Celebração


ID: 2651

João 13.31-35

Prédica

23/03/1969

João 13.31-35 - JUDICA

E, quando ele saiu, Jesus disse: Agora, e glorificado o Filho do Homem, e Deus é glorificado nele. Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificar em si próprio; e o glorificara imediatamente. (Meus) filhos, ainda por pouco tempo estou com voais. Vocês me procurara-o; e assim como eu disse aos judeus, digo agora também a vocês: Para onde eu vou, vocês não podem ir. Dou a vocês um novo mandamento: que vocês se amem uns aos outros; assim como eu os amei, que também vocês se amem uns aos outros. Nisso todos conhecerão que vocês são meus discípulos, se tiverem amor uns aos outros. 

Prezada comunidade! 

Um trecho magnífico, este que acabamos de ouvir! Um trecho carregado, prenhe de conteúdo Um trecho que cabe mais do que bem nesta época da Paixão, por ser o legado derradeiro de Jesus aos seus seguidores, às vésperas de sua morte. 

Jesus encontrava-se reunido com seus discípulos, celebrando aquela que seria sua última ceia com eles. E é lá que ele aponta Judas, o traidor, e lhe diz: O que pretendes fazer, faze-o depressa. E Judas se retira. E com isso começa a rolar aquela série de acontecimentos, que chamamos de Paixão e que haveria de culminar com a morte de Jesus Cristo. 

E, quando ele (Judas) saiu, Jesus disse: Agora é glorificado o filho do Homem, e Deus é glorificado nele. Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si próprio; e o glorificara imediatamente. No momento em que Judas se retira, no momento em que se inicia a Paixão, os sofrimentos e a morte de Jesus, o Mestre diz: Agora é glorificado o Filho do Homem, e Deus é glorificado nele.

Que quer dizer isso? 

Se algo se glorifica em alguém, isso significa que neste alguém se manifesta a glória daquele algo. Vejamos um exemplo: Suponhamos que aqui na obra trabalha um pedreiro, seu João. Seu João executa um trabalho exemplar. Serviço que ele faz nem precisa ser conferido, porque é 100% sempre. Ele cumpre sua tarefa de pedreiro de maneira ideal, perfeita. Pedreiro melhor, impossível. Pois bem, neste seu João é glorificado o pedreiro, a profissão de pedreiro. Melhor ainda: No trabalho deste homem se manifesta a glória do pedreiro. 

Jesus não era pedreiro. Sua tarefa não era erguer paredes e construir com tijolo e cimento. Sua tarefa foi: cumprir a missão que Deus lhe outorgou, entregando-se para salvar a humanidade mergulhada no pecado; revelando assim o nosso Deus que nos quer bem. Esta foi a tarefa de Jesus de Nazaré. E a fase culminante e decisiva no cumprimento desta sua tarefa foi aquele período que começou com a sarda de Judas e terminou com o seu corpo pendendo na cruz. O importante agora é isso: Neste sofrimento e nesta morte, Jesus estava cumprindo de maneira ideal, excelente, absolutamente perfeita, a sua tarefa de Deus-homem (como aquele seu João cumpre sua tarefa de pedreiro de maneira exemplar). Por isso manifestou-se naquele sofrimento e na morte de Jesus a glória toda de Deus. Agora é glorificado o Filho do Homem, e Deus é glorificado nele. Agora, isto é, neste sofrimento e nesta morte, que agora começam a acontecer. Ali, no Jesus Cristo sofredor, no Jesus Cristo crucificado, Deus se manifesta a nós, em toda sua essência, em tudo o que ele significa para nós. Manifesta-se como o Deus que nos ama, que nos quer bem, que não quer a nossa perdição, mas a nossa salvação. 

E notem que não se trata de um evento afastado de nós pelo espaço de quase 2 mil anos. Este agora vale aqui para nos, para cada um de nós. Este agora é este preciso momento. Aquele sofrimento e aquela morte têm relevância existencial para nós, hoje. Pois é só lá, na cruz, que se revela para nós a glória de Deus; é só lá, e em nenhum outro lugar deste mundo, que descobrimos quem de fato é Deus: Não o tirano implacável, não o mero arquiteto do Universo, mas o Deus-amor, que se preocupa conosco. 

I I

Meus filhos, ainda por pouco tempo estou com vocês. Jesus está prestes a partir, prestes a deixar seus discípulos a sós. Mas antes que isso aconteça, deixa-lhes duas admoestações. Duas palavras que deverão nortear não só a vida daquele punhado de homens, mas de todos os sinceros seguidores daquele filho de marceneiro, pelos séculos a fora. 

Vocês me procurarão; e assim como eu disse aos judeus, digo agora também a vocês: Para onde eu vou, vocês - no podem ir! Um golpe duro! Uma dura realidade, tanto para aqueles discípulos, como para todo o crente. Depois que deixa o nosso meio, Jesus proíbe-nos de procurá-lo. E não há mais contato direto com ele, desde então. Para onde ele foi, nós não podemos ir. Onde ele está', nós não podemos estar. Ele mesmo o disse. Por isso tem que falhar qualquer tentativa de chegarmos diretamente a Jesus. Por isso tem que falhar todo misticismo, que pretende elevar o homem a esferas onde poderia unir-se a Deus. Jesus não está mais ao nosso alcance direto. A partir de então, sé chegamos a ele indiretamente: crendo no que nos dizem suas testemunhas. Só assim! 

