Os discípulos de Emaús disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras? (Lucas 24.32)
Na vida sempre há coisas que traumatizam. Coisas que nos tiram os pés do chão, que nos deixam desorientados. Não foi diferente com os discípulos de Jesus. A crucificação de Jesus abalou. A sua morte, deixou sequelas e a pergunta: O que fazer? Dois discípulos decidem se distanciar do local dos acontecimentos. Eles se colocam a caminho de Emaús. Seria fuga ou a busca por um tempo para meditar, para se refazer, para repensar a vida?
O maravilhoso é que Deus não nos desampara em meio aos traumas da vida. A ressurreição de Cristo revela que ele sempre é um Deus a caminho conosco. Os discípulos a caminho de Emaús são a prova disso. No caminhar, algo inusitado acontece! Tomados pelo trauma, pela dor, não percebem que Jesus está ao lado! Quantas vezes na vida também não nos encontramos nessa situação? Quantos traumas, dores e perdas não ofuscam o nosso olhar?
Nos traumas da vida Deus não só caminha ao nosso lado. Ele também, em Jesus Cristo, coloca o seu ouvido à disposição. Demonstra sensibilidade. Com perguntas faz a catarse acontecer, deixa o trauma vir à tona. Com perguntas faz os discípulos falarem das suas dores, das suas angústias, das suas frustrações!
Depois da catarse acontecer, ele consola e orienta com a sua Palavra. Com a sua Palavra ele lembra os discípulos que é um Deus fiel. E é isso que faz os discípulos pedirem: “Fique conosco porque já é tarde, e a noite vem chegando” (Lucas 24.29b). Quando alguém nos ouve e nos traz palavras que confortam, o desejo é que este momento se eternize. Deus, no Ressurreto, se eterniza em nossas vidas. Ele entra na casa com os discípulos e, no sentar-se à mesa e partir o pão, abre os seus olhos para a sua ressurreição. Faz a vida encontrar sentido novamente em meio ao trauma vivido. Faz o coração arder e a paixão pela vida reacender.
O Ressurreto também caminha ao nosso lado nos traumas, dores e sofrimentos da vida. Na vida em comunidade, no ouvir da Palavra e no partir do Pão, também reconhecemos a sua presença. Presença que faz arder o nosso coração. Presença que faz reencontrar a alegria pela vida mesmo em meio aos traumas, dramas e tragédias da vida. Presença que nos põe a caminho do cuidado da vida. Presença que também nos convida a dizer diante da fragilidade da vida, da noite que vem chegando: Jesus, fica conosco!
P. Ernani