1. Introdução
A teologia tem sua razão de ser somente enquanto palavra que reflete sobre a Palavra (Escritura) e a ação de Deus na história, ou seja, enquanto palavra dirigida à comunidade, à comunhão dos santos. A sua razão de ser não está em si mesma, mas em ser auxílio na interpretação da vontade deste Deus na história do povo que quer viver segundo esta Sua vontade. É interessante que a razão teológica tenha sua essência não nas elucubrações lógicas da ciência teológica, mas sim no gesto de amor dos cristãos/ãs, na sua vivência diária da fé em comunidade. Essa é a diferença entre palavra discurso e Palavra (dabar) criadora de Deus, semente, luz, alimento. A palavra, para fazer diferença, tem que ser um gesto de amor, encarnada na vida das pessoas. E é aqui o lugar onde a teologia é fomentada, onde os temas teológicos tem sua razão de ser, pois aqui se dá a união entre contexto e palavra de Deus, onde o ensinar e aprender estão em relação constante. Teologia é também troca constante de experiências! Ouvi um estudante muito inteligente dizer quantas palestras fez em seu estágio, quanto ensinou na sua paróquia. Esse com certeza ainda não aprendeu o que é a teologia: troca de palavras e ensinamentos de uma longa tradição misturadas ao nosso corpo e ao corpo daqueles com os quais nos encontraremos, pois a comunidade não é depósito de conhecimentos onde cada obreiro/a entulha tudo que aprendeu, mas local onde as falas sobre Deus se tornam orações e vivência de fé, onde se dá e se recebe, onde se vive espiritualidade: suspiros de amor. Pois, como diz Lutero, aquele que realmente se deslumbra com as obras que Deus realiza em nós quase não tem palavras para agradecer; “ele mais suspira do que fala.”1
A teologia vive dos impulsos provindos da realidade existencial da comunhão dos santos em diálogo com a Palavra que cria e mantém esta comunhão, que é, ao mesmo tempo, ponto de partida e chegada da comunidade cristã. Essa relação não é necessariamente conflitiva, mas pode chegar a ser. A Bíblia é a história dessa dialogicidade entre a Palavra criadora e o povo de Deus a caminho. Relação nem sempre fácil! A tradição cristã também é história deste mesmo processo, leitura e releitura da presença de Deus e sua vontade no meio de nossas vidas. Assim, uma das tarefas importantes da teologia é examinar o contexto presente da comunidade à luz da Palavra que é fundamento e, ao mesmo tempo, objetivo da comunhão dos santos, mas também à luz da tradição onde a Palavra encarnada foi vivenciada. Entretanto, esse examinar se dá a caminho, ou seja, a reflexão teológica é parte da vivência do Evangelho diário, entre os acordos e os conflitos, entre os acertos e os erros que marcam a vida desta comunidade que caminha em direção ao Reino, mas que neste caminhar já o vivencia em seu dia-a-dia.
Portanto, a abordagem do tema acima proposto é entendida como uma contribuição ao processo de viver a Palavra de Deus em comunidade, de vivenciar a teologia na espiritualidade, cujo centro está, no meu entender, na comunhão. E nada mais central, em se tratando de comunhão, que a Eucaristia.
2. Problema
“É hora da Santa Ceia. O convite é feito: ‘Vinde, pois tudo está preparado para a comunhão. Quem convida é o Senhor, Jesus Cristo.’ Nós vamos em família, pois é ruim deixar as crianças sozinhas. Meu marido e eu e as outras pessoas adultas recebemos a Santa Ceia. Gabriele de 6 e
Tomas de 4 anos ficam só olhando. Eles não entendem por que não recebem. Na verdade... nem eu!“ (Relato de vida).
Ao observar a prática da Eucaristia ou Santa Ceia na IECLB, surgem duas constatações desagradáveis: a Eucaristia não é realizada todos os domingos nos cultos2 e se nega às crianças o acesso à mesa do Senhor, contrariando não só o entendimento do Sacramento, como também a prática da Igreja cristã por vários séculos.3
Parece haver um fosso entre as decisões conciliares da Igreja, o entendimento teológico sobre o sacramento e a prática comunitária, pois é decisão já protocolada na IECLB que não há nada que impeça o acesso de todos os membros batizados da comunhão dos santos à Santa Ceia, em termos teológicos e doutrinários.4 Entretanto, tenho a impressão de que essa relutância, ou seja, essa resistência em fundir, implementar as decisões conciliares e o entendimento teológico que estas pressupõem com a prática comunitária nas paróquias da IECLB, inter-relação entre prática comunitária e teologia, deve-se ao fato de não haver concordância de certas instâncias eclesiásticas e de obreiros/as em relação à doutrina dos sacramentos, que é o pressuposto básico para se permitir a presença das crianças na festa da comunhão com Cristo. Assim, a constatação de que se vive uma “crise sacramental”5 também na IECLB ainda continua sendo bem atual.
Parto da pressuposição de que negar o acesso das crianças à Santa Ceia não é simplesmente uma questão marginal na vida da Igreja, como parece ser o caso na IECLB. Se não vejamos: já que não há argumento teológico que impeça a participação das crianças na Eucaristia, qual é a razão para que a prática desta continue a negar o direito das crianças à comunhão com Cristo? Por qual motivo a teologia, que tem sua razão de ser justamente neste dialogar entre Palavra e comunidade a caminho, neste caso não consegue quebrar “a espinha dorsal” de uma anomalia alastrada, contrária ao Evangelho? Estão os obreiros e obreiras, como líderes comunitários da IECLB, de acordo sobre as premissas teológicas que pressupõe a decisão conciliar de não negar o acesso das crianças à mesa do Senhor? Se a resposta for afirmativa, como deveria ser, já que se trata de um consenso, qual a dificuldade, então, de colocá-la em prática?
Como disse acima, creio que a essência do problema é mais profunda do que parece à primeira vista! Se a crise também é sinônimo de renovação, de busca por mudanças, que pressupõe o levar a sério os problemas que a realidade oferece e o recorrer à teologia, ou seja, à Bíblia e à tradição, como ferramenta que recebe a sua pauta do contexto ao qual pertence, mas que também influi na própria leitura do mesmo e na resposta que oferecerá
aos problemas, ela é salutar. Entretanto, faz-se necessário primeiramente reconhecê-la, para, depois, através do diálogo, superá-la, seja com cortes ou (re)-afirmações. Na verdade, mudanças (partindo, é claro, do pressuposto de amadurecimento e aprofundamento, que conduzem a um novo consenso), pois permanecer na crise seria atestado de insanidade. Ecclesia semper reformanda não é sinônimo de Igreja sempre em crise!
Portanto, para se discutir esta questão essencial, qual seja, a relação entre teologia e prática comunitária com profundidade, à qual o tema nos remete, é necessário ir ao âmago da questão. Voltamos assim a perguntas bem simples, mas que devem ser esclarecidas segundo o Evangelho e a nossa tradição luterana:
- O que é um sacramento?
- Quem ordena, quem institui os sacramentos?
- O que se recebe nos sacramentos?
- Quem é “digno” dos sacramentos?
Todas estas questões nos remetem à essência dos sacramentos segundo a nossa tradição luterana, pois a coluna vertebral da doutrina dos sacramentos é a fé, pois ela é o terminus a quo e o terminus ad quem, ou seja, ponto de partida e ponto de chegada, respectivamente, desta. Assim, temos que nos perguntar também o que é a fé, o que a constitui, qual é a conditio sine qua non da fé.
