Celebração


ID: 2651

João 14.15-21 - 6° Domingo da Páscoa - 14/05/2023

Auxílio Homilético

14/05/2023

 

Prédica: João 14.15-21
Leituras: Atos 17.22.31 e 1 Pedro 3.13-22
Autoria: Luís Henrique Sievers
Data Litúrgica: 6° Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 14/05/2023
Proclamar Libertação - Volume: XLVII

 

Quem ama será amado

1. Introdução

O texto da prédica está inserido numa longa fala de Jesus aos seus discípulos com tom de despedida. Esse contexto é teologicamente denso. Entrelaça-se com o texto da prédica. Há conexões esclarecedoras, que enriquecem sua compreensão. O discurso começa no capítulo 13.1, com o lava-pés, e termina em 17.26, com uma oração (“oração sacerdotal”). Jesus ora não apenas pelos seus seguidores de primeira hora, mas pelas pessoas que vão crer em mim por meio da mensagem deles (17.20). Na sua despedida, ele faz uma promessa consoladora: Eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Auxiliador para ficar com vocês para sempre (Jo 14.16).

As leituras bíblicas relacionam-se com o texto da prédica. Auxiliam em sua compreensão. Atos 17.22-31 relata o discurso de Paulo na reunião da Câmara Municipal de Atenas. A mensagem do Evangelho está seguindo o seu curso. Sua proclamação tem levado mais pessoas à fé em Jesus Cristo, confirmando a presença e a ação do Espírito Santo prometido por Jesus. O texto de Atos também revela uma metodologia: o respeito e a consideração de Paulo pela religiosidade dos seus ouvintes. Ele dialoga com ela. Não atropela, mas encontra uma “brecha” (o altar ao Deus Desconhecido) para dar o seu próprio testemunho.

1 Pedro 3.13-22 faz referência aos riscos que os seguidores e as seguidoras de Jesus correm no anúncio da sua mensagem: Como vocês serão felizes se tiverem de sofrer por fazerem o que é certo! (v. 14). A perseguição e a ameaça de morte, porém, não são motivos para abandonar a educação e o respeito: Tenham sempre a consciência limpa. Assim, quando vocês forem insultados, os que falarem mal da boa conduta de vocês como seguidores de Cristo ficarão envergonhados (v. 16).

2. Exegese

A tradução da Bíblia Almeida Revista e Atualizada (ARA) coloca o versículo 15 no final do bloco anterior. A Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH), por sua vez, posiciona-o no início do conjunto de versículos da prédica. O presente estudo segue a versão da NTLH.

V. 15 – “Se” é uma conjunção condicionante para que algo se realize. Nesse caso, o amor a Jesus é a condicionante para que os seus mandamentos sejam realmente guardados. Também a obediência aos Dez Mandamentos tem como condicionante o amor: Portanto, amem o Senhor, nosso Deus, com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças (Dt 6.5). Jesus, portanto, é consequente: A pessoa que não me ama não obedece à minha mensagem (v. 24). Sem amor, não há obediência e seguimento, no sentido prático do verbo guardar.

V. 16 – Jesus vai pedir ao Pai por “outro Auxiliador”, “outro Consolador”, “outro Defensor”. Esses são títulos possíveis contidos no significado da palavra grega paraklētos. Os discípulos conhecerão o Espírito Santo e terão a sua companhia para sempre, bem como a de Jesus e a do Pai, através do amor correspondido: E meu Pai e eu viremos viver com ela (v. 23). As funções do Espírito Santo também são definidas por Jesus no seu discurso de despedida: ensinará e fará lembrar (14.26), falará de Jesus (15.26), convencerá as pessoas (16.8). No contexto joanino, “o Espírito da verdade” é uma referência a Jesus: A Palavra se tornou um ser humano e morou entre nós, cheia de amor e de verdade (1.14). O paraklētos tem a missão de apontar para o caminho, a verdade e a vida (14.6).

V. 17 – Nem todos podem receber esse Espírito. Apenas os poucos que creram e receberam a Palavra (1.12). A falta de fé e de amor em Jesus cria uma espécie de cegueira, barreira, que impede o reconhecimento da presença do Espírito. Contudo, é a presença dessa mesma fé e desse mesmo amor que faz com que o Pai e o Filho venham viver com a pessoa crente (v. 23) e fará com que o Espírito seja conhecido e habite no interior dos discípulos.

