Christine Drini é pastora da Evangelische Lutherische Kirche in Bayern e atua na Paróquia Martin Luther, no Rio de Janeiro, desde janeiro de 2011. Neste um ano e meio de trabalho gastou alguma energia para adaptar-se às condições de trabalho. Além dos eventos regulares, houve muito trabalho em maio e junho. Para falar disso ela me recebeu para uma entrevista.
A pastora falou da “preparação da visita da parceria com o Decanato de Schweinfurt, da Conferência Rio+20 e da Cúpula dos Povos, com gente de todos os lugares e religiões – espíritas, religiões afro-brasileiras, orientais e muitas denominações cristãs – e o maior problema é que era tudo em cima da hora!” Para ela foi “experiência bonita, rica, porque envolveu gente de muitos países, em eventos diferentes, e claro, uma experiência cansativa. Mas valeu porque tive muito apoio e ajuda na comunidade”.
Ela conhece a Parceria desde seu pastorado em Bad Kissingen. “Conheci essa parceria há 15 anos na Alemanha, mas ela nasceu mais cedo, em 1987, com uma carta do Decanato de Schweinfurt à qual o então presidente da CELURJ, Hermann Evelbauer respondeu: ‘vamos pegar a mão estendida e vamos fazer essa parceria com as quatro comunidades do Rio’”. Após o apoio à Creche Bom Samaritano, “a nossa luta foi ampliar a parceria, envolver mais gente e mais o povo das comunidades”.
“O que fizemos foi organizar uma semana de eventos sobre o Brasil”, disse Christine. “Tinha grupo de samba, tinha discussões, tinha juventude envolvidos e depois preparamos bem uma viagem para o Rio, envolvendo muito mais pessoas. Foi um grupo bastante grande, do qual eu fiz parte, doze pessoas, vindo para o Rio. E foi muito bom. Foi cansativo para mim porque tive que fazer muita tradução, mas conseguimos envolver mais pessoas e também conhecer mais pessoas das comunidades”.
Depois que “saí de Bad Kissingen, a comunidade onde estava, só acompanhei de mais longe. E agora, eu troquei de lado, me candidatei para essa comunidade aqui, assumi o pastorado aqui e estou vendo a situação por outro lado, recebendo as pessoas da Alemanha”. Nesta condição, “sentou junto desta vez para planejar com mais antecedência essa visita e formamos um comitê com dois representantes de cada comunidade e os pastores, para existir uma relação de igualdade, em que nenhuma paróquia fica para trás, montamos uma agenda, com pautas para essa visita e distribuímos as tarefas”.
Diz ter aprendido ao atuar nos dois lados da parceria. “Para mim sempre é bom, como se diz em alemão, ‘olhar além do seu prato de sopa’”. Lembrou que na Alemanha, como também aqui no Brasil, por vezes “a gente fica sempre entre nós mesmos, acha que é o centro do mundo”. Mas, “conhecer outra cultura, outra igreja, sempre enriquece muito porque a gente começa a se questionar: porque eu faço isso assim? Ou porque os outros fazem de um outro jeito? As ideias bonitas de outras igrejas, e os desafios, porque os desafios no Brasil são grandes, e na Alemanha são outros”.
“No Brasil”, distinguiu, “você tem a questão dos recursos, que na Alemanha é mais fácil lidar, mas no Brasil você tem uma cultura mais aberta, celebrações bonitas, as comunidades são muito cordiais. Na Alemanha, você tem a estrutura de uma igreja do povo, maior, mas o povo muitas vezes não aparece”. No entanto, “o povo que vem quer conhecer o Corcovado, a praia de Ipanema, de Copacabana e o Maracanã, mas não quer ficar só no turismo, mas realmente trocar experiências. Então formamos quatro tópicos: Trabalho com crianças e jovens, Planejamento estratégico, Diaconia e Trabalho com idosos”.
Elogiou o planejamento e lembrou que “o que a gente pode melhorar aqui no Rio, nas quatro comunidades, é aprender a deixar para trás as concorrências e brigas, e formar um conjunto para levar essa parceria à frente. O projeto da Creche, que todos nós apoiamos e que Schweinfurt apoia, mas também queremos envolver as quatro comunidades na participação nesta parceria, já que ela é entre as comunidades, ao final das contas”.
