Celebração


ID: 2651

Cantamos contra as hostes da maldade

Meditação

06/08/2010

Uma das marcas que nos identificam como Igreja Luterana é o apreço que temos pela música. Sim, nós - luteranos e luteranas - temos um grande carinho pela música. Ela sempre teve um lugar especial no meio luterano, desde os tempos da Reforma. E assim deve continuar a ser. Porque a música, além de inúmeros outros benefícios que ela nos traz, é um instrumento do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. O evangelho pode vir a nós pelo caminho da música. Nós podemos propagar o evangelho através da música. Por isso damos muita importância à letra, ao conteúdo dos nossos hinos e das nossas canções na Igreja. É de suma importância que, ao cantarmos hinos e canções sacras, não nos deixemos arrebatar apenas pela melodia, pelo ritmo ou pelo estilo da música, mas, acima de tudo, pela letra e pelo conteúdo que estas nos trazem. Conheço muitos hinos e canções que, há poucos anos, eram cantados com muita emoção e empolgação, mas que hoje em dia nem são mais lembrados. Qual foi o problema? Faltou conteúdo! Hinos pobres em conteúdo são como fogo de palha: ardem por uns instantes, mas desaparecem. Só sobram algumas cinzas.

Hinos, na Igreja Cristã, precisam de conteúdo. E não de qualquer conteúdo. Só permanecem aqueles hinos que trazem o bom evangelho de Cristo. Lutero e outros compositores da época da Reforma Protestante deram conteúdo evangélico aos hinos que compuseram. Por isso permanecem até hoje e vão permanecer para sempre. Um exemplo desses hinos, que permanecem e que são cantados em qualquer parte do mundo, é o hino de Lutero “Deus é castelo forte e bom”. Sem dúvida, também a melodia deste hino é boa. Ainda há poucas semanas, um grupo de flautistas apresentou a melodia deste hino - que já tem quase cinco séculos de idade - num momento especial em nossa Comunidade. A melodia do “Castelo Forte” me emocionou e emocionou muita gente. Mas convenhamos: o que importa mesmo é a letra deste hino. E aí precisamos reconhecer: o conteúdo do hino “Castelo Forte” é perfeito e atual como foi no ano de 1528, quando Lutero o compôs. A letra é perfeita e atual porque carrega o evangelho de Cristo.

Na Igreja Cristã não se deve cantar “qualquer coisa”. Nós, luteranos, não escolhemos os nossos hinos somente porque a melodia nos satisfaz, ou porque o ritmo agrada, ou porque o estilo está na moda. Tudo isto é apenas palha que arde por uns instantes, quando falta o conteúdo. Nós cantamos e ouvimos o EVANGELHO contido nos hinos. E o evangelho será sempre BOA NOVA, BOA NOTÍCIA.

Prestemos atenção em algumas verdades evangélicas contidas no hino mais conhecido de Lutero:

Aparece muito forte a afirmação de que, como povo de Deus, estamos numa LUTA. Sim, estamos numa luta feroz para defender o evangelho de Cristo. Não se trata de uma “lutinha” qualquer. Nossa luta é contra o “rei infernal”. Lutamos contra as “trevas do mal”, contra “inúmeros demônios” que querem nos exterminar. Lutamos contra a “força infernal”, contra as “hostes da maldade”. Trata-se, realmente, de uma luta pesada. Que forças infernais são estas contra as quais lutamos?

Lutero, em seu tempo, não lutava contra esta ou aquela pessoa, contra esta ou aquela entidade ou contra esta ou aquela instituição. Não! A luta de Lutero foi contra hostes da maldade. Lutero se opôs a poderes, a idéias que dominavam e que oprimiam o povo de Deus naqueles tempos e que eram contrários ao evangelho de Cristo. A grande falsa idéia, o grande falso poder que possuía a mente e a vida das pessoas naqueles tempos era a idéia de que conseguimos nos salvar por nossas próprias obras. Salvação por méritos próprios. Isto é uma idéia infernal, diabólica. Por que? Porque esta idéia anula o evangelho de Cristo. Esta idéia despreza a obra de Cristo. Esta idéia debocha da cruz de Cristo. Se conseguíssemos nos salvar pelas nossas próprias obras, então tudo aquilo que Cristo fez por nós perderia o seu valor. De nada teria adiantado o Filho de Deus ter vindo a este mundo se nós conseguíssemos nos salvar sozinhos. A verdade do evangelho, graças a Deus, é esta: Somos salvos unicamente pela graça de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo. “Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus” (Efésios 2.8).

Lutero também lutou contra outra diabólica idéia: a idéia de que é possível comercializar a salvação. Naqueles tempos obscuros colocava-se Deus como um comerciante de bênçãos, como um negociante da salvação: “Tu pagas tanto e aí a tua alma vai direto para o céu! Tu pagas tanto e aí tu tens direito a estas ou aquelas bênçãos divinas!”. Estas eram as trevas do mal. Este era o rei infernal. Estes eram os inúmeros demônios que querem nos exterminar. Estas eram as hostes da maldade do tempo de Lutero. E foi na luta contra estes maus poderes, que causavam tantos males ao evangelho de Cristo, que Lutero se engajou, custasse o que custasse: “Se a morte eu sofrer, se os bens eu perder, que tudo se vá. Jesus conosco está”, diz a última estrofe do hino “Deus é castelo forte e bom”.

E agora, a pergunta: Esta luta terminou? Não. Certamente Lutero e seus companheiros reformadores deram a sua grande e importante contribuição nesta batalha contra os poderes do mal. Mas a luta não acabou. Ela continua. As hostes da maldade estão aí, bem perto de nós, em nosso meio, possuindo as pobres mentes de muita gente, iludindo e atemorizando as pobres almas de muita gente. É a falsa idéia da salvação por méritos próprios. “A gente precisa merecer a salvação”, se diz. Esta é uma idéia contrária ao evangelho e é bem atual. Basta estar com os ouvidos abertos. Esta falsa idéia está bem presente nas falas de famosos “pregadores” da atualidade. Comercialização dos bens divinos. Esta é uma vergonhosa e satânica idéia, bem presente nos dias atuais: “Tu pagas tanto, e aí tu tens direito a estas ou aquelas bênçãos divinas”. São os mesmos poderes infernais do tempo de Lutero.

A luta é feroz. Não se trata de uma luta contra estas ou aquelas pessoas, contra estas ou aquelas entidades religiosas. Trata-se de uma luta contra os poderes infernais, contra as hostes da maldade, contra mil demônios que vêm para exterminar. Nossa luta é a defesa do puro evangelho de Cristo.

Que o evangelho de Cristo nos arrebate assim como arrebatou a Lutero e a tantos outros. Temos a certeza: Tudo o que vemos por aí “já condenado está por uma só palavra”: a palavra da cruz de Cristo, a palavra da obra de Cristo para a salvação dos que crêem. “O Verbo eterno vencerá as hostes da maldade. As armas o Senhor nos dá: Espírito, Verdade”. Esta é a nossa esperança. Desta luta nós participamos quando valorizamos o conteúdo evangélico dos hinos que cantamos.

P. Valdemar Gaede
 


Autor(a): Valdemar Gaede
Âmbito: IECLB / Sinodo: Espírito Santo a Belém / Paróquia: Santa Maria de Jetibá (ES)
Área: Celebração / Nível: Celebração - Música
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 7992

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