No Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, a nossa homenagem vai para estas guerreiras modernas que se desdobram no papel de esposa, mãe, profissional e por que não dizer de mulher também? Para falar sobre estas várias facetas femininas à luz da Bíblia, convidamos a Pastora Rosângela Stange, que exerce o pastorado na Comunidade Concórdia, em São José dos Pinhais/PR. Participa também a Diaconisa Tatiana Plautz Tevah, formada em Enfermagem com Especialização em Psicooncologia, Docente no Instituto de Educação e Pesquisa do Hospital Moinhos de Vento (IEP), além de trabalhar na Pastoral do Hospital Moinhos de Vento acompanhando pacientes oncológicos e seus familiares. Faz parte, ainda, a Diácona Valmi Ione Becker, que, naAlemanha, aprofundou a sua formação na área de Acompanhamento a Doentes Terminais e Familiares. Atualmente, supervisiona o Grupo de Visitadoras e Visitadores Domiciliares e Hospitalares da Paróquia São Mateus, em Joinville/SC, além de atuar junto aos Trabalhos Diaconais da Paróquia. Também compõe o Conselho Sinodal de Avaliação de Obreiros e Campos de Atividade Ministerial do Sínodo Norte Catarinense. Finaliza a reflexão a Diácona Ione Georg Pedde, que já trabalhou em escola evangélica, comunidade, favela, projeto do Departamento de Diaconia da IECLB e como Coordenadora Geral da COD. Como Psicóloga, pós-graduanda em Avaliação Psicológica, atualmente exerce a sua profissão em consultório na área de Psicologia Clínica, em São Leopoldo/RS.
Mulher no papel de mulher
Pa. Rosângela Stange
Infelizmente, a maneira de se ler a Bíblia por muitos e muitos anos contribuiu para que a mulher fosse considerada sujeito de segunda categoria, inauguradora do pecado no mundo, responsável pela queda e pelo rompimento da relação perfeita entre ser humano e Deus. A subjugação dá-se, inclusive, pela inclusão do gênero feminino no termo Homem (substantivo masculino).
A fonte em que buscamos recuperar a dignidade perdida da parte feminina da população mundial é a própria Bíblia. Em Gênesis 1.27, lemos Deus criou os seres humanos; ele os criou parecidos com Deus. Ele os criou homem e mulher. Mais adiante, lemos a constatação E Deus viu que tudo o que havia feito era muito bom (Gn 1.31).
Se ambos foram criados por Deus, com anatomia diferente, porém não desiguais na condição humana e filiação divina, não há argumento que possa fundamentar o pensamento de que uma parte da criação de Deus deve servir e a outra ser servida. Nem mesmo o segundo relato da criação, no qual se lê que a mulher foi criada a partir da costela do homem (Gn 2.23), pode ser interpretado dessa forma. O texto destaca a relação entre dois seres em posição de igualdade e companheirismo. Juntos, formam uma nova família, que é, ou deveria ser, o núcleo menor no qual se inicia a concretização do Reino de Deus.
Na forma como Jesus se relacionou com as mulheres, ensinando-as, curando-as, também podemos ver os planos de Deus para a humanidade: relação de iguais. Todo texto bíblico deve ser lido a partir da ação e dos ensinamentos de Jesus Cristo: fundamento da nossa fé.
Para refletir, leia Gênesis 1.1-2.25
Mulher no papel de profissional
Diaconisa Tatiana Plautz
Na minha infância, ouvia minha avó e minha mãe falarem sobre minha bisavó, que sofrera um acidente em sua juventude. Ela estava trabalhando na lavoura e, por uma fatalidade, perdera seu braço direito. Mesmo assim, casou, criou oito filhos (entre eles, minha avó materna) e, ao lado do meu bisavô, seguiu a vida trabalhando em casa e na lavoura.
Histórias de mulheres trabalhadoras que deixam seus diferentes ‘desenhos’ na ‘tela da vida’ me cativam. Lendo a Bíblia, há várias mulheres com histórias de comprometimento em favor da vida, como Febe (Rm 16.1), Dorcas, que praticava ações de bondade e caridade (At 9.36-39) e uma Maria que muito ‘trabalhou por vós’ (Rm 16.6). São muitas as Martas, Madalenas, Saras, Rebecas, Déboras, que, por meio da multiplicidade profissional, continuam contribuindo para a história da mulher na humanidade.
