João 3.1-17

Prédica

08/06/2012

A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos e todas vocês.

Prezadas autoridades e visitantes, Estimadas e Estimados Integrantes, estimado povo de Deus que se reúne para juntos louvar, para orar e para ouvir o Evangelho,estimada comunidade de confissão luterana aqui reunida para a XVI Assembleia Sinodal do Sínodo Sudeste!

É com alegria que eu me reúno a vocês nestes dias, e é com muita alegria que eu trago a calorosa saudação de nosso P. Presidente, P. Nestor Paulo Friedrich, e de toda a equipe que trabalha na sede nacional da IECLB. Compartilho que neste fim de semana estão acontecendo três assembleias sinodais, a saber: Sínodo Mato Grosso, Sínodo Brasil Central e Sínodo Sudeste.

Quando digo que estou aqui com muita alegria, de fato é assim. Quero dizer ao P. Guilherme que nada me surpreendeu (viagem, distâncias), porque estar aqui é voltar para um lugar que eu conheço, e onde já estive por diversas vezes. Esta casa já acolheu encontros de diáconos e diáconas, e aqui foram tomadas decisões importantes, como por exemplo, a aprovação de um dos primeiros Regimentos para a Comunhão Diaconal. Muito obrigada por me acolherem novamente, agora como Sínodo Sudeste!

João 3.1-17*

Curiosidade pode ser coisa boa! Ajuda a fazer descobertas. Eu gosto do Nicodemos. Foi a curiosidade que o levou a Jesus.

Quando surge uma nova igreja, cujo pregador se diz possuidor de poderes sobrenaturais e que consegue realizar milagres, a notícia começa a circular e desperta em muita gente vontade de dar uma conferida, de ver se de fato é assim.

Pode ter sido esse o caso de Jesus Cristo. O povo vivia sob o domínio político dos romanos e sob a lei dos sumos sacerdotes, carente de saúde, de conforto espiritual e de liberdade. Surge então um homem que se intitula Filho de Deus, pretendendo salvar seu povo dos pecados deles (Mt 1.21). Não vem como poderoso político, mas como pessoa simples, que sabe o que é padecer (Is 53.3); que entende o seu povo e, por isso, caminha junto com ele. Seu agir e seu falar desperta interesse e reúne multidões. Sua palavra de ordem é: o tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho (Mc 1.15). E a reação do povo foi imediata: todos ficaram grandemente admirados e comentavam entre si, dizendo: que palavra é esta, pois, com autoridade e poder, ordena aos espíritos imundos, e eles saem? E a sua fama corria por toda a circunvizinhança (Lc 4.36-37).

A notícia chegou também aos ouvidos de Nicodemos, um dos principais dos judeus, membro do Sinédrio, a Suprema Corte judaica. Ele queria conhecer Jesus. Entretanto, como autoridade que era, sentia-se constrangido. Ele, procurar Jesus? Normalmente as pessoas é que vinham a ele para consulta-lo e ouvir seus ensinamentos. Mas a curiosidade venceu as resistências. Nicodemos resolve visitar Jesus ao abrigo da noite. A maioria dos comentaristas interpreta este fato como uma intenção de Nicodemos para assegurar-se de anonimato, para não ser visto, para ocultar sua identidade. Possivelmente estão certos; mas eu gosto de pensar que Nicodemos escolheu o momento do encontro com Jesus de forma estratégica. À noite não há interrupções, nem multidões seguindo a Jesus, nem discípulos que estão a sua volta, nem pedidos de pessoas doentes. - Podemos dizer que Nicodemos não somente vem à noite, e sim, também, que ele vem de sua própria noite escura, como diz o hino “com a mente a duvidar”.

Nicodemos se acerca de Jesus com admiração e respeito. Rabi, diz ele, nós sabemos que o senhor é um mestre que Deus enviou, pois ninguém pode fazer esses milagres se Deus não estiver com ele. Se escutarmos essas palavras com atenção vamos perceber que nelas se esconde uma ou mais perguntas: Quem és tu? Os teus feitos mostram que tu és um homem de Deus. Me conta: Qual é o teu propósito? Como devemos pensar a respeito de ti? Nicodemos quer falar sobre Jesus. Pede esclarecimentos sobre quem ele é e sobre o que pretende.

Jesus, porém, ignora a pergunta. Jesus começa de um jeito estranho. Sua resposta deve ter desconcertado o visitante. Diz ele: Em verdade, ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo. Jesus não quer falar sobre si, ele quer falar sobre o ser humano em geral. Toda a pessoa precisa renascer. Sem isto o ser humano está perdido. Não pode ver o reino de Deus. Portanto, ninguém tem chance de salvação se não nascer de novo. É o que causa assombro a Nicodemos. Ele entende mal. Pergunta como será possível isto. Pode alguém, velho como ele, voltar ao ventre materno e nascer outra vez?

Pois é! Recomeçar a vida! Não é assim que às vezes nos flagramos sonhando justamente com isto? Quantos, ao chegarem à idade adulta, afirmam: Se eu pudesse voltar atrás, e viver meus 18 anos, com a experiência que hoje tenho, faria, com certeza, tudo diferente.

Infelizmente a vida não nos dá uma segunda chance. Nascer de novo? Eu compartilho a perplexidade de Nicodemos. Começar a vida na estaca zero?