V. 18 – Jesus não quer que seus discípulos entendam sua despedida como abandono e privação da sua presença (grego: orfanos – órfãos). Não se trata de um estado de orfandade, mas de um tempo de espera pelo seu retorno, um “até logo”: “Voltarei para ficar com vocês”. Encontramos no v. 29, do mesmo capítulo, a motivação para antecipar sua despedida: Digo isso agora, antes que essas coisas aconteçam, para que quando acontecerem, vocês creiam.

V. 19 – As palavras iniciais deste versículo se repetem, quase literalmente, em 16.16. O contexto é de dúvida e cochichos entre os discípulos: O que será que ele quer dizer? (16.17). Em resposta, Jesus comparou a situação dos discípulos com a de uma mulher grávida, triste por ter chegado a hora do parto, mas muito alegre após o nascimento da criança. Ele segue dizendo que assim acontece também com vocês: agora estão tristes, mas eu os verei novamente. Aí vocês ficarão cheios de alegria [...] (16.21-22). Essa alegria é a visão do ressuscitado e a promessa contida nela: porque eu vivo, vocês também viverão.

V. 20 – Quando chegar aquele dia, naquele dia ou naquele tempo, conforme a tradição profética, faz referência ao momento em que Deus intervém na história e promove a realização das suas promessas. Um tempo determinado apenas por ele. A sequência do versículo aponta para o período após a ressurreição. A promessa de vida, expressa no verso anterior, está vinculada à união, estar em: Jesus no Pai, os discípulos em Jesus e, ele, por sua vez, nos discípulos. A figura da videira, no capítulo seguinte, serve como exemplo: Eu sou a videira verdadeira, e o meu pai é o lavrador [...] e vocês são os ramos (15.1 e 5).

V. 21 – Nosso texto começa se dirigindo aos discípulos (Se vocês me amam...) e termina com uma ampliação: A pessoa que me ama... Aqui já aparecem as pessoas que vão crer em Jesus por meio da mensagem dos discípulos, segundo a “oração sacerdotal” (17.20). Para ambos os grupos vale o mesmo critério: amar a Jesus para guardar seus mandamentos e guardar seus mandamentos como sinal de amor a ele. São duas coisas interdependentes e vinculadas. Esse amor será correspondido. A pessoa que vir a crer, assim como os discípulos da primeira hora, será amada pelo Pai e por Jesus, que se dará a conhecer nessa relação.

3. Meditação

Não fiquem aflitos. Creiam em Deus e creiam também em mim. Com essas palavras de Jesus começa o capítulo dentro do qual se encontra nosso texto de prédica. Comentando João 14.1, Lutero escreve: “Ele profere este sermão a fim de consolá-los e fortalecê-los duplamente: contra a tristeza presente, causada pela sua partida, e contra o sofrimento futuro, que lhes sobreviria” (Lutero, 2010, p. 45). A promessa de outro Auxiliador, o Espírito Santo, revela os cuidados de Jesus para com os seus seguidores no presente e no futuro.

As aparições de Jesus ressurreto realizaram a promessa do v. 19: daqui a pouco o mundo não me verá mais, mas vocês me verão. A prisão e a morte de Jesusnão representaram o fim. Para a alegria dos discípulos, Jesus ressurreto foi avistado e tocado. No Evangelho de João, ele aparece a Maria Madalena: Vi o Senhor!(20.18). Jesus aparece aos discípulos: E eles ficaram muito alegres ao verem o Senhor (20.20). Também foi o momento de soprar sobre eles o Espírito Santo (v. 22). Após tocar nas feridas de Jesus, Tomé exclamou: Meu Senhor e meu Deus! (v. 28). Jesus ainda aparece a mais sete discípulos, no início do capítulo 21. Com essas aparições não havia, portanto, razões para os discípulos se sentirem órfãos.