Trataremos de analisar estas perguntas partindo de uma reflexão sobre os sacramentos, movidos, entretanto, pelo fato de vida acima narrado.
3. Os sacramentos: Batismo e Eucaristia
Os sacramentos têm sua razão de ser na ordem do nosso Senhor. A partir do Batismo de Jesus e a sua última Ceia, a Igreja cristã interpretou esse mandato, instituindo os Sacramentos. Portanto, são ordem e obra dEle, somente dEle.6 O que constitui um sacramento é a Palavra de Deus,7 que, unida ao sinal, ou seja, à água, no Batismo, ou ao pão e ao vinho, na Eucaristia, torna o sacramento o que ele é: ato externo, extra nos, que nos concede as promessas de Deus em Cristo, todos os dons do mediador entre nós e Deus, ou seja, graça, fé/justificação, perdão dos pecados, Espírito Santo/santificação, vida eterna, vida “grudada” em Cristo, fortalecimento na fé e no amor. Ato externo, presença de Deus, materialidade/encarnação de Cristo, mas sempre na comunhão dos santos/corpo de Cristo, ou seja, na comunidade, e não individualmente (1Co 12.27).
Para se ter uma visão ampla do primeiro sacramento, o Batismo, é necessária uma incursão pela história e a teologia do Batismo anterior à Reforma. O NT e a comunidade primitiva realizavam esta prática baseados no Batismo de Jesus. Não se tem certeza se todos os discípulos, por exemplo, foram batizados, embora tudo indique que sim. Portanto, a prática do Batismo de Jesus se tornou o modelo e a ordem (Mt 28 é tido como um adendo da comunidade primitiva) a partir dos quais se constituiria a teologia do Batismo, ampliando-se ritualmente e mais tarde desembocando no rito – usando a descrição de White – da iniciação cristã. Nesta época, não se conhecia o Batismo de crianças. Há só indícios de que provavelmente as crianças dos lares cristãos tenham sido batizadas. Assim, é mais provável, mesmo não se tendo certeza, que a prática até o século II era o Batismo de adultos.8
É importante ressaltar que a prática da iniciação cristã consistia na preparação ou
catecumenato; na lavagem, morte e ressurreição com Cristo; na unção e imposição de mãos como emblema do Espírito Santo, como presença, como doação do Espírito Santo ao batizando. Logo após o Batismo, todos os batizados, pertencentes agora à comunhão dos santos, ao corpo de Cristo, participavam da Eucaristia.9 O sacramento da Santa Ceia faz parte da iniciação cristã como o “já” das promessas do Batismo, pois neste são prometidos todos os dons do Reino, os quais já usufruímos na Santa Ceia, na materialidade do repartir o corpo e sangue de nosso Senhor (1Co 10.16-17), mesmo sob o “ainda” das tribulações.
O que deve ser enfatizado aqui é que a confirmação, ou seja, a imposição de mãos pelo bispo, era parte integrante da iniciação cristã. Devido ao entendimento de que essa parte do rito deveria ser realizada “somente” pelo bispo e de que, a partir do crescimento do cristianismo, o bispo não podia estar em todos os lugares, iniciou-se uma separação, uma postergação desta parte do rito, mesmo que já houvesse outras práticas que permitiam ao sacerdote a sua realização. O Ocidente não abriu mão deste ato como tarefa, como “poder” conferido apenas ao bispo, diferentemente do Oriente.10 Portanto, a confirmação separada da iniciação cristã foi se tornando um rito em si mesmo, tendo-se que elaborar uma teologia para explicá-la, e acabou por vir a significar um reforçar, um completar o Batismo. Fora de seu contexto, ela ficou sem estrutura. Esta separação desenvolveu uma série de mal-entendidos, sendo que o Sacramento do Batismo foi como que amputado, pois ficou incompleto, necessitando-se sempre ainda da crisma. Portanto, a distância da confirmação em relação ao Batismo – o que antes era parte de uma unidade – tornou-a uma prática em busca de teologia.11 A crise da confirmação hoje em dia atesta mais uma vez seu desvio.
Quanto à questão do Batismo de infantes, sua prática se inicia provavelmente a partir do século II. As razões desta mudança se dão devido a vários fatores: os cristãos até o século II acreditavam na inocência das crianças, ou seja, no estado a-pecaminoso destas (este é, por exemplo, o argumento de Tertuliano contra o Batismo de crianças); a relativização da parúsia, ou seja, o Reino não chegava, e as crianças iam perdendo, então, seu estado inocente. Isso gerava a necessidade do Batismo; uma maior atenção às crianças pela comunidade primitiva, o que não era central no NT, pois neste, apesar dos textos entre Jesus e as crianças, a maior atenção se dá aos adultos; e, por último, um reavivamento da teologia paulina do pecado, onde se ressalta o aspecto de que toda a humanidade foi tocada por ele, ou seja, todos estão sob a força do pecado, não existindo inocência.12 A teologia de Agostinho levou isso ao extremo, identificando o pecado original com o ato sexual, que passaria o pecado adiante. O medo das crianças morrerem sem terem sido batizadas, unido à alta mortalidade infantil13 , colaborou nesta mudança.14 É necessário frisar, no entanto, que este argumento do medo não é o único nem o mais importante para a mudança da prática do Batismo, mesmo porque não se tem certeza de que nos tempos dos apóstolos não se o praticava! Lutero, por exemplo, acreditava que sim.15 A partir do séc. II, entretanto, pode-se comprovar o Batismo de crianças através dos relatos, o que indica que, provavelmente, esta prática já tenha sido realizada anteriormente. De qualquer forma, no século V ele já era prática comum na Igreja
cristã.16 A comunidade entendia que as crianças nascidas de lares cristãos pertenciam a Deus e à comunidade, não havendo, assim, problema algum quanto ao Batismo de infantes.
O que é importante resssaltar neste ponto é o fato de que a passagem ao Batismo de crianças e ao Batismo de recém-nascidos não significou a negação da Eucaristia a estes, já que até o século XII a Igreja cristã manteve essa compreensão saudável de que as crianças batizadas, como parte do corpo de Cristo que eram, tinham naturalmente lugar à mesa da comunhão.17 Em alguns lugares do Ocidente se continuou praticando a Eucaristia com as crianças até o Concílio de Trento – isso significa até século XVI! O medo medieval de que os leigos, não só as crianças, pudessem derramar o cálice com o sangue de Cristo fez com que este fosse negado às pessoas. Em relação às crianças, o argumento estava no entendimento; por isso, era necessário esperar até a idade da razão, para que elas compreendessem o que estava acontecendo.18 A postergação da imposição de mãos pelo bispo, que mais tarde se tornou a crisma, encontrou neste argumento um terreno fértil onde pôde se agarrar.
Na Reforma do século XVI, toda a teologia dos sacramentos iria entrar em crise, gerando aprofundamento e reavivamento, provocando mudanças que iriam marcar toda a Igreja cristã.
