Sulão VII - Mutirão Ecumênico 2013

20/10/2013

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“Depois disso, derramarei o meu espírito sobre todos os viventes,
e os filhos e filhas se tornarão profetas;
entre vocês, os velhos terão sonhos e os jovens terão visões”

(Joel 3.1).

Entre os dias 18 e 20 de outubro de 2013, pessoas de diversos cantos e lugares dos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, se encontraram em Almirante Tamandaré, região metropolitana de Curitiba (PR), para a realização do Mutirão Ecumênico – Sulão VII. Eram filhas e filhos que assumiram a profecia como um espaço comum de atuação, transformação e sinal de uma vivência fé; eram velhas e velhos que não abandonaram a capacidade de sonhar e buscar outros mundos possíveis; eram jovens visionárias e visionários, marcad@s pela capacidade de ver além dos lugares estabelecidos, desejando uma casa-comum realmente justa, sustentável e habitável por todas as pessoas. Gentes que fizeram do caminho em mutirão um sinal da utopia de um mundo que supere os escândalos da divisão, estruturantes de nossa sociedade; que fizeram do encontro de diferenças o espaço criativo, renovador e impulsionador de outros rumos para a nossa espiritualidade; gentes de distintas comunidades de fé, irmanad@s no vento do Espírito, fôlego de vida, que envolve a todas as pessoas em profunda liberdade.

Com estas profecias, sonhos e visões, nos encontramos a partir do tema: “Juventudes: tolerância e solidariedade num mundo pluralista”. O caminho traçado nos articulou em três passos metodológicos: os olhares sobre a realidade, em suas diversas óticas; a análise e iluminação do cotidiano a partir das leituras e perspectivas bíblicas; e o estabelecimento de caminhos para a vivência ecumênica, sinais de diálogo, partilha solidária e a utopia de que a “paz e a justiça se beijarão”. 

Olhamos...

Neste mutirão, refletimos sobre o que significa ser uma pessoa idosa, jovem e mulher em nosso país. Assessorad@s por Alceni Maria Schwartz, ouvimos as consequências de uma sociedade dividida em classes, o que influência profundamente a vida d@s idos@s, marcados pela lógica do descartável em um sistema econômico excludente e injusto. Neste contexto, também olhamos e ouvimos relatos que sinalizam esta faixa etária da vida como uma fase marcada pelas resistências e a ocupação do espaço político, buscando a transformação das realidades estruturadas pelas desigualdades.

Além da realidade da pessoa idosa, olhamos as trajetórias e vivências das juventudes, reconhecidas como um espaço plural e dinâmico, um amplo processo de construção do sujeito. Para este momento, ouvimos as reflexões de Daniel Souza, facilitador nacional da REJU (Rede Ecumênica da Juventude). Escutamos as realidades que provocam uma ação, como o extermínio da juventude negra; a questão dos grandes eventos e os impactos na juventude; e as intolerâncias, como a religiosa e a homofobia. Além disto, desconstruímos alguns paradigmas sobre as juventudes, como a compreensão d@ jovem como problema ou d@ jovem como motor para o desenvolvimento econômico; por último, dialogamos na perspectiva do jovem como sujeito de direitos, como protagonista da sua vida, superando a relação de tutela e de “peça” na engrenagem desenvolvimentista. Assumindo este último paradigma, ouvimos algumas reflexões sobre as novas organizações das juventudes, como o trabalho em redes e o papel do movimento ecumênico neste processo.

Já a advogada Damaris Dias Moura apresentou um olhar para a realidade das mulheres, relacionando a temática da violência contra a mulher e a intolerância religiosa. Como pergunta chave: o que fazer com cidadãos e cidadãs que não podem expressar a sua religiosidade? Quando uma única pessoa sofre intolerância, todas os seres humanos são responsáveis por este sofrimento. Isto se relaciona com a vida das mulheres, algumas delas não podem expressar a sua fé dentro de seus lares e sofrem violências de distintas formas, como: verbal, psicológica, moral, sexual, patrimonial, social e física. Como proposta, foi nos apresentado como caminho, a necessidade da quebra do silêncio para se construir uma sociedade mais justa e igualitária.

Iluminamos...

No segundo passo metodológico, iluminamos a nossa realidade a partir de uma reflexão bíblico-teológica, facilitad@s por Edmilson Schinelo, biblista e assessor do CEBI. De início, sua reflexão nos conduziu para repensarmos a tolerância, sinalizando que para a pessoa cristã, o contrário de intolerância não pode ser somente tolerância, mas aceitação, diálogo e aprendizado com o diferente. Além disso, a partir do texto de Joel (3.1), Edmilson apresentou que o espírito será derramado sobre todos os viventes, sem exclusões. Para evitar os risco de manipulação da Bíblia como forma de reforçar o fundamentalismo e a intolerância, Edmilson alertou que o caminho é lembrar sempre que a vida vem em primeiro lugar. A Bíblia deve iluminar a vida (Sl 119,105). Se as instituições (seja o Estado, as igrejas e a própria pessoa humana) tendem a ser intolerantes e monoculturais, nas margens e nos encontros cotidianos, a pluralidade acontece, como expressão do sonho de Deus. Por último, Edmilson ajudou o grupo, à luz do texto de Lc 18,1-5, a perceber como ser ecumênic@ é cultivar a rebeldia juvenil, é se indignar com a injustiça e a opressão. O modelo de oração apresentado por Jesus é uma viúva que exige seus direitos. Tal como Deus armou sua tenda no meio do povo, a mulher é capaz de “armar o barraco” diante do “juiz da injustiça” para que o ecumenismo aconteça. E com muita probabilidade, Jesus poderia estar evocando uma mulher jovem: num contexto de ocupação romana, onde os homens morriam muito cedo na guerra, muitas jovens ficavam viúvas. Essa interpretação pode nos iluminar em nossos caminhos ecumênicos na busca pela garantia de direitos. 

