de minha vida? Eu vejo a cruz, ouço o choro e os lamentos, cheiro as ervas aromáticas, sinto a solidão — mas o mensageiro da esperança — onde se encontra? 

Pois eu lhe digo: O mensageiro da esperança desapareceu por detrás da mensagem. É assim que fazem os anjos de Deus. Sempre. Eles dão o recado, e depois deixam a mensagem agir. Assim fizeram com Maria, mãe de Jesus, assim fizeram com os pastores no campo de Belém. Não pergunte, pois, pelo mensageiro. Ele poderá ser qualquer humilde cristão, um moço de recados de Deus nada brilhante, pode ser um pregador, pode ser o autor de uma prédica escrita. O que realmente importa é a mensagem que ele dá. E esta mensagem não desaparece. Ela fica para correr mundo. Às vezes ela corre, apesar dos mensageiros. Apesar do seu medo, de sua falta de jeito e de habilidade. Apesar de suas fraquezas e dúvidas. Veja o caso das três mulheres: O mensageiro de Deus as mandou levar a mensagem da ressurreição adiante, proclamá-la aos discípulos. E o que elas fazem? Elas fogem do sepulcro, porque estão possuídas de temor e de assombro; e de medo nada dizem a ninguém. Não foi uma falha evidente das primeiros mensageiras do evangelho da Páscoa? Como a mensagem poderá correr mundo, se os mensageiros são tão fracos, tão falhos — tão pouco parecidos com o jovem de vestes brancas que se achava no túmulo vazio de Jesus? Pois nós sabemos que a mensagem pascoal chegou mesmo assim aos discípulos sussurrada, talvez, em segredo mas ela chegou. E depois não parou mais — apesar de Tomé, que não queria acreditar na ressurreição de Jesus. Apesar de Pedro, que não queria levá-la para outros povos, que queria trancá-la na Palestina. A mensagem da ressurreição não precisa ser impingida nas pessoas, com propaganda jeitosa. Ela se propaga a si mesma não de forma mágica; ela se propaga, transformando as pessoas que atinge. Assim como transformou Paulo, ao atingi-lo perto da cidade de Damasco. Fazendo dele um instrumento de Deus, no momento em que ele estava empenhado em destruir o povo de Cristo. 

E como a mensagem consegue tudo isso? Se não é pelo poder, pela personalidade dos mensageiros, se não é por palavras bem colocadas qual é o segredo do poder sempre renovado do evangelho da ressurreição? Ouçamos mais uma vez o nosso texto: «Dizei a seus discípulos e a Pedro que ele irá adiante de vós para a Galileia. Aí o vereis, como ele vos disse.» — O segredo do poder da mensagem pascoal é o próprio Senhor vivo que vai adiante de seus mensageiros. Não só para a Galileia, mas a qualquer lugar da terra onde sua ressurreição é proclamada. Se realmente contarmos com a presença do Cristo vivo, então poderemos balbuciar a mensagem, poderemos gaguejar, poderemos fazer erros de gramática: o Senhor ressurgido se manifestará — apesar de tudo. Lembro uma palavra do Conde Zinzendorf que disse aos seus missionários que enviou aos índios americanos e aos esquimós da Groenlândia: «Não pensem que vocês estão levando Cristo para esta gente. Ele está lá antes de vocês.» 

Talvez precisemos ficar bem conscientes deste fato: Cristo o ressurgido está também entre nós, antes que qualquer mensageiro nos convença, e apesar das falhas e da pouca fé de seus discípulos. É ele quem garante, quem dá o lastro a sua mensagem. É uma coisa inaudita: para você, que lê, que escuta estas palavras, o Cristo ressurgido, o Salvador do mundo está presente. Ele já estava presente antes de você ler estas linhas. Ele o fez abrir este livro, ele o fez dar atenção a estas palavras. Cristo vive para você. Quer dizer que você não precisa mais olhar o futuro como um abismo escuro. Você não precisa mais andar abatido e preocupado. Sua vida poderá ser iluminada e agraciada pelo evangelho, e o próprio Cristo vivo será a garantia, de que esta luz não se apague e de que esta graça não perca o poder. Você sentirá o impulso de levar esta boa nova adiante, e ao obedecer a este impulso, sua vontade de seguir o Cristo vivo crescerá. Experimentará em sua própria vida que está seguindo um Cristo que vive e que faz viver.
Você não se vai esquecer da cruz, enquanto este recado de Deus lhe iluminar o coração. A cruz continua de pé, enquanto este mundo durar. Mas o brilho de Páscoa a transforma e glorifica. A resposta definitiva a todo o sofrimento humano, que se concentrou na cruz de Cristo, é a ressurreição. «O Ressurreto» este será agora o nome de Jesus. E «os que esperam pela ressurreição» — este é o nome de seus discípulos até o dia em que vier o Senhor. 

Oremos: Senhor ressurgido, nosso Salvador! Dá-nos a certeza de que tu vives e que fazes viver. Não permitas que olhemos para a morte, fascinados e temerosos, como se ela tivesse a última palavra. Faze-nos levantar a cabeça. Faze-nos viver como discípulos que confiam na presença de seu Senhor e que crêem em sua própria ressurreição. Dá que nossa vida inteira seja iluminada pela luz desta esperança. Amém.

Veja:

Lindolfo Weingärtner

 Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão

 Editora Sinodal

 São Leopoldo - RS


 


Autor(a): Lindolfo Weingärtner
Âmbito: IECLB
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Natureza do Domingo: Páscoa

Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 16 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 8
Título da publicação: Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1979
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19533

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Arrisco e coloco a minha confiança somente no único Deus, invisível e incompreensível, o que criou o céu e a terra.
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