É interessante que Lutero, em relação ao Batismo, travaria suas mais acaloradas discussões com outros reformadores, e não com a doutrina da Igreja Romana! No seu tratado do Cativeiro babilônico da Igreja nos diz que o Batismo é o que menos sofreu mudanças pelos papistas. Um dos argumentos de Lutero para explicar por que o Batismo permanecer intocado pelos abusos da Igreja Romana era de que ele foi dado aos pequeninos, ou seja, às crianças. Se tivesse sido reservado aos adultos, com certeza teriam acabado com ele, inventando restrições, preparações, toda sorte de obras humanas, dando espaço às superstições e à avareza.19
Lutero entende o Batismo como presente de salvação.20 Deus presenteia ao ser humano a sua salvação, que é o seu próprio Filho Jesus Cristo. Aliás, “[…] é o próprio Cristo que se encontra no Batismo e está no Batismo […] É Ele próprio que realiza o Batismo […] Ele fala no Batismo pela boca do pastor.”21 Para tornar claro este presente de Deus nos sacramentos, Lutero usa a imagem do testamento. Mesmo explicando-o em relação ao sacramento do altar, é instrutivo também em relação ao Batismo. A pessoa que vai morrer entrega um testamento, e, a partir da morte desta, que seria a morte de Cristo, este testamento passa a valer. A pessoa que recebe as promessas do testamento, mesmo sendo indigna, tem direito ao que lhe é presenteado gratuitamente. O essencial não está na dignidade da pessoa, ou seja, nas coisas que ela fez ou deixou de fazer, mas sim no presente que recebe de fora. Isso deve ficar claro até mesmo contra a própria consciência da pessoa, que, por muito “piedosa”, decide não aceitar o presente, pois sabe que é indigna. Deves agir contra a consciência, diz Lutero, pois o essencial é acreditar na promessa de Deus, que, mesmo apesar da tua indignidade, te deu um presente tão caro.22
A linguagem de um testamento não é a mesma de um contrato. O último está baseado na construção “se fizeres isso… então”, enquanto o testamento se baseia em “porque eu quis assim, portanto, seja feito”.23 O peso aqui está na obra de Deus, e não na dignidade ou mérito do ser humano, que o tornaria apto a receber. Contra a própria consciência, que às vezes quer ser muito piedosa, Lutero dá um ótimo exemplo: “Que tens com isso? Recebo o que recebo não por mérito meu nem por direito próprio algum. Sei que sou indigno e que recebo coisas maiores que mereço. […] Mas peço o que peço por direito de testamento e de bondade alheia. Se ele (o testador) não considerou indigno legar tanto a um homem tão indigno, por que haveria eu de recusar-me a aceitar por causa de minha indignidade?”24 É nesta promessa de Cristo em seu testamento que a fé se agarra, contra tudo e todos, até contra a própria consciência!
Uma vez promulgada esta promessa, ela é válida até a morte.25 O Batismo vale para sempre. É a ele que devemos sempre voltar. O pior pecado, para Lutero, é desconfiar desta promessa, pois essa desconfiança chama a promessa divina outorgada no Batismo de mentirosa26. Ora, “essa promessa não pode mentir”, pois vem de Deus.27
Esta questão é muito importante para Lutero. Nas posições de Karlstadt, que recusava o Batismo de crianças (sendo adepto do rebatismo) e entendia o Sacramento do Altar somente como sinal atestador para os “crentes”, colocando a ênfase na questão da fé pessoal/subjetiva, que tornaria alguém apto para o recebimento do Espírito Santo, Lutero via a outra face da moeda da teologia das obras da Igreja Romana.28 Se, por um lado, a Igreja de Roma colocava o acento na ética, os radicais colocavam o acento na mudança interior e na eclesiologia,29 pois os sacramentos são sinais de que os que os recebem são os eleitos. Para Lutero, isso significava que o peso da balança pendia para as obras do ser humano e não para o amor de Deus e sua graça outorgada nos sacramentos. Uma mudança interior e uma afirmação do credo, o “eu creio”, seriam os pressupostos para os sacramentos. Somente os que são aptos a provar tal desenvoltura podem ser os destinatários dos sacramentos.30 Ora, para Lutero, esta é uma perversão da Palavra de Deus que nos atinge sempre de fora, extra nos.31 No Batismo, mesmo que a fé seja o argumento mais importante, pois sem esta não acontece o sacramento,32 Deus tem o poder de infundir a Fé na criança.33 Primeiramente Lutero fala da fé dos pais e padrinhos, com toda a comunidade, que respondem para a criança.34 Mais tarde, seu argumento é de que as crianças tem fé própria, outorgada pelo próprio Deus/Cristo.35
O problema destes movimentos radicais é que, para salvar o discipulado e a ação dos cristãos (que provém da justiça de Deus a nós imputada), negam as promessas de Deus que estão presentes nos sacramentos de forma externa, colocando prescrições humanas, novas leis como pressupostos para se receber os sacramentos, como Batismo do espírito, fé subjetiva, êxtase interior sem mediação da Escritura. Eles invertem a ordem: somos piedosos e por isso recebemos o presente! A resposta de Lutero é que se fôssemos agir assim, jamais teríamos certeza alguma para realizar qualquer sacramento, pois como podemos olhar no coração das pessoas e saber que realmente são dignas? Que presunção descabida é esta?36
Para Lutero, é importante enfatizar que os sacramentos são obra de Deus. É Deus que vem e presenteia o ser humano com seu testamento divino, tornando-o digno, apesar de sua indignidade, das promessas de Deus. Não há meio humano de tornar-se digno, mas somente vestindo-se de Cristo,37 agarrando-se a ele, como resposta à sua ação salvífica a nós. A essência da questão não está no poder da pessoa em fazer a confissão, em poder dizer “eu creio”, mas sim no poder de Deus que confere esta possibilidade como resposta. Parafraseando o salmista: quem se salvaria, Senhor, se tu contasses os pecados (Sl 130.3)? Quem salva é Deus, sem pressupostos! Nas relações humanas, o poder humano pode contar. Perante Deus, somente a graça de Cristo!
A intuição de Lutero de que o Batismo “é a roupa diária do cristão” nos leva a entender melhor sua posição em favor do Batismo de infantes. A fé sempre será resposta à ação de Deus, pois a fé não faz o sacramento, mas o recebe.38 Assim, o retornar ao Batismo como fonte principal da fé cristã deve se estender por toda a vida. A volta se dá depois do ato, pois, mesmo que recebamos o emblema do Espírito Santo no Batismo, seja como criança ou adulto, isso não quer dizer a mágica de viver sem pecado, sem as tribulações e tentações que fazem parte da vida humana, demasiado humana! Continuamos salvos e pecadores! O Batismo de adultos não garante a firmeza da fé, nem o dos pequeninos. Por isso, Lutero pode enfatizar que o Batismo é obra de Deus, ao qual temos que voltar e nos agarrar, pois é ali que podemos nos “deitar”39 sobre Cristo, o mediador, que nos apresenta a Deus segundo a Sua realidade a-pecaminosa.
A questão da consciência, do compreender e do saber humanos como pressupostos para o Batismo é totalmente recusada por Lutero. É o Batismo, como materialidade do testamento que a mim foi dado, outorgando-me as promessas de Cristo, que é o pressuposto da minha volta incessante a ele na fé. Não é a minha fé que realiza o Batismo. Na fé acontece a volta à nave,40 ao barco que sempre estará à minha espera, se eu por acaso, pelo pecado, me jogar ao mar. O barco estará lá, sempre firme para que eu me agarre a ele. Este voltar, este viver segundo o Batismo é o despertar e o fomentar da fé.41 Este regresso não é a volta ao meu “creio”, à minha confissão de fé, mas a volta às promessas do Batismo que me foram doadas no testamento de Cristo. A fé não é presuposto do Batismo, mas ela o recebe na volta a ele, na aceitação, na fé nas promessas. Deus age, segue a fé, e à fé a caridade.42
Por isso, esta questão de rebatismo ou Batismo do Espírito Santo na conversão é totalmente repudiada por Lutero, apesar de que o pietismo e, depois dele, alguns setores do luteranismo seguissem a linha de Karlstadt,43 colocando sempre novos pressupostos que atestassem a dignidade do ser humano perante Deus. O caminho dado pelo Batismo é o caminho da salvação: o morrer e o ressuscitar com Cristo que ali têm lugar e o constante “agarrar-se” a ele durante toda a vida não podem ser superados por nada, pois ali tudo já está dado. Por isso Lutero afirma. “Tudo que vivemos deve ser Batismo e completar o sinal.” Ou seja, morrer para os pecados e ressurgir para a vida com Cristo.44 O Espírito Santo nos é dado gratuitamente no Batismo, tornando-nos santuário de Deus, onde Ele vem habitar (1 Co 3.16).