No entanto, prezada comunidade, tudo isso, essa nossa impossibilidade de procurar e manter uma relação direta com Jesus, é só um lado da moeda, é só a outra face da nova e positiva realidade do cristão. 

III

Dou a vocês um novo mandamento: que vocês se amem uns aos outros. Depois, diz Jesus, quando eu não estiver mais aí; isto é, hoje, que eu não estou mais ai, a vida de vocês, como cristãos, deve ser esta: Não correr atrás de mim em labirintos obscuros, não gastar-se numa procura infrutífera, não ficar mergulhados no misticismo e nos conventos, no ficar apodrecendo dentro dos muros das igrejas. Não é assim que vocês serão meus seguidores. 

Ser cristão é bem outra coisa. É procurar Cristo no nosso semelhante. É romper os muros que nos isolam e separam nos conventos e nas igrejas, é sair de nós, é amar-nos uns aos outros. Só assim e de nenhum outro modo. Foi ele mesmo que o disse. 

Aliás, não o disse a título de sugestão, de um bom conselho. Não! Ele ordenou, mandou! Dou a vocês um novo mandamento! isto quer dizer: Ser cristão, ser meu seguidor é assim! Outro jeito não há. De outro jeito se pode ser outra coisa qualquer, mas não cristão. E, no entanto, é uma ordem, um mandamento dentro do Evangelho, dentro da graça. Pois com essa ordem Jesus simultaneamente nos liberta, rompe as cordas que nos prendem ânsia cega e infrutífera de querer captá-lo diretamente. Ele nos diz: Libertem-se disso e procurem-me no seu semelhante; é lá que eu estou. O que fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. 

Assim como eu os amei, que também vocês se amem uns aos outros. É por isso! Na Paixão, naquele sofrimento e naquela morte, Jesus demonstrou que nos ama mais do que qualquer ser humano jamais será capaz de nos amar. E é nesse ato de amor por nós, nesta cruz, que o cristão pode e deve fundamentar o seu amor pelos outros. Meu amor, minha dedicação pelo outro sempre será pelos outros. Meu amor, minha dedicação pelo outro sempre será periclitante e até ambígua e duvidosa se eu a fundamentar numa simples simpatia, na boa vontade, no bom senso, na boa vizinhança ou num humanismo vago. Amor que é amor mesmo, firme, não submisso aos caprichos do nosso comodismo, às nossas veleidades - este amor só pode ter aquele que compreendeu mesmo o que significa a cruz de Cristo e que busca, lá, as forças para amar. 

Nisso todos conhecerão que vocês são meus discípulos, se tiverem amor uns aos outros. Se tiverem amor uns aos outros: Quem? Sé os que estão na Igreja, na comunidade? Não! Jesus no diz: Vocês são meus discípulos, são Igreja; agora amem-se mutuamente, para que todos também desconfiem. Não! Ele diz assim: Onde houver amor mútuo, amor que se baseia na minha cruz, aí haverá Igreja, aí estarão discípulos meus, seguidores meus. Os verdadeiros discípulos de Jesus estão na pratica do amor e não coincidem necessariamente com os nomes do fichário da Secretaria! Na prática do amor! Não de um amor introvertido, fechado, mas extrovertido, aberto, expansivo. 

E este amor - se de fato o for - deve ter uma característica toda especial. Onde for praticado, ele dá na vista. Todos conhecerão, todos perceberão. Este amor deve ter algo de estranho em si, deve ser algo fora do comum, deve obedecer as regras de conduta, que normalmente não norteiam o comportamento dos homens. Deve ser um amor que atrapalha; que estorva; que não se acomoda como o mundo se acomoda; que não conhece tabus como o mundo os conhece; que rompe as barreiras de classes que o mundo ergue; que se gasta e entrega como o mundo não o faz.

Sim, prezada comunidade, e agora? O que quer dizer tudo isso? Palavras bonitas, eloquentes talvez? Palavras pouco realistas? Melosas? Conversa típica de pastor? Pode ser - para alguns, para muitos, talvez até para a maioria. Conversa típica de pastor... Mas realidade, dura realidade, realidade vivida e sofrida, realidade maravilhosa e cheia de bênçãos para os que compreenderam uma coisa: na cruz Cristo morreu por mim; na cruz Deus nos amou até a exaustão, até o último limite; na cruz manifestou-se a glória de Deus - para mim! Amém. 

Oremos: Senhor Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo e por meu intermédio nosso Pai, tu és glorificado no sofrimento e na morte de teu Filho, Na sua cruz tu nos mostras quem tu és; lá tu demonstras que nos amas. Solidifica e fortalece a nossa fé neste teu amor, para que possamos amar-nos uns aos outros como teu Filho Jesus Cristo nos amou, para que possamos ser seus verdadeiros seguidores. Amém.

Veja:
Nelson Kirst
Vai e fala! - Prédicas
Editora Sinodal
São Leopoldo - RS
 


Autor(a): Nelson Kirst
Âmbito: IECLB
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Natureza do Domingo: Quaresma
Perfil do Domingo: 5º Domingo na Quaresma
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 13 / Versículo Inicial: 31 / Versículo Final: 35
Título da publicação: Vai e fala! - Prédicas / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1978
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 20306

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