Como preparar as crianças para participar na Ceia?

Artigo

01/10/2008

Proponho começarmos pensando sobre como educamos uma criança para que ela aprenda a comer de modo adequado. Penso num bebezinho que aprende inclusive a mamar e a engolir o leite mamado. Quem é mãe e pai sabe o quanto essa preocupação é constante nos primeiros dias de vida de um bebê, ou seja, com dedicação acompanhamos o modo como a criança vai se alimentando. Nesse período, também ensinamos o hábito de arrotar após a mamada. Parece algo comum e fácil, mas bem sabemos que esta ação também exige uma atenção especial e paciência dos pais; algumas vezes até são necessários alguns tapinhas nas costas do bebê para que ele arrote.

Essa imagem, permeada de paciência e cuidado, está presente em torno da Ceia do Senhor. Os adultos não participam de qualquer modo; há uma preparação pessoal e comunitária para o ato de cear. Todos nós pensamos que as crianças de nossas comunidades devem preparar-se para a Ceia.

A preparação para cear é necessária em qualquer refeição de nosso cotidiano. Essa preparação pode, no entanto, ser entendida de diferentes modos: fazer higiene, estar puro de coração (confessar-se), preparar a mesa, estar em comunidade. Entendo que o central na preparação é perceber que quero fazer parte de uma comunidade que come junto, que celebra e relembra junto algo que recebeu de Deus, através de seu filho Jesus.

Gosto da imagem da preparação, principalmente quando penso no mundo em que vivemos, onde tudo é realizado de modo tão automático ou quando realizamos duas ou três atividades ao mesmo tempo. Quantos, entre nós, já tomamos café da manhã lendo o jornal, ou comemos enquanto preparávamos uma reunião, culto, aula?! Lembro-me de meu pai que, quando estava na lavoura, na hora de tomar o café da tarde, ele pegava a garrafa com água e lavava as suas mãos, as minhas e de minha irmã. Depois, sentávamos à sombra e comíamos o lanche. Meu pai realizava ações meramente higiênicas, mas também propunha um “clima” propício ao lanche, que era perceptível no fato de sentarmos à sombra e próximos uns aos outros para comer.

Muitos de nós perguntamos sobre como preparar as crianças para a Ceia. O que devemos dizer? Como explicaremos o que acontecerá?

Parto da experiência com meu filho. A primeira vez em que participou de uma Ceia, ele teve o privilégio de ver, na celebração matinal, o pão ser preparado por três mulheres. Ao ver o pão sendo amassado, sua pergunta foi: Para que elas estão fazendo pão? Sem muitas delongas, disse-lhe que aquele pão seria comido no culto, à noite. Quando arrumamos o salão e o altar, Henrique auxiliou na organização das cadeiras. Com muita curiosidade, observava o pão no altar e tudo o que estava sobre o mesmo. Durante o culto, Henrique esperava ansioso pelo momento de comer o pão. Cantou, bateu palmas, deu as mãos para orar, observou o batizado da Luise. Em nenhum momento, pediu para retirar-se do salão. De tempos em tempos, perguntava quando a gente iria comer o pão e beber o suco. Penso que, quando Henrique perguntou .quando a gente vai comer., não estava somente pensando nele; eu acredito que também estava pensando em todas as pessoas que estavam com ele, ali no culto.

Na hora em que recebeu um pedacinho de pão e tomou um pouco do suco, percebiam-se a sua alegria e satisfação em fazer parte daquela festa. Acredito que o momento foi especial para ele porque permaneceu até o final do culto e, inclusive, permaneceu no salão após o término do culto. E, juntamente com a comunidade, comeu o pão e bebeu do suco que havia sobrado.

Esse relato é a experiência com meu filho. Creio que cada um de nós já teve a sua ou irá tê-la. Cabe-nos, de agora em diante, pensar que espaços de ensino e que experiências podem ser promovidas para as crianças, quando estão reunidas em grupo, como no culto infantil ou outros espaços de encontro com crianças.

Apresentamos a seguir algumas sugestões de atividades tomando como ponto de partida algumas ações realizadas na Paróquia de Teutônia (obreiros/as: P. Silvio Meinke, Pa. Maike e Gladis)

A preparação da comunidade adulta

1º momento: Diálogo com o presbitério e apresentação da temática: inclusão das crianças na Ceia do Senhor.

2º momento: Elaboração de uma carta para todos os membros da comunidade onde se apontaram, sucintamente, alguns argumentos pró-inclusão. Também foi falado sobre a importância da criança vir acompanhada por alguém de quem gosta.