Na IECLB, temos a liberdade de escolher entre o Batismo de infantes e o Batismo de adultos. Ou seja, não somente após a missão entre adultos, mas sua postergação. Quanto a esta, em se tratando de famílias cristãs, tenho lá minhas dúvidas. Penso que deveríamos refletir sobre a questão de que as crianças filhas de cristãos estão participando da comunidade e, no caso de se postergar o Batismo, quando o receberem, ele não seria mais sua iniciação! Perguntamo-nos também sobre o porquê da postergação, já que até aqui viemos afirmando que este Sacramento é presente de Deus, graça, recebimento. Neste sentido, a pergunta abaixo, que faz uma analogia com este problema deveria ser seriamente considerada e refletida: “Qual é a utilidade de um estábulo se os cordeiros devem ser deixados de fora até que se veja se podem suportar as condições climáticas?”45
As reflexões que criticam o batismo de infantes partindo do pressuposto de um “indiferentismo e descomprometimento religioso e pluralismo secularizado”46 que permeiam a sociedade atual devem ser muito bem analisadas e discutidas. Se, por um lado, concordamos com a crítica do descomprometimento em relação à educação e atuação cristãs, por outro, discordamos da imputação da culpa à prática do Batismo de infantes, como se ela fosse a causa da anomalia da secularização. A questão se esclarece, no meu entendimento, se perguntarmos qual é o porquê da indiferença com o Batismo. Para mim, o nosso fracasso enquanto pais, padrinhos, Igreja em se tratando do catecumenato, que deveria ser permanente, ou seja, uma vida constantemente direcionada ao Batismo, não pode nos levar a desprezar a questão fundamental de que Deus concede sua graça através deste sacramento e que ele é válido, sem o pressuposto da fé como poder humano, mesmo diante do nosso fracasso em ensinar e viver uma vida enraizada nas suas promessas. Neste sentido, o argumento da bagatelização do Batismo deve ser ressaltado, pois confere com a nossa realidade hoje. Entretanto, a saída que é proposta, ou seja, o Batismo de adultos, não permite um remédio melhor para esta crise! Qual é a diferença entre um cristão que foi batizado quando adulto e que duvida da promessa no testamento de Cristo e de um outro que foi batizado quando criança e que agora também duvida? Nenhuma. Por que há de ter vantagem o que foi batizado adulto, quando os dois devem voltar ao Batismo e acreditar na graça de Deus que outorgou todas as promessas a partir de Cristo aos dois? Qual dos dois teria vantagem, quando os dois devem se deixar guiar por Cristo, vestir-se dEle e nEle, longe das certezas próprias?
O Batismo daquele que pode afirmar a sua fé na confissão não é melhor, mais digno e justo do que aquele que é realizado para as crianças, pois ninguém vê o coração daquele que está fazendo a confissão. Segundo Lutero, se o argumento dos que negam o Batismo aos infantes for de que estes não têm fé e que não podem expressá-la, ele é “como manteiga no sol”, pois ninguém pode provar que a criança não tem fé, assim também como não se pode provar com certeza a fé adulta!47 “Nós não nos deixamos batizar pelo fundamento da certeza da fé, mas sim porque Deus o ordenou e quis.”48 Não posso basear o Batismo na fé do que quer ser batizado, pois o fundamento do Batismo seria então ele mesmo, e não a Palavra de Deus. Portanto, o Batismo se fundamenta na ordem de Deus, e não na certeza da fé na minha confissão. Veja a seguinte citação:
“Se agora então um homem idoso devesse ser batizado e dissesse: Senhor, eu quero ser batizado. Então tu perguntas: Crês tu também?, como Filipe perguntou ao eunuco em Atos 8.37 e como nós perguntamos diariamente aos batizandos. Então ele não virá e me dirá: Sim, eu quero mover montanhas através da minha fé. Mas: Sim, senhor, eu creio, mas sobre esta fé não edifico, pois ela me seria fraca e incerta. Eu quero ser batizado segundo o mandamento de Deus, o qual quer isso de mim. Sobre este mandamento eu me atrevo (a ser batizado), com o tempo que a minha fé se torne o que ela pode ser. […] Se eu fosse batizado segundo a minha fé e amanhã me sentisse como não batizado, se a fé me escapasse ou sofresse tribulações, como
se ontem (quando fui batizado) eu não tivesse verdadeiramente crido! A mim não. Melhor que as tribulações enfrentem a Deus e o seu mandamento por causa do meu Batismo; isto é mais seguro para mim.”49
As seguranças humanas, buscadas seja no entendimento ou na razão, seja em experiências místicas ou de êxtase, jamais tornarão o ser humano digno das promessas divinas. Essa é a grande lição da Reforma! Perante Deus, não há razão humana ou consciência que sejam válidas como pressuposto de algo, pois o testamento no sacramento de Cristo não é beneficium acceptum, sed datum,50 ou seja, não é benefício aceito, mas dado! A fé será sempre resposta à obra de Deus, mesmo que o entendimento seja velado (Hb 11.7). Acreditando no testamento, começamos a entendê-lo depois que ele nos foi dado, e não antes. Não há pré-requisito, pois a obra de Deus é primeira (Hb 11.1). Neste sentido, a fé sempre pode responder, voltar a Deus em Cristo que nos amou primeiro (1 Jo 4.19). Não é sobre a minha fé que tenho que edificar, mas na palavra da promessa de Deus.
“Assim fazemos com o Batismo de crianças: trazemos a criança até aqui entendendo e esperando que ela creia, e oramos para que Deus conceda fé a ela; entretanto, não batizamos por causa disto, mas somente porque Deus assim o ordenou.”51
E é por isso que Lutero, desde o começo até o final de sua vida, afirmou o Batismo de infantes.52 O autor e consumador da fé é Cristo (Hb12.2). A imagem do professor Baeske de que a fé é como a música que, quando e enquanto a escutamos, nos faz bater o pé no seu ritmo, resume de forma bonita esta questão. A fé nos toma, e não somos nós que a tomamos: nós é que somos tomados por ela! Entretanto, as suas conclusões a partir desta gratuidade, em se tratando do Batismo, entram em choque com o acima exposto, pois o professor defende o Batismo de adultos.
