Deus cancelou o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças,
o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente.
(Colossenses 2.14)
Cancelar, apagar, cortar e deletar são palavras fortes que a princípio não expressam a abertura de novos horizontes e possibilidades, mas anunciam o fim de alguma coisa. Todos estes quatro verbos nos são muito comuns – com grande freqüência...
- decidimos cancelar algum serviço (p. ex. a assinatura de um jornal),
- refletimos sobre como cortar gastos p. ex. diante da crise econômica mundial
- apagamos e-mails lidos ou não lidos.
- ou, quando alguém nos “enche o saco” no MSN, no Skype ou no Orkut, deletamos simplesmente o contato desta pessoa.
Não raramente, estas atividades são acompanhadas de um sentimento de vingança, uma vontade de acabar ou destruir e causa um gostinho de soberania e vitória.
O Lema do Mês de Abril também começa com uma palavra que expressa o fim definitivo de algo: com outras palavras, o autor do texto escreve que Deus cancelou a nossa dívida para nos libertar daquilo que nos prejudicava. O “escrito da dívida” a qual o autor se refere está ligado à lei de Moisés que explicava as regras para uma vida que agrada a Deus e leva até ele. A obediência desta lei era o único caminho para ser aceito e aprovado por Deus. No entanto, o Antigo Testamento está cheio de relatos em que o Povo de Deus não consegue cumprir com toda esta lei e acaba despertando a ira de Deus. A lista das desobediências, ou seja, “o escrito da dívida” deve ter sido tão grande quanto o número de criaturas de Deus que já viveram debaixo do sol. Por isso, o autor afirma que esta lei “que constava de ordenanças ... era prejudicial” para as pessoas.
Quando Deus percebeu que as suas criaturas são fracas e incapazes de observar as suas ordens, ele reage contrário aos paradigmas que costumam inspirar as nossas decisões e nos mover. Invés de condenar e punir as suas criaturas com justiça - “acabando com a sua raça”, Deus decide cancelar o registro das desobediências à lei. Invés de desistir das suas criaturas e se afastar delas, Deus escolhe se aproximar tanto da humanidade como nunca antes:
Porquanto Deus enviou o seu filho ao mundo, não para que julgasse o mundo,
mas para que o mundo fosse salvo por ele. (João 3.17)
O raciocínio de Deus nos surpreende! Deus cria primeiro o mundo e dá às suas criaturas leis para organizar a vida e a convivência pacífica entre as pessoas. Mas quando as suas criaturas fracassam, ele não aperta as leis e aumenta a punição diminuindo a liberdade para ver se isto ajuda, mas tira o peso da lei e aumenta a liberdade. Invés de cultivar uma vontade de punir, acabar ou destruir, ele se comove e ainda age em favor das suas criaturas. Se isto não é uma prova do amor de Deus pelas suas criaturas, não existe prova.
Na época de Quaresma e Páscoa, refletimos sobre o significado da vinda de Jesus para o mundo. Lembramos que Jesus veio para nos anunciar de forma bem concreta e palpável o quanto Deus nos ama. Recordamos os presentes que Deus conquistou e anunciou através de Cristo: a libertação do peso da lei e do pecado, a vitória sobre a morte e o convite à vida plena. No entanto, considero muito importante aproveitarmos esta época do ano litúrgico também para refletirmos sobre o compromisso que nós - criaturas de Deus e seguidores de Cristo – devemos assumir a partir destes presentes que Deus nos fez em Cristo. Convido todos à esta reflexão individual – talvez o seguinte versículo pode inspirar esta reflexão:
Porém agora estamos livres da lei porque já morremos para aquilo que nos mantinha prisioneiros. Por isso somos livres para servir a Deus não da maneira antiga, obedecendo à lei escrita, mas da maneira nova, obedecendo ao Espírito de Deus. (Romanos 7.6)
Lembrando das Surpresas e dos Presentes que Deus nos deu através de Cristo, podemos nos alegrar ainda mais nesta Páscoa. Feliz Páscoa a todos!
P. Matthias Tolsdorf, Pastor da IECLB na Paroq Vila Campo Grande-Diadema, São Paulo/SP