Celebramos....

Uma das características marcantes do VII Sulão/Mutirão Ecumênico foram os momentos de celebração, pelos quais buscamos ouvir o que o Espírito diz às Igrejas e a cada um de nós no contexto plural em que vivemos. Buscar ouvir o Espírito é buscar discernir os sinais de sua ação nas pessoas, no mundo, nas igrejas e nas religiões. E a partir disso, entendemos melhor quais são os caminhos que precisam ser percorridos para se chegar a uma sociedade de paz e de justiça, de respeito e de acolhida das diferenças, de convivência pacífica e cooperação entre igrejas e religiões, superando todas as tendências à intolerância e ao fundamentalismo. 

A celebração fortalece a convivência e leva à confraternização. Esta foi também um ponto alto do encontro entre os participantes do VII Sulão/Mutirão Ecumênico. A experiência de encontro, diálogo e conhecimento mútuo fez do mutirão uma verdadeira confraternização, experiência de alegria e festa ecumênicas.

Sonhamos e agimos....

No terceiro momento, olhamos “o ecumenismo que nos desafia”, assessorad@s pelo Pe. Elias Wolff, assessor nacional da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso – CNBB. O assessor nos ajudou na reflexão sobre quatros pressupostos fundamentais para a ação ecumênica: i) atitude de fé que exige o diálogo entre os cristãos e cristãs para o testemunho comum do evangelho; ii) atitude de conversão que permite o reconhecimento e a superação das faltas contra a unidade; iii) atitude de diálogo com a capacidade de colocar as próprias verdades em relação e crescimento com a verdade das outras pessoas; e iv) consciência eclesial, fazendo do ecumenismo um serviço à igreja, Corpo de Cristo, de comunhão e participação. Em seguida, Pe. Elias apresentou elementos da atual conjuntura do movimento ecumênico, identificando: i) as forças, nas orientações das igrejas, organizações ecumênicas e na formação para o ecumenismo; ii) as fraquezas e ameaças, entre outras: atitudes de intolerância e fundamentalismo nas igrejas, a não incidência estrutural nas igrejas, sobretudo, no clero, da proposta ecumênica; e o limitado número de lideranças ecumênicas; iii) as oportunidades: recuperar e fortalecer as orientações ecumênicas que as igrejas possuem; assumir a agenda ecumênica das organizações existentes, como a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos; se engajar e construir projetos comuns de incidência política para a transformação social.

Em seguida, em grupos, refletimos sobre as forças, ameaças e fraquezas e oportunidades, buscando o fortalecimento ecumênico nos quatro estados do Sulão. Por fim, facilitad@s pela pastora da IECLB Romi Bencke, secretária Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil - CONIC, refletimos sobre a história do movimento ecumênico, as demandas do movimento no contexto brasileiro, como a abertura para o diálogo inter-religioso e a busca pela superação de todas as intolerâncias. A Pastora Romi ajudou a fortalecer a convicção ecumênica de cada participante do VII Suão/Mutirão de Ecumenismo, apresentando a urgência para a formação de atitudes de encontro, diálogo e parceria entre igrejas e religiões. No encerramento, os representantes das igrejas e organizações ecumênicas de cada Estado presente no VII Sulão/Mutirão Ecumênico estabeleceram prioridades para a ação ecumênica em seu próprio contexto.

Nós, participantes do VII Sulão/Mutirão Ecumênico,

- profetizamos, sonhamos e colocamo-nos como visionári@s de um outro mundo possível, de paz e de justiça; de uma outra Igreja possível, de comunhão e de participação, Igreja realmente ecumênica,

- buscamos uma casa-comum habitável por todas as pessoas;

- desenvolvemos uma espiritualidade que se move a partir da justiça, do diálogo e da solidariedade, contra as intolerâncias;

- afirmamos o protagonismo das juventudes, que reinventam seus espaços, desejam novos jeitos de viver a fé, e lutam por uma sociedade melhor;

- reconhecemos o valor da sabedoria, das experiências e da vida das pessoas idosas;

- promovemos e defendemos a vida justa das mulheres que são espezinhadas por múltiplas formas de opressão, e estamos dispostos a romper o silêncio da violência;

- promovemos e defendemos a vida humana e do planeta;

- fortalecemos as experiências ecumênicas que se abrem cada vez mais ao mundo plural e ao sonho de justiça e de paz, a começar de nós e por nossas Igrejas.

Continuamos nos caminhos do diálogo e da unidade ecumênica, vivendo, desde já, as expectativas do VIII Sulão/Mutirão Ecumênico, que será realizado no Estado de Santa Catarina, em 2015. 

 Fonte: CONIC

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