Per Harling (*1948) - HPD 344, 361, 370
Per Harling é pastor luterano ordenado na Igreja de Suécia. Harling compôs música litúrgica e escreveu vários livros sobre adoração, hinos e biografias. É autor dos seguintes cânticos litúrgicos de nosso hinário: HPD nº 344 = “Tem piedade, Senhor”; HPD nº 361 = “Santo é você, Senhor”; e a melodia de HPD nº 370 = Cordeiro de Deus (versão de Anders Lindow).
Ele nasceu em 1948 e foi criado em Ljungskile Bagarmossen (Estocolmo), em uma família de espírito ecumênico de ACM (Associação Cristã de Jovens). Como os pais mudaram para a Alemanha (no Instituto International de YMCA de Mainau) o filho Per acabou num internato escolar para meninos no colégio Fjellstedtska em Uppsala, onde se formou no ensino médio em 1968. O próximo passo foram os estudos universitários em Inglês e Teologia. Em dezembro de 1974, foi ordenado sacerdote para a diocese de Härnösand e recebeu o seu primeiro trabalho pastoral na paróquia Frösö em Jämtland.
Casou em 1971 com Ingrid. A família foi ampliada com Anna (1975) e com Linda (1978).
1974-1977, foi cura e pastor da igreja em Frösö paróquia, diocese de Härnösand.
1977-1981 pastor de jovens, na fazenda de pino em Orsa, na diocese de Västerås.
1981-1983, pároco de Sandarne Assembléia, diocese de Uppsala.
1983-1991 Consultor, no secretariado nacional da Igreja Sueca, em Estocolmo, sendo o principal responsável pelas questões que afetam o evangelismo e celebrações.
1991-1993 professor na diocese de Västerås com a responsabilidade primária para o desenvolvimento do culto.
1993-1995, gerente de projetos de cultos no pastorado em Övergrans , diocese de Uppsala. Além disso, mais e mais trabalho por conta própria ( freelancer).
1995-2001, os administrador (por 60%) na secretaria da igreja nacional, com particular incidência no desenvolvimento de liturgia de celebrações.
2001 em diante, trabalhando nas áreas de literatura, música e apresentação de atividades a base de freelancer.
De Setembro de 2004 em diante, trabalha como pastor na paróquia Björklinge-Skuttunge-Viksta, ao norte de Uppsala.
Letra e melodia do hino oficial da Assembléia Geral da FLM (realizado em julho de 2010 na Alemanha com o tema geral “Give Us Today Our Daily Bread,) „Give, give us“, são da autoria do compositor sueco pastor Per Harling.
Em fins de agosto de 2010 ele foi para Lindsborg, Kansas, USA, a fim de ensinar e trabalhar com os estudantes, funcionários e a faculdade do Colégio Bethany desta cidade. Além disso ele falou em conferências públicas e compôs uma liturgia de oração matutina especialmente para a faculdade.
Junto com sua esposa Ingrid, Per Harling vive agora em Uppsala, onde está se dedicando a atividades independentes (através de sua empresa “Ton-Vis Produktion AB”) no campo específico da música, mas também como escritor e palestrante.
Fontes: http://www.perharling.com/
http://www.bethanylb.edu/pearsonprofessorperharling.html
http://www.lutheranworld.org/What_We_Do/OCS/LWI/EN/LWI-201003-EN-low.pdf
Que é música? Discurso de Per Harling no Colégio Betânia em 1º de setembro de 2010
Sinto-me honrado por ter sido convidado para vir ao Bethany College como um Pearson professor. Eu só pergunto por quê? Talvez seja devido ao fato de que eu amo música, e que algumas pessoas queriam que eu viesse para compartilhar esse amor com vocês aqui na Betânia. Por isso, gostaria de compartilhar com vocês uma história diferente da música, que é uma história de amor. Deixe-me começar com uma experiência muito pessoal.
Eu me lembro como comecei a chorar - no metrô na hora do rush - um dia de inverno, em meados da década de 90. Eu não conseguia impedir que as lágrimas viessem aos olhos. Era notável, porque eu comecei a chorar a perda de algo que eu mesmo não sabia que existia! Eu tinha acabado de ler um pequeno artigo no jornal diário sobre os fenômenos da areia que canta, que aparece em muitas partes do mundo, seja de areia nas margens dos mares do mundo ou nos distantes desertos. O canto foi ouvido em diferentes partes da Califórnia, bem como no distante deserto na China, nas
margens do Japão, Havaí e Brasil, e muitas outras partes do mundo. Eu nunca tinha ouvido falar deste fenômeno, apesar de ter sido conhecida por muitas pessoas desde muito tempo. Na verdade, isso pode ser mesmo a mais antiga música na nossa terra. Agora - disse o autor do artigo - o canto da areia está morrendo mais e mais à nossa volta, devido ao derramamento de óleo no mar, a poluição do ar, o lixo e a insensatez humana. A areia cantou por mais de 4.500 milhões de anos, desde o início da criação, mas em apenas algumas décadas conseguimos silenciá-la. Não é de se admirar que eu comecei a chorar no meio da hora do rush do mundo. Eu perdi o canto da areia, que eu nunca tinha escutado nem tinha ouvido falar.
