O papel das lideranças no trabalho diaconal

Estudo

30/04/2006

Ser líder num mundo de constantes mudanças de paradigmas, onde os valores estão em constante relativização, é uma questão que desafia as comunidades na condução de seus diferentes grupos através do trabalho diaconal. Líderes importantes do passado facilmente são tidos como não eficazes diante dos tempos modernos deste mundo.

Por exemplo, em outras épocas acreditava-se que para ser um bom líder bastava saber mandar. Hoje, ser um bom líder é saber compartilhar, investir nas pessoas, acolher as diferenças e perceber o que nos une para alcançar objetivos propostos pelo grupo. É ser um motivador, perceber a diversidade e administrá-la para que no alvo a ser alcançado possa transparecer a ação de todos. É atingir e superar objetivos junto com as pessoas.

Logo, o desafio da liderança é provocar a capacidade criativa da comunidade comprometendo-a; pois, quando fazemos e nos sentimos parte do grupo, realizamos coisas notáveis, construímos algo onde muitos se beneficiam. Sendo ouvido o grupo encontra espaço para externar suas opiniões, pensamentos. Nisto se sentem sujeitos num processo onde a tarefa do grupo vai sendo construída com o envolvimento de todos. O líder eficaz partilha o poder e não manipula as pessoas; afinal, o poder emana destas pessoas que merecem partilhar suas expectativas, convicções. Isto é cidadania, exercício da democracia.

Todos nós podemos ser bons líderes quando nos dispomos a participar do aprendizado contínuo, dinâmico de um conjunto integral e integrado de objetivos comuns na comunidade; quando somos acolhedores, calorosos no acolhimento do outro. Para tanto, é preciso pressupor que a verdade brota do compartilhar. O poder, a força do grupo, a sua unidade vem da liberdade em expor suas convicções. Nas diferenças somos polidos, aprendemos e crescemos.

Mas, afinal, o que é necessário aprender para ser um líder?

Não existe uma receita. Mas podemos estabelecer alguns critérios:

Envolver-se com o que realmente importa. Priorizar o coletivo para que não se esteja só na caminhada. A liderança existe na medida em que os colaboradores a reconhecem como existindo. Alguém não se torna líder simplesmente por que o quer, ela é um presente que só pode ser dado pelos outros. Ela chega quando os integrantes reconhecem a liderança, apoiando-a, deixando-se acompanhar, orientar, permitindo que o líder o desafie dentro do grupo para ações concretas no servir. Ser líder não tem qualquer sentido sem outros que optem por comprometer-se amorosa e prazerosamente com a construção da comunidade. Um líder completamente solitário é como uma só mão batendo palmas.

Mas, então, como fazer isto acontecer?

É necessário que, em primeiro lugar, o líder esteja sensível e perceptivo às suas próprias necessidades para que, então, possa ouvir o outro, seja no trabalho com crianças, jovens, PPDs, etc. O passo inicial acontece na sensibilidade do acolhimento, mesmo quando este parece confuso, desconhecido, não sabendo para onde se direciona uma atividade que irá iniciar. O ponto de partida precisa ser como uma ponte que vai sendo construída a partir de uma base. Esta base é construída a partir da fé em Jesus Cristo, que impulsiona a comunidade cristã na direção do Reino de Deus

À medida que o grupo se sentir ouvido, compreendido e respeitado, o sentimento será de valorização e cada vez mais de comprometimento com a causa, com os objetivos que o líder apresenta como desafio. Os desafios brotam da Pregação do Evangelho que nos faz olhar para além de nós mesmos, concedendo criatividade diante dos obstáculos que são inerentes na caminhada do grupo.

Assim, é necessário criar condições para que o aprendizado ocorra a partir dos próprios colaboradores em parceria com o líder.

É preciso que a liderança esteja comprometida com seus colaboradores, estando aberta para reconhecer quais são as dificuldades presentes no grupo, a fim de encaminhar propostas de resolução das mesmas.

O bom líder compartilha, delega tarefas de uma pessoa para outra num Sistema de CONFIANÇA. Quando realmente delegamos autoridade, poder e atribuições inerentes a cada tarefa para uma pessoa, demonstramos nossa confiança nela, obtemos flexibilidade e agilidade das ações. Desta forma, é esperado que aquele que recebe o poder delegado tenha autoridade suficiente para concluir a tarefa de modo satisfatório, comprometido.

Neste sentido, o líder não fica diretamente envolvido com a tarefa, mas continua com a responsabilidade final do processo, acompanhando e orientando no que é necessário.

À medida que delegamos, incentivamos o desenvolvimento do conhecimento e das habilidades dos colaboradores, os quais se tornam capacitados a propor soluções para os diferentes conflitos quando, por exemplo, na ausência do líder e, ainda, têm a oportunidade de testar suas idéias e implementar soluções criativas, bem como de desenvolver maior autoconfiança e habilidades gerenciais. A delegação de poder, de forma criteriosa, aumenta o poder de quem o delega. Ao conceder aos colaboradores mais autoridade e ferramentas para executarem a tarefa, o líder amplia sua influência e os mesmos sentem-se incentivados para agir.

Para que o líder esteja apto a liderar é necessário deixar-se polir, como o barro nas mãos do oleiro. Neste sentido, é fundamental GOSTAR DE PESSOAS. É preciso autodesenvolvimento, habilidades de comunicação e influência, pensamento sistêmico, perceber a comunidade como um todo integrado. Ser líder é saber ser liderado, colocar-se também constantemente no lugar daquele que precisa ser motivado, estar num constante processo de aprendizagem, comunhão, solidariedade, parceria com amor, respeito, confiança.

Técnica:

Reflita com seu grupo sobre:

1 – Converse sobre as expectativas com o projeto diaconal de sua comunidade e as suas preocupações com os resultados desejados;

2 – Que propostas o grupo apresenta como ações concretas para transformar em realidade suas expectativas e preocupações.

Psicóloga Sandra Kiefer


 


Autor(a): Sandra Kiefer
Âmbito: IECLB
Natureza do Texto: Estudo/Pesquisa
ID: 13659
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