REFLETINDO SOBRE IDENTIDADE LUTERANA
Vemos que grande maioria dos membros da igreja luterana sente-se felizes em fazer parte da mesma e com satisfação se declaram luteranos. No entanto, percebemos, com preocupação, que nem sempre conseguimos nos identificar como tais. Afinal, em quem cremos, como expressamos nossa fé e como proclamamos o evangelho de nosso Senhor?
Emprestamos dum escrito do P. Dr. Lindolfo Weingaertner algumas considerações que transcrevemos aqui.
IDENTIDADE é um termo de conotação jurídica e filosófico-psicológica (carteira de identidade, 'crise de identidade, etc.). Usando-o de forma ingênua e acrílica, poderíamos sugerir que pretendêssemos definir o cristão luterano - ou a Igreja Luterana - como sendo grandezas prontas, com a carteira de identidade assinada, por assim dizer. Assim, porém, tomaríamos uma posição contrária à intenção do próprio Reformador, que viu no cristão - não um ser formado, mas um ser em formação e que define a igreja como sendo criatura do evangelho, que continuamente vai sendo criada pela palavra de Deus. Só a Deus compete proclamar sua identidade, no sentido absoluto e irrestrito: Eu sou o que sou - eu serei o que serei (Êx. 3.12). Só Ele é o Fiel, que não pode negar-se a si mesmo (II Tm. 2.13). Assim entendemos que a identidade luterana, como a de qualquer outro cristão, deve ser derivada de sua identificação com Jesus, Filho de Deus, que é o mesmo ontem, hoje e para sempre.
A teologia luterana tem fama de ser sóbria, desde suas próprias raízes. Ela rejeita o vinho doce do êxtase; como Pedro fez no primeiro Pentecostes, fala de pecado, de cruz e de arrependimento - assuntos que um ébrio espiritual jamais tocará. Ela deverá falar e testemunhar, imbuída desta sobriedade frente a movimentos de cura divina e de outras manifestações de entusiasmo religioso que acobertam a podridão do velho homem, sem a expor à luz.
O que vale no campo religioso, valerá também no campo profano. O cristão luterano enfrentará com sobriedade e com a lucidez que é fruto do próprio evangelho - tanto uma ideologia de direita que faz o homem agarrar-se a posses materiais e a posições de poder, como uma ideologia de esquerda, que pretende criar um paraíso na terra , sonhando com um mundo justo, sem apontar a podridão básica do homem e da sociedade, e sem falar de juízo e salvação transcendentais, barralhando as coisas do reino de Deus com as do mundo. Rejeitará qualquer tipo de polarização entre cristãos piedosos e cristãos socialmente engajados, pois não ignora que os frutos da vivência cristã não devem ser cortados de suas raízes e que a ação responsável faz parte da nova obediência do cristão.
(P. Dr. Lindolfo Weingaerter in Considerações IDENTIDADE LUTERANA - 1982)