Impossível - a não ser que a gente entenda de outra maneira. Sei de pessoas que confessam ter nascido de novo depois de um grave acidente do qual saíram sãs e salvas. A vida me foi dada outra vez, eu renasci naquele momento! afirmam. Que maravilha. Mas não é neste sentido que devemos entender Jesus. Pois quem renasce depois de ter estado à beira da morte, recebe de volta a mesma vida de antes. Pessoas que fazem uma experiência assim podem agradecer pelo amparo de Deus e dar mais valor à vida que têm. Mas de verdadeiro renascimento não se pode falar.

Não, Jesus não tem em vista um mero recomeço. É no batismo que tem lugar o nosso renascimento. Como? Na IECLB costumamos levar ao batismo crianças, poderia bem ser um jovem – eu já celebrei o batismo de vários nos lugares onde servi - com nome respectivo e com registro na certidão de nascimento. Acontece que no batismo essa pessoa recebe mais outra filiação. É feita filho ou filha de Deus. Pessoa batizada pertence a Deus, faz parte da família de Deus, pode dirigir-se a Deus como Pai Nosso. Então, no batismo a pessoa nasceu de novo, renasceu, ganhou Deus como pai e mãe.

Tudo isto acontece sem nenhuma participação da pessoa batizada. É como no caso do nascimento físico: Quem nasce é a parte passiva. Quem trabalha é a mãe. Nós somos dados à luz. Nós recebemos a vida sem nenhum mérito ou esforço nosso. Assim também acontece com o renascer. É Deus quem faz o trabalho de parto. Nosso renascimento é um presente, um dom, é dádiva, jamais conquista. O que devemos fazer é aceitar a vida que nossos pais nos deram, é aceitar a vida que Deus nos presenteia, é aceitar Deus como nossa mãe e nosso pai. Isto implica viver de acordo com o Espírito. Ele vai ser a suprema autoridade a quem devemos obediência. Ele será o Senhor em nossas vidas. Como ouvimos há pouco na leitura do trecho da carta aos Romanos: Pois aqueles que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.

Ver o reino de Deus somente é possível quando Deus mesmo toma conta das pessoas, quando através de Jesus nos transforma em filhos e filhas suas. Renascer não é uma exigência, é uma oferta de Deus. Ele a realiza no batismo, mas não só no batismo, LEMBREM: pois o Espírito sopra onde quer.

Por detrás dessa oferta está o amor de Deus. O versículo 16 do nosso texto é uma das passagens mais conhecidas do evangelho de João. E ela nos diz: Pois Deus amou o mundo tanto, que deu seu único Filho, para que todo aquele que crê, não morra, mas tenha a vida eterna.

Está aí a resposta à pergunta de Nicodemos. Ele queria saber quem Jesus de fato é. Uma coisa estava clara para ele: Jesus deve ser um enviado de Deus. Mas em que sentido?

Aqui está a resposta. Em Jesus o amor de Deus se encarnou. Ele é o amor de Deus em pessoa que tem compaixão da criatura afundada em pecado e desespero e que lhe estende a mão para socorrê-la.

Em outros termos: Em Jesus, Deus oferece ao mundo a possibilidade do renascimento. Quer que o mundo volte a ser o mundo de Deus, em que o Espírito Santo governa.

Pelo batismo somos pessoas renascidas. Pertencemos a Deus, embora continuemos sendo filhos de nossos pais físicos. Doravante devemos servir a ele, seguindo as diretrizes do Espírito Santo. Isto significa que devemos levar algo deste Espírito ao meio ambiente em que vivemos. É o Espírito do amor, daquele mesmo amor com que Deus amou ao mundo para que todo aquele que crê não pereça, mas tenha a vida eterna. É deste Espírito que nosso mundo, em toda a sua miséria, em todas as crises, tem urgente necessidade.

Nosso lema do ano aponta para este Deus amoroso que nos conhece muito antes de nascermos. Foi este Deus que chamou o jovem Jeremias para ser seu profeta em uma época marcada pela corrupção, pelo mau governo e pelo sofrimento do povo. Jeremias relutou e usou o argumento da sua juventude, dizendo ser muito jovem e incapaz para a missão dada por Deus. No entanto, Deus o encoraja e não o abandona diante dos desafios encontrados no caminho.

Assim também Deus nos chama e nos capacita, independente de nossa idade, para uma tarefa muito importante: semear o amor de Deus na Igreja e no mundo. Para isso, Deus nos dá força, assim como deu ao profeta Jeremias.

Que possamos ser mensageiras, mensageiros e portadores deste Espírito, o Espírito de Deus, que promete iluminar nosso mundo e trazer-lhe mais paz, justiça e alegria. Amém!

Diac. Ingrit Vogt
Sec. Geral IECLB

* Subsídios para o texto do Evangelho de João 3.1-17, em Goettinger Predigten im
Internet:
- Predigt zu João 3:1-17, verfasst von Gottfried Brakemeier
 


Autor(a): Ingrit Vogt
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 17
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 14904
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Se reconhecemos as grandes e preciosas coisas que nos são dadas, logo se difunde, por meio do Espírito, em nossos corações, o amor, pelo qual agimos livres, alegres, onipotentes e vitoriosos sobre todas as tribulações, servos dos próximos e, assim mesmo, senhores de tudo.
Martim Lutero
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