A palavra do Padre Snoeck
Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão; Mas depois que houver. ressuscitado, vos hei de preceder. Mt. 26.31-32
É com profunda emoção que hoje, oito dias depois do trágico passamento dos nossos queridos Breno Mariane, nos reunimos nesta Igreja. Foi, daqui que Breno partiu, domingo passado, alegre, levando a Boa Nova a outra comunidade.
Foi aqui que ele voltou, carregado, para o último adeus à Igreja que amava.
Parece que foi necessário que ele se fosse, para que, de repente, pudéssemos descobrir o quanto representava para nós.
Parece que foi necessário que a fragilidade daquele corpo se despedaçasse, para que pudesse resplandecer com todo fulgor o fogo que ardia lá dentro.
E de repente, ficou tudo claro.
Não era ele que vivia, era o Cristo nele; o Cristo, caracterizado par Bonhoeffer como o homem-para-os-outros. Por isso aquela transparência. Por isso aquela disponibilidade total. Cada um de nós pensava que Breno - vivia só para nós. No entanto era tudo para todos.
Era totalmente dedicado à sua comunidade, a qual amava profundamente.
Era totalmente dedicado aos inúmeros amigos católicos.
Era totalmente dedicado ao magistério e aos seus alunos.
Cristo vivia nele. Por isso sua palavra era tão vibrante, sua comunicação tão irresistível. Não era ele que falava, mas o Espírito do Senhor. Como todo profeta, Breno era os Dei, boca de Deus, voz do Senhor. Tudo nele era voz, que clamava. Não é verdade que nosso coração ardia, quando nos falava em caminho e nos explicava as Escrituras? (Lc 24.32).
Curta foi sua existência, mas de uma tensão tão alta que ultrapassa de longe as fronteiras do tempo. Rápida foi sua passagem, como de um relâmpago, e nossa vista ainda está ofuscada.
Não sei como agradecer a Deus por ter conhecido este homem. Não sei como agradecer à Igreja Luterana por nos ter dado tal Pastor.
Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão. Não só os irmãos luteranos, nós todos ficamos sem pastor, perdemos o nosso Breno, a nossa Mariane.
Será mesmo que os perdemos? A escritura continua: Quando houver ressuscitado, vos hei de preceder. Algo de estranho está acontecendo. Parece que todos nós estamos sentindo que Breno está vivo, que está no meio de nós. Está até mais presente do que quando vivo. Não só porque seus gestos e suas palavras tomaram uma outra dimensão pela sua morte brusca, mas porque, identificado com o Cristo, já participa da Ressurreição, e da presença do Ressurreto na sua Igreja.
Cristãos como somos, não vivemos da saudade daquele que se foi, mas da perigosa memória do Cristo presente.
Em Cristo, Breno está presente. Como o Pai disse a respeito do Filho transfigurado no monte: este é o meu filho predileto, escutai-o, assim Cristo nos apresenta um Breno transfigurado: este é o meu mensageiro predileto, escutai-o.
Breno e Mariane viviam na esperança da ressurreição e não foram confundidos. Sigamos o caminho luminoso que nos traçaram. Não seremos confundidos.
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Também publicado em: Irreverência, compromisso e liberdade. O testemunho ecumênico do pastor breno Arno Schumann (1939-1973). Escola Superior de Teologia e Koinonia. Presença Ecumênica e Serviço, 2004,p. 153-153.]