O argumento de uma violência cometida pelos pais, padrinhos e Igreja às crianças que ainda não conseguem se defender, ou seja, que ainda não conseguem articular o “eu quero”, “eu creio”, nega, ao meu ver, toda possibilidade de missão da Igreja, em se tratando de educação, e entende o papel dos pais e sua influência na vida das crianças de modo muito ingênuo. Se não vejamos: é lógico que as crianças nascidas de lares cristãos serão influenciadas pelos pais, pelos padrinhos, pela vida da Igreja, pela sociedade à qual pertencem. É lógico também que os pais têm uma grande influência sobre os filhos e que as crianças, em boa parte de sua vida, estarão sob esta influência, ou seja, dependerão dos pais, das suas decisões e ensinamentos, tanto para o bem como para o mal. Agora, dizer que isso é uma violência, pois os pequeninos ainda não podem se defender, é acabar com qualquer possibilidade de educar os filhos e filhas! A crise dos sacramentos, também da confirmação hoje em dia tem suas raízes justamente nesta questão: o nosso fracasso perante nossos filhos e filhas em relação à educação cristã! Se sou cristão, é claro que devo ensinar os meus filhos segundo a minha fé. Discutimos aqui justamente o nosso fracasso em ensinar a fé! Aqui está a lacuna! Entretanto, colocam-nos o argumento de que não se dá liberdade às crianças para que elas tenham escolha própria. Ora, esse argumento de violência é, ao meu ver, descabido, pois não há e nunca houve qualquer tipo de educação que seja neutra. Deveríamos dar graças a Deus que as crianças sejam batizadas e que, através disto, possam fazer parte e ser educadas em um lar e uma comunidade cristã, ouvir a Palavra e participar da Eucaristia (embora quanto a este ponto as leis humanas falem mais alto). A postergação do Batismo não traz privilégios e não é aconselhável, como o exemplo de Agostinho citado por Lutero.53 O que está errado é a nossa prática de viver o Batismo.
Por que batizamos crianças ? Os sacramentos são testamento, promessas contidas no testamento e sinal visível, Evangelho visível – “[…] é Deus que te fala por um ser humano e te submerge na água”54 –, palavra unida ao sinal, obra divina, pois “receber a palavra, os sinais e a graça de Deus não é dar de si ou fazer algo de bom, mas somente tomar para si”55 . Para os pais que crêem firmemente nesta promessa, nada mais justo que a condução de seus filhos e filhas à pia batismal, para que, desde pequenos, participem do corpo de Cristo, para serem cristãos integralmente. O presente de Deus é para todos. Aferrar-se, agarrar-se a ele, vestir-se dele, esta é a resposta da fé dos pais, padrinhos e comunhão dos santos, que conduz as crianças ao Batismo. Este voltar ao Batismo a vida inteira é parte importante da educação de pais, padrinhos e Igreja. A fé da criança é obra de Deus. Não será um “creio” mais tarde, ou seja, o pensamento de que ela mesma terá que decidir, que dará mais poder ou integridade ao Batismo, pois este não acontece pelo “eu creio”, mas sim pela ação de Deus que vem até nós. A esta ação se voltará e se dirá “eu creio”. A questão está em aceitar ou não este presente agora, na indignidade que nunca será totalmente vencida, somente no reino de Deus, pois enquanto o Reino não se der por completo, as tribulações e o pecado agirão em nós.
A única certeza que temos é que a promessa de Deus não mente. O testamento nos foi dado gratuitamente. Resta-nos voltar a ele sempre. Portanto, já que a nossa fé é falível, já que não somos presunçosos e não colocamos a nossa fortaleza nas nossas próprias ações, pois quem garante que se esperarmos até que possamos dizer “eu creio” seremos privados das tentações do mundo e do pecado que habita em nós, que nos assaltam e nos desviam do amor de Cristo? Já que não somos supercristãos, pois não colocamos nossa certeza na ascese intelectual ou espiritual, pois a fé não é objeto que apreendemos e tornamos nosso, objeto pertencente ao sujeito, pois ela permanece sempre obra da misericórdia de Deus em nós, por causa destes tantos “jás” é que Cristo instituiu a Eucaristia (O que se quer ressaltar aqui é esta relação intrínseca entre o Batismo e a Eucaristia: em ambos Deus vem até nós por graça, não contando nosso saber, fazer ou a fortaleza de nossa fé). Ali vamos com nossa fé fraca e recebemos fortalecimento através de Cristo que se oferece a nós como banquete, já aperitivo do Reino que ainda está por vir. Esta festa, este banquete é dado a todos os que fazem parte da comunhão dos santos, que são batizados.
Entretanto, confiando demasiadamente em nós mesmos, erigimos novamente leis, pré-requisitos, que, fazendo do testamento um contrato, ou seja, “se tu fizeres isso, então receberás aquilo”, afastam-nos da graça de Deus. Agindo assim, estamos cometendo o maior pecado, pois, não confiando nas palavras de Cristo contidas na sua promessa – ou seja, de que ele concede graça ao pecador, perdão de pecados e vida eterna no Batismo, e, por isso, o passaporte para a comunhão de mesa com a comunidade que é corpo de Cristo – chamamos Deus de mentiroso. Por não confiar na promessa de Deus contida nos
Sacramentos, erigimos novas leis, obras humanas56 , para garantir à nossa consciência que, cumprindo-as, seremos merecedores. Entretanto, esquecemos que o testamento não é um contrato e que a graça nos é dada, mesmo apesar de nossa indignidade. Nunca serás merecedor; mesmo assim, recebes o presente. Nessa gratuidade tens que acreditar e voltar sempre a ela, pois as palavras de Cristo que te prometem os dons de Deus não mentirão jamais, mas os teus pensamentos te enganarão.57 Que o presente de Deus não depende de nada que o ser humano possua ou faça, essa é a grande descoberta de Lutero, a libertação da própria consciência que o oprimia. Os sacramentos são presentes, pois é a Palavra de Deus que os realiza. É justamente nela que está a essência da questão e não na consciência humana que quer de alguma forma se justificar. Eu gosto muito de um texto de Ebeling que resume esta questão da consciência do ser humano segundo Lutero de maneira formidável, ou seja, qual a palavra que “o alcança e o atinge em seu íntimo”:
“a palavra que só o compromete consigo mesmo, que o faz depender só de si mesmo, que o reclama sem restrições como agente e, por isso, até como quem se faz a si mesmo, apresentando-lhe a conta de tudo quanto não fez, onde falhou, o que ficou devendo; ou então a palavra que o liberta desta prisão em si mesmo, desse estar entregue a si mesmo, a palavra que lhe abre uma esperança que não tem fundamento no seu próprio ser, que lhe traz ânimo que não é derivado dele mesmo, que não o interpela como agente que devesse justificar-se a partir de suas obras, mas como quem não se deve a si mesmo, como quem se tornou um presente para si mesmo e que doravante pode entender-se como alguém que vive do presente, da graça, do
perdão.”58
A justiça da fé não é e nunca será possessão; pelo contrário, será sempre obra externa de Deus. A origem da fé não está no nosso alcançar, mas no descer de Deus a nós, no seu atingir o nosso ser.59
Se fôssemos comparar e distinguir entre lei e evangelho, diríamos que nos sacramentos reina o evangelho puro – aqui nada se pede ao ser humano, aqui Deus está agindo em graça. Analisando o Magnificat, diz Lutero: “Assim diz a voz da lei: Dá o que tu deves; a do Evangelho, porém: Teus pecados estão perdoados.” Aqui a voz da salvação vem de graça. A graça é como uma pomada “com a qual os pecados são perdoados e as feridas de nossa natureza são curadas.”60 Aqui não fala mais alto a sabedoria ou o conhecimento, o que se faz ou o que se pode, mas sim a palavra do evangelho, da graça.
