Na meditação da semana anterior refletimos sobre o “valor que devemos ofertar”. Fomos lembrados e lembradas que o valor da oferta é definido pela resposta de gratidão que estamos dispostos e dispostas a dar por toda dádiva que recebemos de Deus. Assinalamos também que, de acordo com o relato bíblico, falamos não da sobra, mas dos primeiros frutos que recebemos.
Hoje queremos continuar esta temática. Sim, entendo que somente “resposta de gratidão”, embora teologicamente correto, é algo bastante vago do ponto de vista antropológico. As pessoas precisam de referências e então sabem dizer, à luz da sua percepção e fé, o que é muito ou pouco. Assim agimos em todas as relações custo benefício que temos. Enfatizo: isto é uma relação antropológica.
O texto bíblico sabe disso. Deus sabe que as pessoas precisam de orientação e referência. ofertaMas, para frustração de muitos, devo dizer que a Bíblia não nos dá somente um modelo do valor a ser ofertado. Nos dá vários. Indico pelo menos 3:
Dízimo: Algumas pessoas pensam que dar o dízimo é dar uma oferta para a igreja, contribuir um valor qualquer. “Dízimo” na verdade refere-se a 10%. Dar o dízimo significa dar a décima parte dos rendimentos: da colheita, do gado, do salário, … O texto bíblico que melhor apresenta esta dinâmica é Levítico 27.30-33. Ele afirma que a décima parte pertence a Deus e por isso é sagrada e intocável. Veja também Gênesis 14.18-24, Deuteronômio 14.22-23; Samuel 8.10-18 (reis fazem uso da dinâmica), Deuteronômio 14.22-29. Neste último texto temos definida a finalidade do dízimo: manter o trabalho religioso e cuidar do próximo. Atenção especial recomendamos ao texto mais usado: Malaquias 3.6-12. Ele afirma que não dar o dízimo é roubar de Deus e castigos são certos; ser fiel no dízimo é receber bênçãos. O cuidado recomendado é não negociar a bênção como a teologia da prosperidade o faz. A Igreja Luterana não adota esta perspectiva de leitura.
“Túdimo”: esta perspectiva encontramos num texto muito conhecido do Novo Testamento: Marcos 12.41-44. A viúva pobre oferta tudo o que tem e vive confiada aos cuidados de Deus na certeza e fé de que Ele não vai deixar nada faltar. Jesus elogia a postura dela e afirma que não ofertou sobra, mas toda a sua segurança de vida. Destaco a oferta feita em confiança e fé: o que oferto não fará falta, Deus há de cuidar-nos; destaco também que tudo o que temos é confiado aos cuidados de Deus. Na prática significa que, mesmo ofertando 10% para o trabalho do Reino de Deus, 90% ficam na tua mão e querem igualmente ser usados para a prática da justiça, do cuidado da vida e do próximo. Tudo precisa encontrar bom e justo destino conforme os valores do Reino de Deus.
Cada um contribua conforme disposto no coração (2 Coríntios 9.1-15). Paulo prepara a comunidade de Coríntios para uma oferta de ajuda à comunidade em ofertandoJerusalém. Sabe que muitas pessoas não têm grandes somas de dinheiro e bens para ajudar substancialmente. Por isso recomenda: “Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria” (v. 7). Registro que a oferta é expressão de alegria, não obrigação; é também um ato segundo, ou seja, primeiro Deus me dá o que tenho, depois oferto do que recebi de Deus. Em nossa comunidade adotamos esta perspectiva da oferta com os envelopes que cada família recebe.
Por fim preciso ainda apontar para a regularidade da oferta. Nossa oferta é de gratidão e resposta às bênçãos recebidas. Por isso lembremo-nos: bênçãos recebemos todos os dias o dia todo. E são tantas que nem conseguimos contar todas elas. Basta lembrar que vivemos graças às bênçãos que recebemos. Logo, não há quem possa ofertar nada. Algo todos e todas podem. Para a parte administrativa da igreja a regularidade é importante. A igreja está inserida na dinâmica da sociedade. Sofre suas consequências e exigências como todas as famílias. Isto sabemos. Logo, a regularidade da oferta é importante para a boa administração do templo. Gera-se uma instabilidade administrativa muito grande quando ofertamos um mês sim e dois meses não.
Oro para que a graça de Deus seja cotidiana na vida de vocês. A gratidão também.
(Adaptado de Caderno de Estudos Fé, Gratidão e Compromisso, Sínodo Nordeste Gaúcho da IECLB, 2009, p. 19-33).