Estimados leitores, uma frase do Evangelho de Marcos 10.25 é bastante conhecida: É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no céu. Através dos tempos esta frase intrigou muito e das mais diferentes maneiras tentou-se explicar e amenizar o que poderia significar este fundo de agulha. O que afinal Jesus quer destacar com esta afirmação ao homem rico? Jesus deseja simplesmente que abdiquemos dos bens materiais? O que na verdade é impossível para os seres humanos e não o é para Deus?

Se a afirmação de Jesus se referisse a um simples abdicar dos bens, por que os discípulos, que deixaram para trás bens, casa, família, se admiram entre si e perguntam: Quem poderá, pois, salvar-se?”(Marcos 10.26).

Diante do que Jesus disse ao homem rico, os discípulos, como bons mortais, olharam para si mesmos e não viram a menor chance de salvação. Se aquele homem dizia seguir os mandamentos, parecia sincero em seu desejo de salvar-se, e havia procurado Cristo com esse objetivo, quais seriam então as suas chances?

Olhando para a tradição dos mestres judeus, que afirmavam que os homens ricos eram os escolhidos por Deus, a resposta de Jesus caiu perante os discípulos como uma ducha de água fria. Se o rico não podia entrar, quanto mais os pobres!

No entanto, a questão central do texto, Marcos 10.17 – 27, não é se ricos ou pobres são mais aceitáveis diante de Deus, mas a completa impossibilidade de tanto ricos quanto pobres de salvarem-se a si mesmos. A colocação de Jesus revela que o ser humano, por si só, por suas forças e méritos, não consegue a salvação. Por isso que Jesus diz: “Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis” (Marcos 10. 27).

A salvação é um presente de Deus. Em Cristo, o que era impossível ao ser humano, salvar-se, se tornou possível para nós. Expressando-o de outra maneira: não é um sentimento religioso ou a observância de determinadas tradições, regras ou o abdicar da riqueza que nos garantem a salvação. A salvação de Deus em Cristo não nos coloca condições, mas nos convida a gestos que expressam gratidão e uma nova relação com o exacerbado materialismo do nosso tempo.

Imagino que nos dias de hoje Jesus diria não só ao homem rico, mas a todos nós: Meu amigo, viva a sua vida relacionando-se com os seus bens como se nada disso tivesses, para que possas viver sem preocupações em torno deles. O apóstolo Paulo, conforme 1Coríntios 7.30s, expressou isso da seguinte forma: Se você comprar alguma coisa, faça como se nada possuísse. Os bens deste mundo vocês podem usar, contudo assim, como se vocês não os precisassem. O que realmente quero é que estejais livres de preocupações, porque a aparência deste mundo passa.

Que a salvação, que nos é dada por Deus em Cristo Jesus, nos inspire a construir com as riquezas pontes de vida - solidariedade, justiça, dignidade, cura, paz, amor, perdão e reconciliação. Afinal, é isso que Deus vem fazer por nós em Cristo Jesus.

Senhor, tanto a salvação como todas as riquezas são dádivas que vem de tuas bondosas mãos. Ajuda-nos, nesta breve vida, para que os bens e riquezas não se tornem o pulsar do nosso coração. Ajuda-nos a torná-las uma bênção para o nosso irmão e irmã neste mundo de ganância e ambição. Amém