No meu entender, a negação do Sacramento do Altar aos pequeninos contribuiu e contribui muito para a bagatelização do Batismo e a dificuldade frente ao catecumenato permanente. Aqui entra o relacionamento intrínseco entre Batismo e Eucaristia, o qual já mencionamos.
Negar a Eucaristia às crianças é uma anomalia para quem crê e pratica o Batismo como graça divina. Se a questão essencial fosse o entendimento, jamais poderíamos realizar qualquer sacramento, pois nos perguntaríamos como podem nos ser dadas coisas tão grandes, que não entendemos. Nos sacramentos nos é presenteado todo o Cristo, diz Lutero, perdão dos pecados, graça, superação da morte e do diabo. É tanta coisa que a natureza tola deveria mesmo duvidar, de tanto que é!61 Se a questão essencial fosse a certeza, então jamais seríamos dignos de qualquer coisa, pois as tribulações fazem parte do nosso cotidiano humano, demasiado humano. Como ter certeza sobre a fé dos outros, se não podemos ver através do coração das pessoas? Portanto, não realizaríamos, assim, qualquer sacramento.62 Se fôssemos fundamentar o Batismo nas nossas certezas, teríamos “um eterno batizar, que nunca mais teria fim (ou) nunca o realizaríamos.”63 Da mesma forma, nunca mais participaríamos da Eucaristia. Se a questão essencial fosse uma fé que pode ser articulada, iríamos colocar todas as nossas certezas nas forças humanas, no poder do “eu creio”, da confissão. Entretanto, teologicamente afirmamos justamente o contrário! Tudo o que somos e o que temos não baseamos em nós mesmos, mas em Deus. “Pois lá onde a força humana vai embora, lá entra em ação a força de Deus. E lá onde a força humana entra, a de Deus vai embora.”64 Onde há soberba, sabedoria humana que se ufana, lá Deus já deixou o barco à deriva! “A fé não tolera estatutos humanos na consciência.”65
A graça de Deus vale para o Batismo e da mesma forma para a Eucaristia. Enquanto o primeiro acontece uma vez somente, a Eucaristia é sempre a mão estendida de Cristo à nossa fé falível. Nós nos encontramos sempre qual Pedro: andando sobre as águas, duvidamos e começamos a afundar, necessitando a mão de Cristo que nos salva, que nos tira das águas que querem nos engolir (Mt 14.31). Não é ao “eu creio”, à minha consciência ou ao entendimento que tenho que me apegar, mas ao testamento e às promessas de Cristo. Por isso, a prática da negação da Eucaristia às crianças é uma anomalia, pois chama de mentirosa as promessas do testamento de Cristo outorgadas aos batizados. A educação e o entendimento (que sempre será relativo) dos sacramentos devem se dar no processo de vivência da fé, pressupondo a participação das crianças na Eucaristia, à qual são convidadas. O processo deveria ser simultâneo: participando e aprendendo; aprendendo e participando. Pois qual a melhor maneira de aprender comunhão do que experimentando tal comunhão com Deus e com o próximo? Entretanto, para salvar as nossas consciências cheias de dúvidas, colocamos pressupostos como entendimento, fé que pode ser articulada, que não auxiliam em nada a educação na doutrina cristã. Até porque há uma incoerência bem grande nisto tudo, pois falamos de graça enquanto colocamos obras do entendimento como pré-requisitos à graça! Transformamo-lo de um sacramento da fé num sacramento do merecimento.66
Além disso, temos em nossas comunidades, por causa da não-confiança na promessa, cristãos pela metade, parciais, que devem esperar por um data prevista para poder se tornar cristãos completos. Novamente somos nós que colocamos obstáculos à obra de Deus, que de forma alguma é parcial, mas sim total. Querendo nos precaver de cair em erros, pecamos por falta de confiança em Deus. Querendo prestar um grande serviço, acabamos por cometer o pior dos pecados: duvidamos de sua Palavra. Pois negar a Santa Ceia às crianças é grave porque se duvida da palavra de Deus que as torna suas filhas no Batismo.
Portanto, quem é batizado tem o direito de participar na festa do Reino, cujo anfitrião é Cristo. É Ele quem fez e faz o convite. Nós estamos, na IECLB, seguindo o exemplo dos discípulos de Jesus, os que queriam ser os “entendidos”. Quando as crianças queriam se aproximar do mestre, eles lhes colocaram obstáculos. Assim como eles, nós também devemos ser repreendidos pelo Cristo indignado: “Deixai vir a mim os pequeninos, não os
embaraceis, porque dos tais é o Reino de Deus” (Mc 10.13-16 ; Mc 9.33-37). São somente duas as passagens que falam de Jesus com as crianças; entretanto, sua importância é enorme! Jesus as coloca como exemplo, como o que devemos nos tornar para herdar o reino de Deus. Como enfatiza Lutero, se as crianças não crêssem, Deus teria nos dado um mau exemplo do Reino.67 Como sempre, a lógica de Jesus subverte a nossa. Nossa
sabedoria se torna loucura perante Deus!
Não embaraçar as crianças, não negar o seu acesso à comunhão dos cristãos não é algo superficial, que pode ser simplesmente colocado de lado, sem discussão e aprofundamento, como parece ocorrer na nossa prática comunitária. O argumento da espera até a confirmação não é sustentável evangelicamente. As crianças, assim como nós, necessitam do evangelho visível, a Palavra que se encarna, que no Sacramento do Altar é Palavra boa de comer, é doce como o mel, traz alegria e fé: “Quando recebi as tuas palavras, eu as devorava. A tua palavra era festa e alegria para o meu coração.” (Jr 15.16). “E Deus disse: ‘Criatura humana, que seu estômago e sua barriga se saciem com este rolo escrito que estou lhe dando.’ Eu comi e pareceu-me doce como o mel para o meu paladar.” (Ez 3.3). “São mais doces do que o mel e o destilar dos favos.” (Sl 19.11). A Palavra viva, que é o sacramento, tem sabor e perfume (2 Co 2.14-16). “Tomai, isto é o meu corpo; isto é o meu sangue, o sangue da aliança derramado em favor de muitos.” (Mc 14.22,24). Por nossa fraqueza, para o fortalecimento de nossa pouca fé, para o fomento de uma comunhão mais profunda e duradoura, Cristo nos deu a materialidade do seu corpo e sangue. O nosso relacionamento com Deus passa pela materialidade da criação divina. A Palavra divina que provoca a fé nos atinge de fora e nos presenteia um Deus encarnado, presente, não só em Espírito, mas na sua materialidade/carnalidade: a Palavra é doce como mel no meu paladar. Deus sabe que nós precisamos disso, que necessitamos recebê-lo com nossos sentidos, de maneira concreta e palpável, pois assim fica mais fácil ter fé, pois somos como o pai do menino possesso: “Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé!” (Mc 9.24). E é por isso, pela nossa fé pequena, que Ele se nos doa nos sacramentos. Ouvimos sua palavra, vemos a água, a sentimos, sentimos o calor das mãos que nos abençoam, sentimos o calor das mãos unidas quando nos dirigimos para a ceia, comemos, sentimos o gosto, tomamos, nos abraçamos e regressamos fortalecidos: uma festa para os nossos sentidos preparada por Deus. Quem disse que as crianças não necessitam de toda esta experiência também? Esta experiência é ali colocada por Deus justamente para fomentar a nossa fé. Que pais, que padrinhos e que Igreja somos, quando negamos toda esta materialidade de Deus aos pequeninos? Penso que se as crianças participassem de tudo isso, seria muito mais fácil o catecumenato permanente, que continua sendo nossa responsabilidade a vida toda, não somente para as crianças, mas também para os adultos. A cada Eucaristia voltar ao Batismo, ao início onde Deus nos promete e nos dá seu testamento, que fica cada vez claro no comungar o corpo e sangue de Cristo. As crianças não são cristãos parciais, pois o agir de Deus para com elas não é parcial. A comunhão plena falta às crianças, e isso não pode ser explicado a elas sem a experiência do fato. Elas necessitam da Eucaristia para o fortalecimento de sua fé, para serem fortificadas na esperança e para serem aquecidas no amor, tanto quanto os adultos. Pois através desta comida os cristãos têm certeza de que Cristo se presenteou a eles. A Palavra tornou-se e torna-se carne! Através da palavra do evangelho concreta que é o Sacramento do Altar, fica claro para mim que sou filho e filha de Deus, mesmo com minha indignidade e a minha fé pequena.68 O nosso problema é que sempre queremos criar algo nosso e, assim, perdemos o tesouro que está exemplificado de forma tão simples no Sacramento.69 É importante para as crianças que elas não sejam colocadas de lado, pois, sendo batizadas, elas têm o direito de terem lugar à mesa. Elas são tão dignas quanto nós adultos, pois todos somos pecadores que necessitam da mão estendida de Deus. Não vou ao sacramento pela minha vontade, mas pela vontade de Cristo.70 Portanto, sigo a ordem dEle. “Jesus não diz: se vocês crerem e forem dignos, então terão meu corpo e sangue, mas, tomem, comam e bebam, isto é o meu corpo e sangue.”71 É essa simplicidade evangélica que nos falta.
