A necessidade da diaconia decorre, fundamentalmente, de três constatações:
1 . Toda pessoa é diferente uma da outra, possuindo, simultaneamente, dons e limitações. Ninguém reúne, em si, todos os dons, ninguém possui dom nenhum. Somos dependentes uns dos outros, respectivamente de ajuda mútua. Isso se torna especialmente evidente na infância, na velhice, na doença e em outras dificuldades, mas é verdade em todas as situações. Deus quer que as pessoas se complementem mutuamente, aprendam uns com os outros e, caso necessário, entrem na brecha pelo outro. Somente dessa forma, convívio humano há de tornar-se rico e livre de ódio e exploração.
Diaconia significa compartilhar, exercer a função de um membro do corpo (l Co 12.12 ss). Ela reparte dons, forças, tempo, conhecimentos, dinheiro, convicções e fé. Por natureza, é reciproca. Consiste em dar e receber. Pois ninguém possui tudo. Consequentemente, diaconia é dever permanente das pessoas. Faz-se indispensável em todas as fases da vida, em todo tipo de convívio e em todas as épocas.
2. O ser humano prejudica sua vida pelo seu pecado. Torna-se culpado, cego, fraco. É trágico observar como as pessoas complicam o seu dia-a-dia. Cometem tolices, tornam-se vítimas de anseios descabidos, de teimosia e ciúmes, não resistem às tentações, são fracas na fé. Na raiz de muito sofrimento, está o pecado da própria pessoa, sua fraqueza culposa, sua idolatria.
Diaconia não fará depender sua ajuda de méritos. O próprio Deus não o fez. Amou os pecadores, veio-lhes em socorro, inclinou-se aos que não mereciam.
Diaconia cristã pressupõe a capacidade de perdoar, bem como a consciência da própria fraqueza e culpa. Procurará curar, libertar de egoísmo, ajudar a vencer problemas, sempre na humildade dos que igualmente necessitam do perdão.
3. O pecado humano faz vítimas , assim como o foi o homem assaltado pelos ladrões na parábola do bom samaritano (Lc 10 30ss). Também leis injustas fazem vítimas, a exemplo da lei do Corbã, que no tempo do Novo Testamento, permitia ao filho esquivar-se maldosamente e todavia de modo absolutamente legal aos compromissos com os pais idosos (conforme Mc 7.9 ss). Diaconia evangélica tem olhos e ouvidos para as vítimas da sociedade, isto é, para os roubados, enganados, explorados, marginalizados. Não só lhes virá em socorro, há de colocar-se a seu lado, defendendo-lhes a vida e a causa justa, questionar leis e estruturas que oportunizam, favorecem ou sancionam o crime. Diaconia tem o mandato de afastar os poderes que ameaçam a vida, que a prejudicam ou a destroem.
O exposto já evidenciou que a premissa fundamental da diaconia é o amor. É ele que a promove, exige e possibilita. Percebe sofrimento e com ele se comove. Procurará soluções. Pode-se definir diaconia como sendo, por excelência, a ação do amor. Sua ausência acusa pecado nada menor do que a falta de fé e produz uma sociedade altamente fria, brutal e assassina. Diaconia exige a aprendizagem e a motivação do amor. Nisso, Jesus Cristo ajuda. Seu amor nos constrange (conforme 2 Co 5. 14), impedindo-nos a colocar dons e forças a serviço de nossos semelhantes . No amor de Deus, manifesto na diaconia de Jesus, a diaconia da comunidade tem sua causa última e sua contínua fonte de capacitação.
Diaconia Evangélica - Posicionamento do Conselho da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB, 1988 – veja versão completa