A história tem comprovado que as mulheres vêm ultrapassando barreiras e que filhos, marido, responsabilidades domésticas e preconceitos relacionados ao gênero feminino e a outras dificuldades não são empecilhos ao destaque profissional.
As mulheres estão conquistando importantes vagas no mercado de trabalho. No entanto, estatísticas comprovam que recebem 64% do salário masculino desempenhando a mesma função. Homens e mulheres não precisam ser rivais profissionalmente, mas, sim, parceiros, tornando a sociedade mais justa e igualitária. Nossos filhos, netos e bisnetos precisam viver com dignidade e nós temos a responsabilidade e o comprometimento de continuar dando o exemplo de que as mulheres vêm buscando o seu espaço na sociedade desde os primórdios da humanidade.
Para refletir, leia Atos 9.36-39
Mulher no papel de esposa
Diácona Valmi Ione Becker
Comenta-se que o casamento é algo do passado. Pessoas que mantêm uma relação estável, sólida e fiel são ridicularizadas. Vejo a busca por uma relação amorosa como desejo comum entre nós. Esposa parceira, conciliadora, sensata, hospitaleira, pacificadora e, acima de tudo, temente a Deus, é presente que cada indivíduo almeja. Aqui, a recíproca é verdadeira. A Bíblia ensina que, quando um dos parceiros tropeça, o outro suporta àquele que se desequilibrou o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade (Eclesiastes 4.12).
Esposas cristãs investem na relação com o parceiro, alegram-se com as suas conquistas e ombreiam as dificuldades juntos. Ora, a vivência da cumplicidade é algo valioso. Num casamento, os cônjuges são os dois cordões que se entrelaçam com um terceiro que pode reforçar a relação: o amor. O amor vem de Deus e é mais do que um sentimento. Ele é a estabilidade que oportuniza os cônjuges a aceitarem-se tal como são. Ele promove a paz e a renovação diária de espaço para que o outro se desenvolva e seja feliz. O amor que brota de Deus confia e perdoa sempre de novo.
Você se alegra com presença do parceiro? Há brilho e encanto na sua relação? Talvez nós mulheres devêssemos nos ocupar mais em polirmos a nossa relação conjugal do que em só tirar o pó dos móveis da nossa casa. Agindo assim, constataremos que a nossa relação matrimonial voltou a brilhar, e isso com mais intensidade. Redescobriremos a beleza da relação que estava coberta pelo pó do rancor, do mal-entendido, da discórdia, da infidelidade…
Para refletir, leia Salmo 128.3
Mulher no papel de mãe
Diácona Ione Georg Pedde
Em tempos idos, uma mulher era considerada completa somente depois de ter um filho. Destaque-se que, para ser realmente mãe, era preciso gerar e, de preferência, pelo menos, um filho homem. Embora aqui e acolá persistam alguns desses valores culturais, vemos uma crescente abertura para compreender o lugar que cabe à mulher, sendo mãe ou não. Além disso, a questão da maternidade está colocada sob novos paradigmas.
Sabemos que, para ser uma boa mãe, não basta gerar. É preciso filiar. O processo de filiação não necessariamente é natural e pode prescindir dos aspectos biológicos. Há genitoras que nunca se tornam mães. Existem mulheres que adotam uma criança ou um adolescente e são genuinamente mães. Ser mãe é, antes de tudo, ter um desejo de maternar. A vontade de cuidar bem e de ajudar o filho ou a filha a se desenvolver de forma sadia nos auxilia a vencer limitações e a achar saídas para as encruzilhadas da vida. Um ditado popular diz Deus não podia cuidar de todas as pessoas sozinho. Então, criou as mães. Embora não tenha base bíblica, ele reporta à grandeza da missão de maternar.
Não há receitas, mas a Bíblia está recheada de relatos inspiradores para o exercício da maternidade. Lembramos do amor, da coragem e da criatividade da mãe de Moisés, da sabedoria e do desprendimento da mãe que disputava seu filho diante do rei Salomão, de Maria, que entregou sua vida e até sua reputação para que o filho pudesse seguir sua missão.
Mães também falham, precisam de ajuda. Quando o cansaço nos vence, as dúvidas nos sobressaltam, o dinheiro falta, a doença se impõe, Deus pode e quer nos orientar e fortalecer na simultaneamente linda e difícil tarefa de ser mãe.
Para refletir, leia Provérbios 6.20