Nesta última semana, o enfoque dos meios de comunicação social tem se voltado ao 1º de maio, dia do trabalhador e da trabalhadora. No contexto brasileiro, os grandes temas da imprensa veicularam assuntos pertinentes às políticas governamentais, tais como: a retomada do desenvolvimento, a criação prioritária de mais empregos, a promoção do emprego, a organização social e do trabalho. Na mira da mídia, estiveram as discussões em torno das novas relações de trabalho, do salário mínimo, da erradicação do trabalho escravo, entre muitos outros destaques. Por um lado, a realidade nacional indica a possibilidade e a necessidade de fomentar a abertura de muitas novas frentes de trabalho, que possam acolher os enormes contingentes de massas carentes de emprego..
Por outro lado, observam-se nos pólos industrializados do País contingentes elevados de pessoas desempregadas, em razão das políticas econômicas globais ou dos modernos meios de produção que colocam à margem a mão-de-obra, substituindo-a por um instrumental tecnológico de ponta que prescinde dos contingentes humanos.
As sociedades industriais que aplicam altas e sofisticadas tecnologias encontram-se, na realidade atual, diante de uma encruzilhada, e saídas nem sempre são vislumbradas. Observadores críticos detectam sociedades laborais que alcançaram grande expansão e conseqüentes êxitos, em razão do domínio assegurado pela pesquisa e pelo trabalho racional sobre o potencial de riquezas e de bens primários, encontrados, em larga profusão, nos solos e nos subsolos da natureza criada. Quais são as perspectivas das sociedades trabalhistas que se situam diante de um mundo consumidor, em parte saturado? Os modernos instrumentos de produção permitiram crescimento de bens de tamanha quantidade ao ponto de provocar desequilíbrio entre os frutos da produção e o potencial de consumo.
A sociedade do trabalho e das conquistas tecnológicas tem sobrevivido às custas de seu espantoso progresso. Seu objetivo comum é a promoção da felicidade mediante o estímulo da aquisição e das políticas de publicidade que animam ao consumo sem limites. Nesse tipo de sociedade, o ter, o possuir, o adquirir mais tornam-se agentes da felicidade e prometem contemplar a vida com sentido, ainda que seja de aparência. O modo de vida, assim caracterizado, exclui, por si só, toda a pessoa crítica à subordinação ao império do consumo ou marginaliza os segmentos da sociedade que vivem aquém da linha do consumo idealizado.
Aos olhos da fé estão excluídas as pessoas que apostam no modo de vida, anunciado e exemplificado por Jesus Cristo, pessoas comprometidas com a fidelidade diante deste Deus, que, ao final da obra criadora, descansa e vive a paz e que aposta na economia da graça, independentemente do sucesso pessoal e da política do merecimento. Diante deste Deus, tão diferente, envolto em tanto mistério, mas ao mesmo tempo revelado no jeito humano de Jesus Cristo, questionamos sobre as alternativas viáveis e responsáveis a serem propostas pela comunidade cristã e, sobretudo, pelas pessoas cristãs. Enquanto cidadãos e cidadãs deste reino terreno, vivemos a realidade das relações humanas, e isto no mundo do trabalho, da indústria produtiva, do consumo exagerado ou da sua ausência. Vivemos no mundo do salário mínimo desumano, nos situamos no contexto do emprego e do desemprego, e denunciamos a má distribuição de rendimentos.
Vida verdadeira não se constitui só em trabalho, em capacidade produtiva ou em consumo. Vida feliz também não se equipara ao sucesso individual e a conquistas pessoais. Jesus anunciou que não é crime olhar agradecido e entusiasmado os lírios do campo, de beleza exuberante. Eles crescem e florescem sem que tivessem colaborado para aparentarem tanto vigor e nos alegrar com tamanha beleza!
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Jornal ANotícia - 07/05/2004