Jesus coloca a sua morte numa outra perspectiva: não de um fim, mas de um novo começo, um novo período da caminhada de seus seguidores e suas seguidoras,da igreja, até a sua segunda vinda, com a plenitude do Reino de Deus. A marca desse período é a prática dos mandamentos de Jesus como sinal do amor a ele. O Espírito Santo estará presente e viverá em cada pessoa que o ama e guarda seus mandamentos: Quem está unido comigo e eu com ele, esse dá muito fruto porque sem mim vocês não podem fazer nada (15.5).

Marcos (16.19-20) e Lucas (24.50-53) relatam a ascensão de Jesus. Mateus e João não. Mas, de alguma forma, também para a comunidade joanina a alegriadas aparições de Jesus teve um fim. Passou o período de ver e tocar o Senhor. Por isso, felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram! (20.29). Essaé a obra do paraklētos, que ensina as coisas a respeito de Jesus e faz os discípulos lembrarem de tudo, de geração em geração, convencendo e levando outras pessoas à fé. Esse movimento é possível perceber nas palavras do apóstolo Paulo: Porque recebi do Senhor este ensinamento que passei para vocês (1Co 11.23).

Quem não viu, quem não foi testemunha ocular, mas mesmo assim chegou à fé em Jesus Cristo, pelo testemunho dos apóstolos e a pregação da palavra, cheia de amor e de verdade, tem a promessa da presença do Pai e do Filho: A pessoa que aceita e obedece aos meus mandamentos, prova que me ama. E a pessoa que me ama será amada pelo meu Pai, e eu também a amarei e lhes mostrarei quem sou [...] E o meu Pai e eu viremos viver com ela (14.21 e 23). Essa pessoa se encontra sob as mesmas condições dos discípulos da primeira hora, que viram e tocaram em Jesus. Também para ela, ele se mostrará, se revelará.

Os olhos da fé são diferentes. Eles são abertos por vários modos. Talvez o primeiro e mais importante seja aquele referido pelo apóstolo Paulo: Portanto, a fé vem por ouvir a mensagem, e a mensagem vem por meio da pregação a respeito de Cristo (Rm 10.17). Lutero destaca os sacramentos do Batismo e da Santa Ceia como atualização da mensagem de Jesus e veículos da graça de Deus. E, não por último, a prática do mandamento do amor tem a capacidade de abrir os olhos da fé: Se tiverem amor uns pelos outros, todos saberão que vocês são meus discípulos (13.35).

4. Imagens para a prédica

O capítulo subsequente ao texto da prédica fornece uma imagem, utilizada pelo próprio Jesus, para exemplificar a unidade no amor. Trata-se do lavrador, da videira, dos ramos e dos frutos (15.1-10).

Caso a ênfase seja a despedida, no sentido de um “até logo!”, um sofrimento passageiro, a imagem sugerida pelo próprio contexto é o da mulher grávida (16.21-22). A alegria do nascimento da criança faz esquecer todo o sofrimento. A promessa de retorno de Jesus faz aguentar os sofrimentos do presente. E essa alegria ninguém pode tirar.

5. Subsídios litúrgicos

Oração do dia: Deus de amor, ensina-nos a amar para que sejamos reconhecidos como discípulos e discípulas de teu filho Jesus Cristo. Sopra sobre nós o Espírito Santo, para que possamos guardar seus mandamentos. Dá-nos forças para um testemunho de vida coerente, em palavras e ações. A tua Palavra seja como semente que cai em terra fértil e produza frutos em nossa vida. Fica com todos nós, juntamente com Jesus e o Espírito Santo. Faz em nós morada. Assim te pedimos, por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém

Cantos: LCI 508: Amor que nos salva; LCI 588: Quem quer cantar do amor; LCI 572: No Espírito, unidos; LCI 568: Nem só palavra é o amor; LCI 461: Espírito, verdade.

Bibliografia

LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia; Canoas: Ulbra, 2010. v. 11.
NOVO TESTAMENTO INTERLINEAR GREGO-PORTUGUÊS. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004.
O NOVO COMENTÁRIO DA BÍBLIA. 3. ed. São Paulo: Vida Nova, 1997.


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Autor(a): Luís Henrique Sievers
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 6º Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 14 / Versículo Inicial: 14 / Versículo Final: 21
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2022 / Volume: 47
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 69498

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