O que é que eu quero que vocês façam nos dias de jejum? Será que desejo que passem fome, que se curvem como um bambu, que vistam roupa feita de pano grosseiro e se deitem em cima de cinzas? É isso o que vocês chamam de jejum? Acham que um dia de jejum assim me agrada? Não! Não é esse o jejum que eu quero. Eu quero que soltem aqueles que foram presos injustamente, que tirem de cima deles o peso que os faz sofrer, que ponham em liberdade os que estão sendo oprimidos, que acabem com todo tipo de escravidão. Isaías 58.5s.
O jejum é um costume esquecido no geral da sociedade ocidental. Jejum não está na moda. Mas, existem pequenos grupos que em meio do consumismo acelerado pedem para rever os valores que isso traz. O jejum é uma prática comum a muitas religiões: judaísmo, islamismo, baha’i, hinduísmo, cristianismo. Vi com interesse outro dia uma reportagem com um muçulmano morando na Alemanha que indicava a grande dificuldade de poder fazer o jejum no mês de Ramadan, que estabelecia o jejum entre a saída e o pôr do sol. No meio de uma sociedade que se chama cristã, esse senhor não podia jejuar.
A grande maioria de nós não conhece e pratica o jejum de forma sistemática. Na tradição luterana não é preciso jejuar, pois a obrigatoriedade foi vista como uma obra que procurava a salvação. Assim, pouco a pouco foi sendo deixado de lado. O jejum hoje é visto como coisa esquisita, e se for realizado é praticado geralmente de forma individual. Mas, cada vez mais se está procurando volver à prática do jejum. Existem exemplos na IECLB com Retiros de Jejum e Desintoxicação, onde as pessoas durante uma semana podem descansar, relaxar de suas atividades diárias, aliviar a carga de seu organismo e renovar a sua vida espiritual e psicológica. Tendo tempo para refletir e avaliar a vida e poder iniciar uma nova fase.
Se bem é verdade que existem pessoas que jejuam eternamente, pois não tem alimentos para suprir suas necessidades mínimas de comida. Cada vez mais, existem pessoas com excesso de peso. O que aconteceria se nos começássemos a jejuar de tanto consumismo? Em nossa sociedade atual o jejum é um contra-valor, se a norma é o consumo, o contrário é considerado como um pecado e faz com que todas as pessoas sejam “prejudicadas” diante disso. Pois, a falta de compra de um bem de consumo faz com que as fábricas diminuam sua produção e as pessoas percam o emprego. Isso foi o que aconteceu nos Estados Unidos e na Europa com a recente crise econômica. Mas, é justamente o sinal de um sistema falido que não ajuda às pessoas a serem melhores e a viver realmente melhor, é a fantasia da bolha, que mais tarde ou mais cedo estourará.
A criação precisa de um jejum para se recompor. Por exemplo, quantas árvores ficariam vivas e não virariam pastagem se as pessoas jejuassem de carne de vaca? Quantas espécies ficariam fora do perigo de extinção ao deixar de ser caçadas para satisfazer um desejo?
Que aconteceria se os corruptos jejuarem? Se os usuários de drogas se abstivessem? Se os motoristas jejuassem de pisar fundo no acelerador? Como o mundo seria diferente!
O jejum material é necessário para nós e o mundo, mas também o jejum espiritual que no fim das contas leva ao primeiro.
Para terminar partilho com vocês um texto que me chamou a atenção:
Como podemos jejuar na Quaresma?
Jejue de julgar os outros e descubra Jesus que vive neles.
Jejue de palavras que ferem e farte-se de frases que purificam.
Jejue de descontentamentos e viva cheio de gratidão.
Jejue de ofensas e injúrias e farte-se de mansidão e paciência.
Jejue de pessimismo e encha-se de esperança e otimismo.
Jejue de lamúrias e queixas e satisfaça-se com as coisas simples da vida.
Jejue de pressões e farte-se de oração.
Jejue de tristeza e amargura e encha seu coração de alegria.
Jejue de egoísmos e encha-se de compaixão pelos outros.
Jejue de rancores e encha-se de atitudes de reconciliação.
Jejue de palavras e viva de silêncios para escutar a outros.
Jejue de pensamentos de fraqueza e encha-se de promessas que inspiram.
Jejue de tudo o que o afaste de Jesus e procure tudo o que dele lhe aproximar.
Se todos vivermos esse jejum, nossos dias se irão inundando de paz, de amor de confiança. Que os corações se abram com o jejum na Quaresma para receber o Jesus ressuscitado!
(Autor desconhecido) Extraído do Proclamar Libertação 35, p. 126
P. José M. Kowalska Prelicz,
Pastor da IECLB na Paróquia Ev.de Conf.Luterana no
Rio de Janeiro - Norte