Durante toda a história da humanidade levantou-se a questão: Que é música? Muitos tentaram uma resposta. A resposta mais curta pode ser a de Bach: É o que agrada a Deus. Claude Debussy dá uma resposta mais ligada à vida terrena: A música é uma expressão dos movimentos
da água e do jogo dos ventos . E acrescenta, sendo uma pequena crítica aos seus próprios colegas: Os músicos não lêem o suficiente no livro da Natureza. Talvez ele esteja certo, porque foi na criação que tudo começou. A música pode ter sua origem no próprio cosmos, ou melhor, a partir do Criador do cosmos. Em 2003, astrônomos detectaram o tom mais grave que já foi gerado no cosmos, um si-be-mol menor (B-flat) voando através do espaço como uma onda em um lago invisível. Porém, nenhum ser humano vai ser capaz de ouvir a nota, porque ela é de 57 oitavas abaixo da tecla no meio de um piano. Portanto é isso aí, um tubo de baixo grave de 2,5 bilhões de anos de idade, dando um tom básico bem grave à música da criação. Em muitas culturas, a música do povo é baseada em um tal tom sustentado (baixo contínuo) que dá fundamento à melodia. Muitas vezes o som grave dum tubo leva o músico e o ouvinte a um estado de contemplação, de cura, de compreensão do grande universo, lentamente levando a mente para um estado além de pensamentos e emoções.
Por um longo tempo na história da terra a natureza era surda e o silêncio prevaleceu,
apesar de todos os sons. Meteoritos caíram com estrondo sobre a jovem terra durante centenas de milhões de anos, sem que alguém os ouvisse. Vulcões roncaram, terremotos dividiram os continentes. No entanto, nada foi ouvido. Não havia nenhum som, pois ninguém poderia ouvi-los ...
Após um longo tempo na história da terra, as criaturas foram desenvolvidas, de sorte que - pela primeira vez - podiam e OUVIR os sons da criação. E ali – ao ouvir - a música tocou a vida de criação, pela primeira vez.
Provavelmente os órgãos auditivos tiveram algo a ver com o equilíbrio desde o início da audição. Ainda levamos o nosso órgão de equilíbrio em nossos ouvidos. O mecanismo para o sentido de equilíbrio é fisicamente o mesmo que o mecanismo por trás da audiência: que os impulsos do mundo lá fora fazem vibrar algo dentro do organismo. Talvez seja a combinação de audição e do equilíbrio que fazem da música ser uma linguagem de cura e de encorajamento.
Os pesquisadores dizem que partilhamos esta experiência musical com muitos animais. O ser humano não é único na criação nesse sentido. Talvez você já ouviu falar que a melhor música para vacas serem capazes de produzir leite é a música de Mozart. Supomos que o pior efeito é causado pelo hard rock. Alguém me disse ainda que isso poderia depender da idade da vaca!
Sentimentos e percepções através de sons e música, que nos são caros, também podem ser caros para muitas outras criaturas neste planeta do universo. Nós ainda não sabemos se o sabiá e o
rouxinol são capazes de perceber suas próprias músicas quando cantam. Mas nós temos muitas razões hoje a crer que eles realmente podem percebê-las e apreciá-las, sendo a linguagem que nos aproxima a eles.
Provavelmente o cantar precedeu a capacidade de falar na história do ser humano. Os homens de Neandertal, que viveram ca. de 30.000 anos atrás, (e seguidos pelo homo sapiens falante), não se comunicaram uns com os outros através da fala. Provavelmente, eles cantaram, usando tons como os assobios de golfinhos, em seu comportamento comunicativo. Talvez fosse uma forma de comunicação que estava mais relacionada com os sentimentos e os sentidos do que ao intelecto. Como seres humanos atualmente ainda usamos este tipo de comunicação, e relacionamo-nos com o próprio início da vida. Quando nos comunicamos com nossos bebês, usamos uma linguagem cantarolada. Nós balbuciamos, sussurramos e cantamos com eles, dando-lhes conforto, segurança e amor. Pesquisadores de idiomas descobriram que esse tipo de linguagem / som / música é o mesmo em todas as partes do mundo. É o som mais original de intimidade, de amor e de esperança.
[Share lullabies with each other…Trocar canções de ninar uns com os outros ...]
Há poder na música. A igreja cristã tem sido sempre uma igreja que canta. Por isso em nossas igrejas nós sabemos que podemos dar voz à dor e a alegria da vida; nos movemos entre o Kyrie eleison e o Glória, bem como entre o Agnus Dei e o Sanctus alegre. E os nossos cantos litúrgicos são sempre orações para o Santo Deus. Talvez as canções da igreja não podem mudar o mundo, mas elas sempre dão esperança em situações desesperadas, elas sempre fortalecem os fracos, e elas vão sempre dar palavras e sons para as maravilhas da vida, em louvor ao Deus triuno.
Assim: Enquanto a terra e toda a vida na terra agora vem sendo explorada por interesses míopes e ganância, onde o canto de areias, pássaros, baleias, golfinhos e tantas outras espécies estão mais e mais sob a ameaça de extermínio, precisamos levantar nossas vozes, gemendo, com a criação, cantarolando com nossos filhos, cantando canções de esperança e alegria, a fim de encontrar o tipo de equilíbrio de cura, que faz com que o mundo gire por muitos anos no futuro. Há poder na música. Há música no ar. Há amor na música.
A areia corre devagar pelo vidro da ampulheta, lembrando-nos do fluxo do tempo, e eu não tenho certeza, mas eu penso que a areia realmente canta ... ainda!
Per Harling.
Per Harling’s Chapel talk at Bethany College
September 1, 2010
“What is music?”
http://www.bethanylb.edu/pdf/ChapelTalk-1-WhatIsMusic.pdf