1) O tema “Santa Ceia para crianças” é polêmico - Há muitos argumentos contrários à admissão de crianças à Santa Ceia. Um deles é a própria tradição. Na IECLB, sempre foi costume esperar até a confirmação para ter acesso à Ceia do Senhor. Por esta razão, muitos membros não encontram motivo para mudar, hoje. Alguns chegam até mesmo a sugerir que tal liberação seria uma “injustiça” para os que, no passado, tiveram de esperar até sua confirmação. Mas, para a comunidade de Jesus Cristo, o critério não deve ser a tradição, e sim a Palavra de Deus e a reflexão teológica sobre ela.
2 ) O acesso de crianças à Santa Ceia tem respaldo bíblico - No Batismo, o cristão é incluído na vida orgânica na Igreja cristã. Esta entrada é plena e não pode produzir nenhum tipo de exclusão. Romanos 6.4, 8 e 11 nos diz: “Fomos sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida... Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos... Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus”. Esta é a vida nova e plena que o Batismo nos dá. Conclui-se que ela é para todos os batizados, inclusive crianças. Em Gálatas 3.27-29 está escrito: “Porque todos os que foram batizados em Cristo foram revestidos de Cristo. Desse modo não há diferença entre vocês... porque todos vocês sãos um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e (todos) herdeiros conforme a promessa.” Assim, também as crianças recebem esta herança e têm parte na vida da comunidade de fé. As igrejas que batizam crianças, mas se recusam a dar-lhes a comunhão no sangue e corpo de Cristo, deveriam interrogar-se se terão ou não avaliado e aceito plenamente as conseqüências do Batismo. Não há nada na Bíblia que proíba o acesso de crianças à Ceia.
3) A confirmação não é preparação para primeira comunhão - Um dos argumentos usados para não aceitar a participação de crianças na Santa Ceia é o de que o ensino confirmatório não teria mais importância. Isto não é verdade. É preciso lembrar que a confirmação não é uma preparação para tomar a Ceia do Senhor, mas sim um testemunho público em resposta ao Batismo. Os estudos realizados com os jovens cristãos, durante o ensino confirmatório, têm a finalidade de confrontá-los com o seu próprio Batismo, ajudando-os a entendê-lo e a .confirmá-lo. nos seus corações, assim como Deus já o confirmou em relação a eles. Portanto, confirmação não é preparação para a Santa Ceia, e sim a “confirmação” do Batismo (que já aconteceu). Por esta razão, não devemos chamar a confirmação de “primeira comunhão”.
4) A fé de uma criança não pode ser medida - Muitas pessoas acham que crianças não podem tomar a Santa Ceia porque “não entendem”. Este argumento não é válido porque a fé é algo subjetivo, que acontece nos corações das pessoas. A fé é dom de Deus. Nenhum adulto pode avaliar ou condenar a fé de uma criança. Uma vez os apóstolos quiseram fazer isto, e Jesus lhes chamou a atenção dizendo: “Deixai vir a mim os pequeninos, porque deles é o reino dos Céus” (Mateus 19.14). Noutra ocasião, quando Jesus quis ensinar sobre a fé, Ele tomou uma criança como exemplo (Mateus 18.2-3). A fé simples das crianças deveria servir de referência para os adultos. Elas acreditam e pronto. São os adultos que complicam as coisas, por isso Jesus as tomou como exemplo. As crianças têm fé a seu modo!
5) A participação de crianças na Ceia do Senhor é uma tradição apostólica - Acredita-se que, desde os primeiros séculos da história cristã, as crianças participavam da Santa Ceia, que, na época, era uma cerimônia bem mais extensa do que hoje. A Ceia era praticamente um jantar. Depois de comerem o pão e o “fruto da videira”; as pessoas tomavam uma refeição com os alimentos que traziam de casa. Isto, certamente, incluía as crianças. Naquela época, a Santa Ceia era uma cerimônia mais alegre e festiva, onde todos se alegravam com as bênçãos decorrentes do sacrifício de Jesus. Hoje, as comunidades da IECLB querem recuperar este espírito alegre e festivo. Devolver o direito da participação das crianças é um sinal concreto deste resgate.
6) Suco ou vinho - É muito importante que as crianças não sejam prejudicadas com o uso de vinho alcoólico, bebida cada vez mais forte e menos pura do que no passado. Por esta razão, sugere-se a substituição do vinho alcoólico pelo suco de uva natural ou concentrado. Isto não traz nenhum prejuízo para os adultos. Tampouco o sacramento será menos espiritual. Lembramos que tanto o vinho como o suco de uva natural são “frutos da videira”, termo que aparece na Bíblia quando se fala de Santa Ceia (Mateus 26.29; Marcos 14.25 e Lucas 22.18).
7) O vinho alcoólico e pessoas alcoolistas em recuperação - Com a troca de vinho alcoólico por suco de uva natural, pessoas em tratamento de recuperação e pessoas que tomam medicamentos fortes não precisariam deixar de participar da Ceia. Muitas comunidades na IECLB já trocaram o vinho pelo suco pensando nos seus membros alcoolistas em recuperação. Esta mudança significou uma grande bênção na comunhão destas congregações. Elas saíram ganhando. É importante lembrar que, não raramente, para uma pessoa alcoolista em recuperação, só é necessário o primeiro gole para que todo o trabalho de recuperação desmorone. Para o alcoolista, não é o último gole, mas o primeiro que faz mal, mesmo que ele seja um pequeno gole de vinho na Santa Ceia. Algumas pessoas argumentam que isto é falta de fé. Na verdade, quem diz isto não sabe o que significa o sofrimento da dependência do álcool e demonstra bastante insensibilidade. Falta de fé é pensar que o suco de uva não pode significar o sangue de Jesus.
8) A orientação pastoral - Os presbitérios das paróquias precisam orientar seus membros e lideranças da comunidade para que se discutam estas questões de modo claro e aberto, considerando o ensino bíblico. Nenhuma decisão deve ser tomada de forma precipitada. Deve-se tomar todo o cuidado para que não haja divisão na Igreja.