No último domingo antes da Quaresma, ou seja, no final de semana do Carnaval, a igreja luterana celebra um acontecimento significativo na vida de Jesus, a sua transfiguração. Hoje, queremos lembrar desse fato e a partir dele questionar a sua relação com a nossa vida. O que tem a ver a Transfiguração comigo ou com você?

Prédica baseada em Marcos 9.2-9
Neste último domingo antes da Quaresma, estamos num Rio de Janeiro sem Carnaval. A situação é tal, que não será possível festejar o Carnaval este ano. Um duro golpe não somente para a economia, mas também para as pessoas. Porém, tem sentido, como festejar diante de tantas mortes, como festejar se é imensa a possibilidade de transmissão da Covid-19. A cidade que fervia na alegria do Carnaval, agora deve silenciar.

O que fazer diante de um panorama como este? Não quero comparar, mas trago um exemplo que pode ajudar-nos:
Na guerra nos territórios da antiga Iugoslávia, a cidade de Sarajevo fora sitiada pelas forças sérvias. A cidade estava isolada do resto do mundo. Morteiros e fogo de artilharia transformaram instantaneamente prédios outrora bonitos em escombros. As pessoas de Sarajevo estavam assustadas, cansadas e cada vez mais desanimadas. Ninguém sabia quando as bombas iriam chegar trazendo mais destruição e morte. Atiradores escondidos tinham como alvo as pessoas nas ruas. Inúmeros foram mortos, feridos e mutilados. Até a água e comida estavam em falta.
Um violoncelista da orquestra sinfônica de Sarajevo, Vedran Smajlovic, fez o que sabia fazer melhor para ajudar os cidadãos de Sarajevo. Ele, vestido de gala, pegou seu violoncelo, sentou-se em meio aos escombros e começou a tocar. Ele tocou concerto após concerto. Foi seu presente de amor a uma cidade de morte e tristeza. Sua música desafiou o som de bombardeios e tiroteios e deu ânimo e força às pessoas. Esse foi seu presente dado às pessoas para que olhassem para além da escuridão, da insegurança e do medo para um futuro mais feliz.

A transfiguração de Jesus nos lembra que quando trabalhar pelo Reino de Deus seja difícil; quando seguir Jesus Cristo significa fazer escolhas que vão até mesmo contra o jeito como o resto do mundo pensa e se comporta; quando amar, cuidar e ser bondoso não é fácil; quando perdoar e se reconciliar com aqueles que nos odeiam vai contra tudo o que existe dentro de nós; quando o sacrifício pelos outros é considerado estúpido neste mundo egocêntrico; quando outros desafiam nossa fé e questionam o agir de Deus neste mundo louco e cruel e até nós mesmos começamos a questionar nossas próprias crenças; quando seguimos o difícil caminho do discipulado é que ouvimos novamente as palavras encorajadoras de nosso Pai Celestial: “Este é o meu Filho amado”.

Quando o vídeo deste culto terminar, quase nada terá mudado no mundo ao seu redor. Continuará sendo mais um dia no calendário, talvez até um dia chato sem nada diferente. Mas nós seremos diferentes, pois estivemos na presença de Deus. Sentimos o brilho do rosto do Salvador e seu amor por nós. Seremos diferentes porque fomos encorajados e nos foi dada esperança. Ouvimos a Palavra que mantém o nosso coração aquecido para continuar a nossa jornada: Você é minha filha amada”; Você é meu filho amado. Deus caminhará conosco através dos lugares escuros e assustadores deste mundo até o brilhante sol da eternidade, onde não apenas vislumbraremos Jesus por um breve momento, mas veremos seu rosto para sempre.

E isso nos leva ao exemplo que trouxe. Lembram-se do violoncelista que usou o dom da música para dar esperança e ânimo ao povo aterrorizado e enlutado de Sarajevo? Deus também deu a cada um de nós variedade de dons. O violoncelista de Sarajevo certamente saiu de sua zona de conforto para dar esse ânimo. Como nós podemos estar mais dispostos para compartilhar o amor de Cristo? Como nós podemos levar ânimo e esperança aos outros com os dons que Deus nos deu?

Nosso conhecimento de Jesus e do que ele fez traz luz as nossas vidas. A partir do nosso batismo, vivemos à luz da ressurreição. Será que isso faz alguma diferença em nossas vidas? Certamente que sim! Revela-nos a esperança que temos e traz clareza ao nosso sentido de vida. O que temos em nossos corações se mostra fora de nós, sejam em coisas boas ou ruins. Assim, talvez você não consiga destruir o vírus que causou a pandemia. Mas, você pode brilhar com a luz de Cristo da maneira como você cuida de si mesmo e das outras pessoas através dos cuidados sanitários. E embora você não possa esperar lançar luz sobre os milhões de famintos neste mundo, há muitas opções para você levar ajuda a um ou dois deles ou talvez até mais, de acordo com as bênçãos que você recebeu e como Deus o direciona.

Nós temos a luz de Jesus em nossas vidas, também temos a capacidade de usá-la. Jesus nos mostrou através do que ele fez após a Transfiguração que nada pode extinguir essa luz divina. Que a luz de Jesus continue a brilhar em nossos corações para que seu amor possa ser revelado através de nós e partilhemos a sua luz no mundo! Amém.