No domingo dia 21 de agosto fomos convidados/as pela nossa Igreja para refletir de forma intensiva e profunda sobre a existência de pessoas com deficiência em nosso meio e a nossa convivência com elas.
Em primeiro lugar, cabe olhar para a natureza e lembrar como ela lida com a deficiência. Aos nossos olhos, não lida muito bem. Lembremos do urso polar Knut, que nasceu em 2006 no Zoológico de Berlim. Ele virou uma celebridade porque a mãe o rejeitou e abandonou logo depois que nasceu. Não o alimentava, nem dava carinho. Knut foi assumido pelos funcionários do Zoo e grangeou a simpatia e a solidariedade do mundo todo. No fim de março deste ano ele morreu repentinamente. Levantou, deu algumas voltas em torno de si e caiu morto no seu tanque de água. Alcançou 4 anos em vez de 35 anos como seria o normal para os animais da sua espécie. A natureza, através da mãe, já queria ter feito isso no início. Assim funciona a natureza.
Assim também funcionavam e funcionam algumas culturas e religiões: tratam da deficiência como algo a ser eliminado e não como algo que faz parte da vasta e colorida criação de Deus.
De certa forma, também nós agimos assim. Se analisarmos as palavras com as quais nos dirigiamos a pessoas com deficiência vamos perceber uma enorme carga de preconceito.
Nossa linguagem também denuncia um alarmante desconhecimento da mensagem bíblica. O texto bíblico proposto pela nossa Igreja quer orientar nossa fé a partir do ponto de vista de Deus: Porque as pessoas veem as aparências, mas Deus vê o coração”(I Sm 16, 7b). Uma afirmação divina feita há 3 mil anos! Deus não olha as aparências, mas considera cada vida, da forma que existe, como normal, como parte de sua criação.
Vamos olhar para o vitral colorido da foto. Ele também retrata este aspecto da nossa fé: somos diferentes. O normal é ser diferente. O diferente é normal e a soma de todas as diferenças é que faz o conjunto, é que torna uma sociedade, que torna uma Comunidade normal. E todas as pessoas são acolhidas, amadas e valorizadas pelo nosso Deus da mesma forma.
Esta também deve ser nossa atitude com relação ao ser diferente. Não precisamos agir como a ursa Tosca, mãe do Knut, que rejeitou o bebe quando a natureza lhe informou que ele não atingiria a idade adulta. Por causa da fé, nós temos e vivemos uma mentalidade diferente. Nós não excluímos, mas fazemos como Deus quer: incluímos, percebemos as belezas, os dons, as capacidades que Deus revelou em todas as pessoas, também nas “diferentes”.
Além disso, nos empenhamos para sempre mais criar um mundo, uma sociedade, uma cidade, uma família, uma igreja que se constrói e se organiza para a vivencia e a convivência de todas as criaturas.
A pergunta que fica é: como estão sendo preparados os espaços no coração, na mente, nas ações de cada um/a de nós? Agimos como a mãe do Knut, ou agimos como Deus inspirou e orientou Samuel a fazer?
Cada pessoa é normal diferente, ou seja, o que é normal para um é diferente do que é normal para outra pessoa. Portanto, tenhamos as nossas atitudes inspiradas e orientadas por Deus, que não avalia, que não usa os critérios “normais” para dizer o que é normal, mas que valoriza e potencializa o que muitas vezes é desprezado e outras vezes passa totalmente desapercebido para nós. Amém.
P.Carlos Musskopf
Pastor da IECLB na Paroquia ABCD
Santo Andre/SP.