Diaconia como caminho da esperança

Estudo

25/04/2004

Às vezes sinto como é duro
andar por este mundo,
Às vezes sinto como é duro ter
que caminhar *

Quando Veronica veio para nosso grupo de mulheres, ela tinha enorme dificuldade para falar. Nós chegamos a pensar que ela tivesse algum problema que a impedisse de articular as palavras. E toda a sua postura era recolhida, encolhida. Ela não levantava a cabeça, e jamais olhava as pessoas nos olhos.

Às vezes me sinto sozinha

Para nossa surpresa, ela voltou na segunda reunião, veio uma terceira vez. No grupo ela tinha a possibilidade de aprender um artesanato. Quando lhe foi oferecido um trabalho de crochê mais rústico, ela o aceitou, e trouxe pronto na semana seguinte. E então decidiu que iria aprender ponto de cruz. Começou a bordar com muita perfeição, e começou a falar. E começou a fazer um curso na Igreja Católica do bairro. E começou a rir!

Antes do Natal, o marido bebeu muito, quebrou tudo, e a expulsou de casa com dois filhos pequenos. Por alguns dias, ela esteve na casa de parentes, em outro bairro. Mas está de volta, morando com os filhos num porão cedido. A comunidade fez uma campanha para conseguir o essencial. E ela veio para a reunião: de cabeça erguida, usando batom. Os filhos estão na escola, e ela anunciou que está procurando trabalho, mas quer muito conciliar o horário para continuar participando do grupo.

Com o pé nesta estrada longa, sem poder parar...

Nós não sabemos para onde vai o caminho de Veronica; nem ela sabe. Mas, com certeza, ela olha para esse caminho com muito mais esperança do que há seis meses.
Nesse tempo, em que ela veio ensaiar alguns passos conosco, em que nós pudemos caminhar alguns passos com ela, ao lado de lutar e buscar a sobrevivência a cada dia, ela aprendeu a sonhar, a confiar nas pessoas, e a compartilhar. A importância deste grupo de mulheres na vida de Verônica nos faz lembrar a canção:

Muitas pessoas pequenas
Em muitos lugares pequenos
Que dão muitos passos pequenos
Podem mudar a face do mundo.

A diaconia sempre ocupa aquele lugar que está vazio, ou seja, ela está ao lado daquela pessoa que não tem lugar. E vê esta pessoa como sua irmã, seu irmão, filha e filho amados de Deus.

Não existe uma receita para este .estar ao lado., é preciso entender a necessidade e responder de acordo com suas capacidades. A Bíblia nos ensina que isto é SERVIR. Mas nem todo serviço é DIACONIA.

Servir como Jesus serviu (Marcos 10.45), significa ter o Evangelho como base de sua ação. Amar a partir dos exemplos e ensinamentos de Jesus nos mobiliza a ir ao encontro de pessoas excluídas da possibilidade de ter vida, e vida plena (João 10.10). Ou seja, levar o ser humano a reassumir a sua dignidade diante de Deus, seu Criador. Ao paralítico, Jesus diz: “Levanta-te, toma o teu leito, e vai para casa” (Marcos 2.1ss). O cego de Jericó (Marcos 10.49ss), sai da postura de agachado, joga fora a capa que o caracterizava como inútil e dependente dos outros. Para a mulher que sofria de uma hemorragia ele disse: “Filha, a tua fé te salvou; vai-te em
Paz”.

A diaconia não tem a responsabilidade de fazer tudo, mas tem a possibilidade de colocar um sinal: um sinal que mostra caminhos de esperança!

 

Técnica

Caso o espaço físico permita, caminhar, cada pessoa movimentado-se no seu ritmo.

Aos poucos, sentir e caminhar no ritmo de outra pessoa.

Depois de alguns minutos, dialogar:

- Como é caminhar sozinha(o)?
- O que muda, na hora de caminhar com alguém?
- Quando você precisou muito que alguém caminhasse ao seu lado?
- Alguém não conseguiu, ou teve grandes dificuldades, para caminhar com outra pessoa?
- Como é o caminhar das duas pessoas: é o caminhar de uma, de outra, ou é um novo jeito de caminhar?
- E quando mais pessoas caminham juntas?

*As frases em negrito são de Rolf Eiras, do CD Que tempo é esse?

Ingrit Vogt

Diácona

Dia Nacional da Diaconia - 25 de abril de 2004
 


Autor(a): Ingrit Vogt
Âmbito: IECLB
Natureza do Texto: Estudo/Pesquisa
ID: 13642
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