A carta foi entregue aos membros durante os domingos de Advento. Na carta, foi mencionado em qual culto do calendário litúrgico as crianças daquela comunidade participariam pela primeira vez da Ceia (culto de Páscoa).

3º momento: Diálogo com os diferentes grupos da comunidade: OASE, JE, Culto Infantil, Terceira Idade, coralistas...

A preparação das crianças no culto infantil

1º momento: Nesse encontro, narrou-se a história de Marcos 10.11-17. Conversou-se amplamente com as crianças sobre a história. Cantos e brincadeiras inclusivas também fizeram parte do encontro. Nesse dia, explicou-se que, no domingo de Páscoa, elas (as crianças) participariam da Ceia do Senhor que acontece no culto da comunidade. Também se mencionou que cada uma era convidada a participar, ou seja, participaria se quisesse. Quem quisesse participar viria em companhia de quem gosta.

2º momento: Narração da história da multiplicação dos pães. As crianças ouviram a história sentadas, em círculo, sobre um tapete. Após a narrativa, passou-se um cesto com pedacinhos de cuca. Cada criança pegou um pedacinho de cuca e comeu. Durante esse momento, lembrou-se que cada um deveria pegar apenas um, pois quem quisesse mais poderia repetir, mais tarde, porque havia o suficiente para todos comerem e ficarem satisfeitos. Do mesmo modo, fez-se com o suco de uva. Colocou-se num copo e passou-se de mão em mão. Cada criança bebeu um gole. A pessoa que orientou explicou que, no dia do culto com Ceia, cada uma também comeria um pedaço de pão e beberia um gole de suco, ao lado da pessoa de quem gosta.

3º momento: Confecção de uma toalha. Combinou-se com as crianças que elas participariam da Ceia do Senhor e, nesse dia, elas levariam a toalha sobre a qual seriam colocados o pão, o suco e o cálice. Com carimbos feitos em batata, as crianças carimbaram uma toalha branca. Os símbolos carimbados eram a figura humana, um pão e um cálice. As figuras humanas foram carimbadas formando um círculo, e, dentro do círculo, carimbaram-se o pão e o cálice.

4º momento: No dia do culto com Ceia do Senhor, as crianças participaram desde o início até o final. No início do culto, o obreiro explicou o que iria acontecer naquele dia para toda a comunidade, ressaltando que o convite é feito para todas as pessoas da comunidade.

Na hora do ofertório, as crianças do culto infantil colocaram a toalha sobre a mesa, e sobre ela colocaram-se o pão e o cálice com o suco. Ao redor da mesa de altar, o pão e o cálice passavam de mão em mão, entre altos e baixos.

Outras sugestões de atividades:

* Realizar encontros com os pais e as mães para conversar sobre as perguntas que seus filhos e filhas fizeram durante ou depois de participarem da Ceia. Compartilhar a experiência de cada um na tarefa sublime de auxiliar as crianças a responderem as suas perguntas.

* Elaborar liturgias inclusivas de culto da comunidade sem Ceia do Senhor, ou seja, cultos onde as crianças podem participar do início ao fim sem se entediar. Esses momentos são espaços extremamente educativos e construtores do sentido de comunidade. Pode-se imaginar que a criança chega à seguinte constatação: .Junto com meu pai, minha mãe, meus irmãos, meu vizinho e outras pessoas, eu percebo que faço parte de um mesmo grupo. Eu descubro que existe algo que nos liga, nos vincula.. Esse aprendizado básico é necessário em meio a uma sociedade onde existem muitos elementos de vinculação, mesmo que sejam passageiros e instantâneos.

* Retiro de crianças com os pais para trabalhar sobre a temática sob a perspectiva da partilha, da celebração, do louvor, culminando com uma Ceia com a participação da comunidade em geral. Num desses retiros, penso que se poderia amassar um pão num dos momentos e partilhar esse pão na hora da Ceia.
 


Autor(a): Marta Nörnberg
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Crianças na Ceia do Senhor / Ano: 2008
Natureza do Texto: Artigo
ID: 14013
REDE DE RECURSOS
+
Se reconhecemos as grandes e preciosas coisas que nos são dadas, logo se difunde, por meio do Espírito, em nossos corações, o amor, pelo qual agimos livres, alegres, onipotentes e vitoriosos sobre todas as tribulações, servos dos próximos e, assim mesmo, senhores de tudo.
Martim Lutero
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br