Celebração


ID: 2651

Da cruz brotou a vida

25/04/2003

Da cruz brotou a vida
 

P. João Carlos Müller *

Não vos atemorizeis; buscais a Jesus, o Nazareno que foi crucificado; ele ressuscitou, não está mais aqui...
(Mc 16.6.b)

Qual não foi o espanto de Madalena, Maria e Salomé ao encontrarem o túmulo vazio! Elas vinham preocupadas pensando em como remover a pedra que dava acesso ao túmulo. Queriam embalsamar o corpo de seu Senhor com aromas, como era o hábito na época. E então acontece o inesperado, o milagre da vida que supera a morte: ... ele ressuscitou, não está mais aqui...! Deus, de forma incompreensível à nossa razão, transforma a tristeza em alegria, o ódio em perdão, a indiferença em amor....transforma a morte em semente, de onde brota a vida em plenitude avassaladora e surpreendente.

Nunca havia entendido muito bem este mistério: como pode Deus, o Pai de Jesus, concordar com a morte do próprio Filho para que nós tenhamos vida? Por que foi necessário que houvesse uma morte violenta nessa história toda? Lembro ainda das imagens de quadros e figuras onde aparece Jesus dependurado na cruz, com os cravos fincados nas mãos e o sangue escorrendo de seu rosto machucado pelos espinhos. Lembro, da mesma forma, da explicação que nos foi dada acerca deste evento: Jesus teve que morrer para que nós fôssemos salvos! Ele morreu em nosso lugar! Muitos ainda hoje creditam ao sofrimento terreno a garantia da vida eterna.

Somente mais tarde compreendi melhor que a cruz foi conseqüência da ação de Deus através de seu filho no mundo. A passagem de Cristo sobre a terra foi uma opção de Deus em favor da vida contra toda tirania e opressão, quer seja ela religiosa, política, social ou econômica. A cruz é resultado da opção de Deus e é apenas neste sentido que podemos dizer que a vida brota da cruz e, em seu limite, que a ressurreição é a expressão máxima do mistério de Deus frente a todas as cruzes existentes no mundo.

Neste sentido, não é qualquer sofrimento que produz vida! Nem todas as cruzes conduzem ao céu e nem todas as mortes geram ressurreição. A guerra que se desenrola no momento assim como a violência de nossas cidades nunca serão sementes capazes de engendrar novos horizontes. O materialismo exacerbado, aliado ao individualismo e à busca do prazer a qualquer preço também não!

Mas a imposição de uma cultura geradora de violência e intolerância no mundo inteiro suscita, por sua vez, a força e a opção revelada por Deus em Jesus Cristo, que não se conforma com esta cultura. Não é à toa que, à medida que a invasão do Iraque ia se desenvolvendo, de outro lado levantaram-se e continuam levantando-se milhões de pessoas contra um sofrimento inútil e sem sentido. Esta, sim, é uma cruz que vale à pena ser carregada em nossas vidas e comunidades, porque dela emana um sentimento de bondade e fraternidade capaz de energizar e transformar mentes e corações. Da mesma forma, o grande mutirão pela anulação do sofrimento inútil da fome em nosso país é outra cruz cujo sentido vai além do fornecimento de comida para os pobres!

Por isso podemos afirmar que somente destas cruzes, que se rebelam contra as injustiças, atrocidades e vaidades de nosso mundo, é que pode florescer a verdadeira ressurreição, geradora de vida e esperança. A cruz de Cristo somente é doadora de vida na medida em que visa ao benefício do próximo! Também Cristo não morreu em favor de si mesmo, mas sim porque permaneceu obediente aos propósitos do Pai, gerador de toda a Vida em sua dimensão mais plena e profunda.

Passada esta Páscoa, talvez seja hora de perceber que o túmulo está vazio: e não apenas perceber isto, mas espantar-nos com esta realidade junto com Maria e as outras mulheres! Ainda que a morte esteja arraigada em nós com muita força, a vida é muito maior! ... ele ressuscitou, não está mais aqui.... A partir da ressurreição abrem-se novas oportunidades para olharmos nosso mundo e nossa vida com os olhos daquele que não rejeitou a cruz, mas a transformou em esperança e vida nova. Da cruz brotou a vida!


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* João Carlos Müller é pastor na
Comunidade Luterana em Petrópolis
 


Autor(a): João Carlos Müller
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 16 / Versículo Inicial: 6
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 21622

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