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A Reforma e a Música

30/01/2017

Lutero
Felipe Cokeli
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A REFORMA E A MÚSICA

Felipe Cokeli

Martim Lutero não foi apenas um reformador no âmbito teológico. Ele também esteve à frente de uma profunda reforma musical. Além de doutor em Teologia, Lutero era músico, apreciador de artes e valorizava a música. À época, na Igreja, os textos e músicas eram ouvidos em latim, uma língua estranha às pessoas comuns, que não participavam da execução das músicas. O canto gregoriano e a música polifônica, herdados da Idade Média e do Renascimento, apesar de muito ricos, não abriam espaço para a participação do povo nas igrejas. Lutero desejava que as pessoas compreendessem e participassem da liturgia, e não que fossem apenas espectadoras. O Evangelho precisava ser pregado de forma direta. Para isso, uma das ações de Lutero foi traduzir as Escrituras para o idioma local, o alemão, o que também ocorreu com as músicas cantadas na igreja. Estas deveriam ser facilmente cantáveis pelo povo. Muitas vezes, os hinos receberam melodias profanas, ou seja, de fora da Igreja. Melodias populares. O objetivo de Lutero era tornar a Palavra de Deus conhecida do povo através de pregações e da música. Para tanto, idealizou um tipo de coral, mais tarde denominado Coral Luterano, que entoava os hinos no idioma local, com melodias vigorosas e textos baseados no Evangelho. As melodias eram entoadas em uníssono pelas comunidades, com textos que normalmente possuíam rimas e estrofes, ou seja, a mesma melodia se repetia em diferentes estrofes, como ainda se observa atualmente na maioria dos hinos de tradição evangélica.

Havia a necessidade da composição de um repertório novo e maior de corais, e Lutero não fez tudo isso sozinho: ele teve a colaboração de poetas e músicos que o ajudaram a colocar em prática suas ideias. O resultado disso já sabemos: não demorou muito para que essa nova música coral se espalhasse, tanto nas igrejas reformadas como na Romana.

Muitos compositores fizeram uso do recurso de utilizar uma mesma melodia para diferentes músicas. Destaca-se o luterano Johann Sebastian Bach, que baseava seus corais em melodias conhecidas de sua igreja, compostas por outras pessoas. O exemplo que citarei aqui, por ser o mais oportuno, é a cantata Ein feste Burg ist unser Gott (BWV 80) (Castelo forte é o nosso Deus), destinada à Festa da Reforma, baseada na obra de Lutero com o mesmo nome. A cantata possui oito estrofes, quatro a mais que a música original, com diferentes harmonizações, e possui texto adaptado e composto por Salomão Franck. O coro final tem a letra da quarta estrofe do hino de Lutero. Ouçamos o último movimento, com o Suddeutscher Madrigalchor-Consortium Musicum, conduzidos por Wolfang Gonnenwein, e nos preparemos para as celebrações dos 500 anos da Reforma. (Veja midiateca abaixo.)


 

Formado em Música e especialista em Musicoterapia, Felipe Cokeli é violonista e representante dos musicistas na Paróquia do ABCD.

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