HPD nº 449 - Que estou fazendo se sou cristão?
O autor da letra do hino HPD 449 “Que estou fazendo se sou cristão?” foi o teólogo presbiteriano Rev. João Dias de Araújo, 79, casado, cinco filhos, atualmente é professor do Seminário Batista do Nordeste e pastor da Igreja Presbiteriana Unida de Feira de Santana, na Bahia.
Quando, então com 36 anos, fazia mestrado em teologia de Calvino no Seminário de Princeton, nos Estados Unidos, o maestro brasileiro João Wilson Faustini, também residente naquele país, lhe sugeriu que escrevesse a letra de um hino que falasse sobre o compromisso dos cristãos contra a injustiça e a miséria social. Foi assim que nasceu, em 1967, na época do regime militar no Brasil, o hino “Que estou fazendo se sou cristão?”. A letra retrata o compromisso cristão contra a injustiça e a opressão gerada pela desigualdade social. O Rev. João sofreu muitas críticas por esta letra. Tanto de crentes como de não crentes. Na época, diziam que era letra de comunista, de esquerda, etc.
A letra acima, ao refletir criticamente sobre a realidade social, ao tratar da imensa população de pobres, ao enfocar uma salvação que leva o indivíduo a ser parte do projeto divino que combate toda forma de opressão e injustiça, trazia a lume os principais temas da Teologia da Libertação.
A música (composta em 1974) é do médico (Clínica Geral) e pianista presbiteriano Décio Emerique Lauretti, residente na cidade de Socorro (SP). Ele conta a respeito :
No ônibus para a faculdade de medicina, eu havia lido ‘Jesus Cristo, Libertador’, do Leonardo Boff, que me impressionou bastante. A amizade do Rev. Jaime Wright (cujo irmão Paulo, ex-deputado por Santa Catarina, foi um dos desaparecidos brasileiros), os contatos com Maraschin (infelizmente falecido em 2010), os textos de Rubem Alves (ainda hoje um amigo querido), os textos de John Robinson, Tillich, Bonhoefer e tantos outros sedimentaram em mim uma visão menos conservadora do que a então vigente na Igreja Presbiteriana do Brasil, tornando incômoda minha permanência na instituição.
Passamos a freqüentar igrejas mais pobres, ligadas ao Presbitério São Paulo, dissidente da IPB. Levávamos ‘nossa música’ para outros lugares para outras denominações. Atuávamos na ABU (Aliança Bíblica Universitária), onde fiz amizade com anglicanos, católicos, etc.
A música “Que estou fazendo” é produto da época da ditadura militar. Tomei conhecimento do poema do Rev. João Dias de Araújo e fiquei muito impressionado pela firmeza das suas palavras. Pregava um cristianismo engajado na luta contra as injustiças, distante da religião enclausurada nos templos, que busca a ‘salvação da alma’ e ignora o corpo, especialmente os corpos dos desfavorecidos. Decidi musicá-lo, optando por uma seqüência harmônica barroca num ritmo brasileiro, o baião.
Quando foi fundada a Igreja Presbiteriana Unida (IPU), seu primeiro Secretário Geral foi o Rev. Jaime Wright. Por sugestão dele, o poema do Rev. João Dias com a melodia de Décio Lauretti tornou-se o hino oficial da instituição, o que foi determinante para a sua ampla difusão no país. Há poucos anos, a música foi incluída na Campanha da Fraternidade da Igreja Católica Romana, sendo distribuída nas igrejas em texto e gravada em CD.
Atualmente este hino aparece em hinários de várias Igrejas evangélicas. Para sacudir a igreja brasileira, seria muito bom se todos os cristãos de nosso injusto país cantassem com freqüência esse hino.
Referências bíblicas: Tiago 2.1-10,14-17 Não se deve fazer acepção de pessoas
Provérbios 22.1-2, 8-9 todos pertencem ao Senhor
Fontes: www.ultimato.com.br Edição 298 de jan/fev.2006
http://www.faculdadeunida.com.br/1/artigos/inquisicao-sem-fogueiras.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Presbiteriana_Unida_do_Brasil#Hino_Oficial
Notas:
1 Em 2010
2 por correspondência de e-mail em março de 2011.