Rio+20 e Cúpula dos Povos
Esses dois eventos foram acompanhados pelo Conselho de Igrejas Cristãs do Estado do Rio de Janeiro (CONIC-Rio), mas houve dificuldade de conseguir informações. Apensar disso nos encontramos e planejamos “uma celebração ecumênica que foi muito bonita. O dia era muito bonito, fez sol no Parque do Flamengo, ficamos na tenda, enfeitamos com flores, uma banda tocou, tinha cestas de flores e frutas, e os quatro elementos que celebrantes trouxeram na frente. Muita coisa bonita, uma celebração que adorei, com a participação das Igrejas Anglicana, Católica, Presbiteriana Unida. A teóloga Maria Clara Bingemer fez a prédica. Uma pena é que de manhã, durante a semana, o povo trabalha e não pode participar. Veio bastante gente, mas poderia ter sido mais”, observou.
Sobre a mediação das igrejas com a Cúpula dos Povos, disse que “o pastor local tem um papel difícil. Ele reúne informações e se comunica com todos. Houve dia em que recebi entre 50 e 100 e-mails, de tanta comunicação que houve e ainda ficou tudo em ‘cima da hora’. Fizemos a reunião do CONIC em março e ficamos tentando conseguir informações. Depois recebi informações do Evangelisches Entwicklungsdienste (EED) e do Pastor Junge Reichel, da Alemanha”. Depois “a gente fez contato com outras organizações e igrejas, e reuniões sobre a Cúpula dos Povos, na sede do VivaRio. E foram feitas muitas coisas, apesar de falta estrutura, de apoio e de informação, com que a gente por vezes sofreu”.
“Fizemos um culto muito bonito, trilíngue, no dia 17, em que esteve presente o Pastor Nilton Giese, Secretário Geral do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI). Sua prédica nos trouxe umas dicas sobre como os índios dos Andes lidam com as questões, baseada na parábola da semente que cresce por si”, lembrando que este culto teve “a participação de alemães, africanos, da América Latina e de outras partes do Brasil. Foi um culto realmente internacional, muito bonito, com música muito bela. Acho que isso já valeu”. Insistiu que “isso foi muito importante porque nós não entramos muito na mídia”.
No programa da Cúpula dos Povos, “tentamos estar presentes, oferecer eventos, participar de momentos ecumênicos. E coordenar tudo isso deu um trabalho enorme. No dia 19 de junho, fizemos um culto com e para os jovens da REJU e do programa Criatitude, no qual o Pastor Nestor Friedrich, Presidente da IECLB, também participou. Essa foi uma celebração muito festiva. Adorei como os jovens se colocaram neste culto, fazendo propostas de projeto, reflexões sobre o tema e dando esperança para nós adultos, de que os pequenos projeto são o caminho. Mesmo que não tenha saído muita coisa da Conferência Rio+20, que o documento seja muito fraco, são esses os pequenos projetos que dão esperança”, assegurou.
Participação local
Também para a Paróquia Martin Luther foi uma experiência nova. “Nossa pequena comunidade de 200 famílias-membro ficou no centro da atenção. Recebemos e organizamos muitas visitas de fora, inclusive a recepção da Presidência da IECLB em nossa comunidade, em que participou o bispo Heinrich Bedford-Strohm, da Baviera, junto com a delegação do EED, bispos luteranos da América Latina, representantes da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e das comunidade luteranas do Rio”.
E elogiou a Paróquia Martin Luther. “Nos mostramos uma comunidade acolhedora, cuja diretoria também colaborou muito. Para mim, uma coisa muito bonita e gratificante é que, pela primeira vez, pude fazer contatos aqui com projetos da FLD, nos quais fui por dois dias, acompanhando o grupo de EED e conhecendo projetos da FLD, como o Projeto de agricultura ecológica, em Nova Iguaçu, o Projeto de trabalho com jovens que dançam Hip-hop, do Pastor Francisco Santos, em Rio das Ostras, e o trabalho do Pastor Adélcio Kronbauer, em Nova Friburgo, que ainda não tinha visto de perto”, se dispondo a “colaborar mais com essas organizações, entidades e ONGs”.