“O JUSTO VIVERÁ POR FÉ”
(Romanos 1.17b)
Estimados leitores, o 31 de outubro é para os luteranos o dia da Reforma. Começo, portanto, minha reflexão com um episódio da vida de Martim Lutero, que aconteceu meio ano antes da sua morte, no verão de 1545. Lutero está sentado em sua escrivaninha. Fora lhe pedido para escrever um prefácio para a edição de seus escritos latinos. Muito a contragosto ele concordou com a publicação destes escritos, pois Lutero achava melhor que as pessoas lessem a Bíblia aos seus escritos.
Sentado à escrivaninha, ele aproveita a redação do prefácio para dar aos leitores uma retrospectiva da sua vida. E nenhum outro momento da vida de Lutero pode ter sido tão interessante e palpitante como o momento da sua grande descoberta de que o “Justo vive pela fé”. Esta descoberta vai mudar completamente a sua vida e suas idéias. Quando Lutero descreve sobre este momento crucial de sua vida em 1545, já se haviam passado 30 anos.
Cada um de nós sabe muito bem que depois de tantos anos, a compreensão do passado pode se modificar. Porém, Lutero descreve a sua descoberta com uma nitidez impressionante. Em seu prefácio ele afirma:
“Eu não amava o Deus justo, que pune os pecadores; ao contrário, eu o odiava. Mesmo quando, como monge, eu vivia de forma irrepreensível, perante Deus eu me sentia pecador, e minha consciência me torturava muito. (...) Assim eu andava furioso e de consciência confusa. Não obstante, teimava impertinentemente em bater a porta desta passagem; desejava com ardor saber o que Paulo queria. Aí Deus teve compaixão de mim. Dia e noite eu andava meditativo, até que por fim observei a relação entre as palavras: “A justiça de Deus é nele revelada, como está escrito: “O justo vive por fé”. Aí passei a compreender a justiça de Deus como sendo uma justiça pela qual o justo vive através da dádiva de Deus, ou seja, da fé. Então me senti como renascido, e entrei pelos portões abertos do próprio paraíso. Aí toda a escritura me mostrou uma face totalmente diferente. (...) Assim como antes eu havia odiado violentamente a frase “justiça de Deus”, com igual intensidade de amor eu agora a estimava como a mais querida. Assim esta passagem de Paulo de fato foi para mim a porta do paraíso.”
Antes da Reforma a vida de Lutero estava ao avesso, mas após a sua descoberta de que o “Justo vive da Fé” ela se tornou um belo exemplo de vida e amor ao próximo. O meditar na Palavra de Deus, o centro da Reforma Luterana, nos faz ver o bonito bordado que a nossa vida é e como a nossa vida pode estar a serviço da minha comunidade e de todos que estão no meu entorno.
Ó Deus, muitas vezes a nossa vida está ao avesso como a de Lutero. Mas quando a tua compaixão e misericórdia, revelada em Jesus Cristo, nos alcança, não vemos só o bonito bordado que realizas em nossas vidas, mas também com alegria nos colocamos a serviço na tua seara. Obrigado, Senhor, pela tua fé em Cristo que nos carrega e abre a porta do paraíso. Amém.
P. Ernani.