Superar esta anomalia é nossa responsabilidade frente ao evangelho, pois, como vimos, ela não pode ser tratada como uma questão periférica, mas deve, sim, ser questão fundamental em se tratando da Igreja de Cristo. As mudanças devem ser referendadas pelo diálogo e compreensão, de modo pastoral, partindo do contexto e da comunidade, mas devem ser estabelecidas. O evangelho, que é boa nova dirigida a todas as gentes, deve imperar sobre as nossas limitações e preconceitos. O evangelho deve imperar sobre a lei. Assim, mesmo que a negação da Santa Ceia às crianças estivesse descrita no decálogo, depois de Cristo teríamos que deixá-las participarem justamente pelo compromisso do amor.72 Não pela lei, mas pela graça!
Gostaria de finalizar com uma citação importante. Lutero está terminando sua exposição sobre a Santa Ceia no Catecismo Maior, falando da necessidade que temos deste sacramento:
“Isto foi dito como admoestação, não somente para nós velhos ou grandes, mas também para os jovens, os quais devem ser educados conforme a doutrina e o entendimento cristãos. Pois desta maneira se poderia ensinar com mais facilidade aos jovens os Dez Mandamentos, a Fé e o Pai-Nosso, para que eles entendessem com prazer e seriedade, e que eles, desta maneira, desde novos, treinassem e se acostumassem. Pois para os velhos já foi feito o bastante, de modo que não se pode guardar isto e outras coisas se não se educam as pessoas, as quais virão até nós e deverão nos substituir na nossa função e trabalho; para que eles também eduquem as suas crianças de forma a dar frutos, para que a Palavra de Deus e a cristandade permaneçam. Neste sentido, que cada pai saiba que ele é responsável – pela ordem e mandamento de Deus – por educar suas crianças sobre o que foi dito acima, ou que as deixe ser ensinadas, sobre o que elas devem saber. Pois, porque elas foram batizadas e fazem parte da cristandade, elas devem também gozar desta comunhão do Sacramento, para que através desta (comunhão) elas nos sirvam e possam nos trazer proveito, pois elas precisam nos ajudar a crer, a amar, a orar e a lutar contra o diabo.73
Portanto, a participação de todos na Eucaristia é uma questão essencial para uma educação concreta da vivência de fé dos cristãos. Ou seja, a experência concreta da participação das crianças é essencial para se poder viver e ensinar a doutrina cristã.
4. Concluindo
Dizíamos, no início, que a teologia se faz a caminho, vive do contexto da comunidade cristã e seus problemas, recorrendo à Palavra e à tradição para, neste diálogo, viver a vontade de Deus. Colocamos um problema que nossa realidade oferece, a negação da Eucaristia às crianças, e tratamos de discuti-lo a partir da história da Igreja, da teologia e de nossa tradição luterana. Neste sentido, destacamos:
- Os sacramentos são ordem e obra de Deus;
- Não estão baseados na nossa dignidade, mas são doação gratuita do Deus que se encarnou;
- São Palavra de Deus unida ao sinal, evangelho visível;
- Todos somos seus destinatários, se os recebemos com a resposta da fé;
- Não são ato mágico, embora estejam além de nosso entendimento, por isso é necessário o crer;
- Entretanto, o crer, a fé se dá a caminho, entre altos e baixos, entre tribulações e certezas, não sendo objeto que é apreendido e agora me pertence;
- A fé é pressuposto de um sacramento somente como resposta à ação de Deus, pois ela é presente e obra de Deus através de Cristo;
- A fé não se resume em termos de consciência, de articulação racional ou verbal, muito menos de um êxtase espiritual, mas obra de Deus que nos toma, que vem de fora, extra nos, música que faz o nosso pé bater no seu ritmo;
- A aceitação do Batismo como graça, presente de Deus na Igreja cristã, faz com que os batizados tenham direito ao Sacramento do Altar, pois as promessas do testamento outorgadas no Batismo já estão presentes na materialidade do corpo e sangue de Cristo, pois ali toda a escatologia já está presente;
- A participação na Eucaristia é importantíssima, não é questão secundária, pois ali temos o alimento para a fé, que fortalece a esperança e aquece o amor entre os cristãos. Ali recebemos a Palavra de maneira concreta, que é doce como o mel no meu paladar. Por isso, negar o acesso das crianças batizadas a ela é pecado gravíssimo;
- O entendimento é importante para o cristão que quer viver segundo a vontade de Deus, entretanto não é pressuposto para a ação de Deus em nós;
- A resposta da fé no crer para compreender, que acontece sempre no caminho, coloca-nos a caminho, em um aprendizado constante, que só será concluído no Reino;
- Portanto, a fé não é aquisição humana, mas ação e obra constante do Espírito Santo em nós;
- Nesse caminho de tremor e temor, todos nós necessitamos da Eucaristia, inclusive os pequeninos;
- O Batismo nos torna filhos e filhas do Deus bondoso. Não há filiação parcial, pois a Graça é total. Não há cristãos pela metade, mas completos, tornados justos pelo testamento de Cristo e incorporados na comunhão dos santos, na qual as crianças têm seu lugar, gozando de todos os privilégios que Cristo oferece. Nem mais, nem menos
Notas
1 WA 7, 572. Magnificat (1521).
2 Já há comunidades na IECLB que realizam o culto eucarístico todos os domingos. Mas a grande maioria não. Sobre esta questão, veja James F. WHITE, Introdução ao culto cristão, capítulo 8. O professor Nelson Kirst vem tratando deste desvio na compreensão e prática da Ceia com muita propriedade. Veja também Nelson KIRST, Nossa liturgia, das origens até hoje. São Leopoldo: Sinodal, 1996. (Série Colméia, v. 1).
