A Semana Santa inicia com o Domingo de Ramos. Já no quarto século, os bispos refaziam o caminho descrito nos Evangelho, montados num jumento e as pessoas acompanhavam cantando, louvando e espalhando palmas e ramos. A história bíblica é conhecida de todos nós e está bem presente no imaginário popular.
Jesus havia encerrado sua missão na Galileia e juntamente com seus discípulos, seguiu para Jerusalém. A cidade, naqueles dias, estava em polvorosa. Judeus de vários lugares estavam em Jerusalém para a comemoração da páscoa judaica.
Muitas pessoas ao ver Jesus entrar na cidade estenderam as suas vestes e ramos de árvores pelo caminho por onde ele passava, dizendo: Hosana, ao filho de Davi, bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!
O profeta Zacarias anunciou que o Messias, o Salvador prometido e tão ansiosamente esperado, entraria em Jerusalém montado num jumento. Desta forma Jesus mostra para o que ele veio; o rei enviado por Deus não é um governante que se apoia no poder das armas nem vem montado num cavalo de guerra. Não vem com pompa e luxo. Ele vem como aquele que traz e promove a paz. Este rei é humilde e manso.
O Evangelho está repleto de testemunhos sobre a entrada do Salvador na casa, na vida das pessoas e sobre as transformações que proporcionou, restaurando relacionamentos rompidos, trazendo a paz para onde só se conhece violência, o sofrimento e a morte. Por vir em humildade, o Salvador tem olhos para aqueles que nunca são vistos, que nunca têm vez, que são esquecidos. Ele nos oferece a sua paz e restaura a nossa vida libertando-nos de pecado e culpa.
Podemos imaginar que Jesus alegrou-se com os “Hosanas” de coração. Assim como Deus se alegra das pessoas que louvam, que tem um coração agradecido até hoje. Acredito que a aclamação foi um afago agradável para Jesus. Domingo de Ramos é dia de nos perguntar: estamos sendo agradáveis e agradecidos com as pessoas que convivem conosco? Estamos sendo agradecidos a tudo que Deus tem nos dado?
A partir do relato dos evangelistas, pode-se imaginar que estes buscavam e aclamavam Jesus: judeus, não judeus/gregos, ou de estrangeiros que seja, a estes somava-se o risco de transformá-lo apenas num showman, popular e famoso. E Jesus usa este momento para revelar quem ele era de verdade.
E a primeira verdade disso tudo é que aquilo que eles estavam vendo e admirando teria que morrer. Em outras palavras, a glorificação de Jesus não era a fama, a popularidade, o poder de fazer milagres, mas, na condição de Filho de Deus. Portanto, Jesus não precisa de nossa euforia, mas aceita o nosso louvor de coração. Por outro lado, Jesus não quer admiradores, mas quer que sejamos seguidores e seus discípulos em palavras e ações, mesmo que para isso tenhamos que ser proféticos contra velhas opiniões formados ou modismos contemporâneos.
Por fim, precisamos perguntar: que Messias é este que vem montado num jumento emprestado?
Quando eu era criança, numa realidade de agricultura familiar, quando numa eventualidade faltava uma ferramenta e pegávamos emprestado com alguém, meus pais alertavam: - Cuidado não é teu! E com esmero e atenção eu cuidava. O que nós temos emprestado da nossa vida? Não seria tudo!
Os nossos dons, a nossa vida, a nossa Igreja, a nossa família, nosso trabalho, nossa casa, nosso planeta, nosso cônjuge, nossos filhos, enfim, tudo é emprestado, e, por isso, precisamos cuidar muito. Domingo de Ramos, dia de perguntarmos: no nosso caminho estamos agradecendo, valorizando e servindo com tudo que recebemos de graça?
Como sela de montaria, Jesus tinha apenas, algumas roupas empoeiradas de seus discípulos. Nós somos os discípulos de hoje. Somos a comunidade, os protagonistas da caminhada, os que estão comunicando e conversando de nossa fé pelo caminho. Somos os que ajeitam o jumento da montaria, colocando vestes sobre ele, ajudando Jesus a montar, aclamando-o como rei da paz. Domingo de Ramos dia de louvarmos e reafirmarmos nossa gratidão de poder servir com nossos dons na sua Igreja e no mundo.
Cleo Moacir Martin é Ministro Pastor na Comunidade Evangélica de Joinville - Paróquia da Paz