3 Kurt ALAND, Die Taufe und Kindertaufe, p. 274-75; Hans SCHWARZ & Robert W. JENSON, Os meios da graça, in: Carl E. BRAATEN &, Robert W. JENSON, Dogmática cristã, v. 1, São Leopoldo: Sinodal, 1990, p. 339; Pedro KALMBACH, Los ninos y la Eucaristía, p. 1. Artigo não publicado.
4 Cf. XVIII Concílio Geral da IECLB.
5 Walter ALTMANN, Lutero e libertação, São Leopoldo, São Paulo: Sinodal, Ática, 1994, p. 139, 149.
6 WA, 30,I, 212,213,216,220,223,229,230. Der große Katechismus(1529).
7 Iibid., 213,214,220,223,224,225,226
8 O presente parágrafo se baseia em Kurt ALAND, Taufe und Kindertaufe, p. 28.
9 Veja James WHITE, Introdução ao culto cristão, São Leopoldo: IEPG, Sinodal, 1997 p. 153.
10 Veja Robert JENSON & Hans SCHWARZ, Os meios da graça, p. 338.
11 Ibidem; James WHITE, Introdução ao culto cristão, p. 167.
12 Kurt ALAND, Taufe und Kindertaufe, p. 33-39.
13 Robert JENSON & Hans SCHWARZ, Os meios da graça, p. 338.
14 James WHITE, Introdução ao culto cristão, p. 160.
15 WA, 26, 158,159,168,169. Von der Wiedertaufe an zwei Pfarrern (1528).
16 Ibid., p.157
17 Robert JENSON & Hans SCHWARZ, Os meios da graça, p. 339.
18 James WHITE, Introdução ao culto cristão, p. 160.
19 Martinho LUTERO, Do cativeiro babilônico da Igreja, in: Obras Selecionadas: volume 2: o programa da reforma:escritos de 1520, São Leopoldo, Porto Alegre: Sinodal, Concórdia, 1989, p. 375. Ver também WA, 30,2, 595-596. Vermahnung zum Sakrament des Leibes und Blutes unsers Herrn (1530).
20 Ibid., p. 376.
21 WA, 26, . Von der Wiedertaufe an zwei Pfarrern (1528). Martinnho LUTERO, Do cativeiro babilônico da Igreja, p. 79. “É Deus que te fala por um ser humano e te submerge na água.”
22 Ibid., p. 362, 368. WA, 30, I, 222. Der große Katechismus (1529).
23 Carter LINDBERG, The European Reformations, Oxford, Massachussets: Blackwell Publishers, 1996, p. 188.
24 Martinho LUTERO, Do cativeiro babilônico da Igreja, p. 368.
25 Martin LUTERO, Do cativeiro babilônico da Igreja, p. 377.
26 Ibid., p. 376.
27 WA, 26, 164. Von der Wiedertaufe an zwei Pfarrern (1528).
28 Ibid., 161, 162.
29 Carter LINDBERG, The European Reformations, p. 207.
30 WA, 18,170. Wider die himmlischen Propheten, von den Bildern und Sakrament (1525).
31 WA, 18,136. Wider die himmlischen Propheten, von den Bildern und Sakrament (1525); WA, 57,5,69,77,94.Vorlesung über den Galaterbrief (1516/17). Estes exemplos somente querem apontar para esta questão, pois não haveria lugar para citar todas as passagens onde Lutero enfatiza o extra nos!
32 WA, 30,I, 216. Der große Katechismus (1529). Martinho LUTERO, Do cativeiro babilônico da Igreja, p. 381.
33 WA, 26, 156,157,159. Von der Wiedertaufe an zwei Pfarrern (1528).
34 Martin LUTERO, Do cativeiro babilônico da Igreja, p. 387.
35 WA, 30,I, 218,219. Der große Katechismus (1529). WA, 26, 156,159. Von der Wiedertaufe an zwei Pfarrern (1528). É Cristo mesmo que vem e concede a fé à criança, assim com em Lc 1.41. Lorenz GRÖNVIK, Die Taufe in der Theologie Martin Luthers, p. 165.
36 WA, 26, 154,162. Von der Wiedertaufe an zwei Pfarrern (1528).
37 Martin LUTHER, Tischreden, Hrs. Kurt Aland, Stuttgart: Reclam, 1960, p. 115.
38 WA, 30,I, 218. Der große Katechismus (1529).
39 Martin LUTHER, Tischreden, p. 117.
40 Martin LUTERO, Do cativeiro babilônico da Igreja, p. 378.
41 Ibid., p. 377.
42 Martinho LUTERO, Do cativeiro babilônico da Igreja, p. 363.
43 Carter LINDBERG, The European Reformations, p. 142.
44 Martin LUTERO, Do cativeiro babilônico da Igreja, p. 384.
45 Robert JENSON & Hans SCHWARZ, Os meios da graça, p. 326.
46 Walter ALTMANN, Lutero e libertação, p. 151.
47 WA, 26, 156. Von der Wiedertaufe an zwei Pfarrern (1528).
48 WA, 26, 164. Von der Wiedertaufe an zwei Pfarrern (1528).
49 WA, 26, 165. Von der Wiedertaufe an zwei Pfarrern (1528).
50 Martinho LUTERO, Sermão a respeito do Novo Testamento, isto é, a respeito da Santa Missa, in: Obras selecionadas: volume 2: o programa da reforma: escritos de 1520, São Leopoldo, Porto Alegre: Sinodal, Concórdia, 1989, p. 264.
51 WA, 30,I, 219. Der große Katechismus (1529).
52 Sobre a questão do sacramento do Batismo em Lutero, veja o livro de Lorenz GRÖNVIK, Die Taufe in der Theologie Martin Luthers. Sobre esta citação, veja p. 164.
53 WA, 30,2, 596. Vermahnung zum Sakrament des Leibes und Blutes unsers Herrn (1530).
54 Martinho LUTERO, Do cativeiro babilônico da Igreja, p. 379.
55 Martin LUTERO, Sermão a respeito do Novo Testamento, isto é, a respeito da Santa Missa, p. 264.
56 Martin LUTERO, Sermão a respeito do Novo Testamento, isto é, a respeito da Santa Missa, p. 263.
57 Ibid., p. 261, 262.
58 Gerhard EBELING, O pensamento de Lutero, São Leopoldo: Sinodal, 1988, p. 94.
59 WA 7, 548. Magnificat (1521).
60 WA 57,59-60. Vorlesung über den Galaterbrief (1516/17).
61 WA, 30, I, 217. Der große Katechismus (1529).
62 WA, 26, 154. Von der Wiedertaufe an zwei Pfarrern (1528).
63 Ibid., 154, 162.
64 WA 7, 586. Magnificat (1521).
65 Martin LUTHER, Tischreden, p. 116.
66 WA, 30, 2, 598. Vermahnung zum Sakrament des Leibes und Blutes unsers Herrn (1530).
67 WA, 26, 157. Von der Wiedertaufe an zwei Pfarrern (1528).
68 WA, 19,505,507. Sermon von dem Sakrament des Leibes und Blutes Christi, wider die Schwärmgeister(1526).
69 WA, 19, 512. Sermon von dem Sakrament des Leibes und Blutes Christi, wider die Schwärmgeister (1526).
70 WA, 30, I, 229. Der große Katechismus (1529).
71 Ibid., 224.
72 WA 57, 97. Vorlesung über den Galaterbrief (1516/17).
73 WA, 30, I, 233. Der große Katechismus (1529). O grifo é nosso!