Alfabetização - qual é a nossa parte?

Estudo

25/04/2004

No texto Como comecei a escrever, Drummond diz: “Papai era assinante da Gazeta de Notícias, e antes de aprender a ler eu me sentia fascinado pelas gravuras coloridas do suplemento de domingo. Tentava decifrar o mistério das letras em redor das figuras, e mamãe me ajudava nisso. Quando fui para a escola pública, já tinha a noção de um universo de palavras que era preciso conquistar...”

Drummond era motivado pelo colorido das gravuras, e mesmo que ele não tenha dito, sabemos que certamente, a presença do pai leitor e da mãe que o acompanhava na conquista do universo das palavras eram fortes elementos de motivação. O encantamento com o mundo das palavras envolveu sentimentos, emoções e o menino percebeu que estava começando a conquistar o seu espaço no mundo dos alfabetizados: dos escreventes e dos leitores.

Quantas pessoas, hoje, adorariam entender o mistério que as palavras contêm, ou então, gostariam de usar as palavras para compreender melhor o que se passa. Por que tantas pessoas não têm a oportunidade de aprender a ler e a escrever? Por que tantas pessoas aprendem a ler, mas não lêem? O que afinal significa ler e escrever? Por que tantas pessoas não entendem o que lêem?

O Movimento Nacional de Alfabetização também tem como objetivo aproximar muitas pessoas do fascinante universo das palavras. Aproximar até é fácil, mas o ato de alfabetizar, encaminhando pessoas para tornaram-se leitoras faz parte de um desafio muito maior. Não basta saber desenhar algumas letras, escrever algumas frases sem exercitar todos os dias um pouquinho o ato de ler e escrever. Ler é problematizar, é provocar a reflexão, suscitar hipóteses, enfim, pensar sobre si e sobre o mundo.

Conforme Nietzsche, a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. Ver o que está ocorrendo ao redor, sentir as necessidades das pessoas, criar um laço de relações que as motive, a quererem decifrar o significado do colorido, do claro e do escuro que acompanha as letras. Ver e ler o mundo é ler os afetos revelados e escondidos, é ler as discriminações, ler as relações humanas, a política e a economia e, sobretudo, é ver onde pode-se semear a esperança para que ela brote como companheira da liberdade, da solidariedade, da compreensão e da paz.

O poeta Mário Quintana disse que “os piores analfabetos são os que aprenderam a ler, mas não lêem”. Essa frase nos leva a pensar sobre a nossa parte neste Movimento Nacional de Alfabetização.

Nós, leitores de livros, do mundo, de emoções e, aparentemente, possuidores do dom da interpretação e da reflexão, o que fazemos para que mais pessoas transitem pelos caminhos da esperança, que podem ser conquistados através da “alfabetização contínua”? O termo pode parecer estranho, mas refiro-me a uma alfabetização que inclui o fortalecimento das relações humanas e que faz parte da educação como um
processo social dinâmico.

Num momento em que muitas pessoas estão descrentes do futuro da escola e em conseqüência, olham com desconfiança todas as iniciativas que surgem para mudar o quadro de analfabetismo, é preciso que semeemos a esperança, que contagiemos as pessoas com a nossa alegria por podermos contribuir no buscar e trilhar de novos caminhos.

Técnica

A) Antes da leitura do texto:

Tente recordar como você aprendeu a ler? Quem estava com você? Quando foi? O que ficou marcado na sua lembrança? Ilustre esse momento através de palavras ou então faça um desenho. O mediador da técnica coloca uma música. Todos caminham pela sala com o desenho na mão. Quando a música pára, os participantes mostram e explicam a sua ilustração para a pessoa que está parada em frente, primeiro um fala e aí o outro. A música recomeça... caminham... param... mostram... explicam e assim continua.

B)Depois da leitura do texto:

a) Organizar uma pequena pesquisa para aplicar com as pessoas da comunidade: O que lêem? Quando lêem? Por que...? Refletir sobre o resultado da pesquisa e trazer para a reflexão a frase de Mário Quintana: “Os piores analfabetos são os que aprenderam a ler, mas não lêem”.

b) Imagine a seguinte situação: Você, juntamente com seus amigos, foi convidado para desenvolver um projeto para o Movimento Nacional de Alfabetização. Vocês estão empolgadíssimos. Agora é o momento de planejar: Qual será o nome do projeto? Objetivos? Duração? Público-alvo? Como vocês organizarão o projeto, para que com ele as pessoas aprendam a ler e a escrever e que no futuro, façam parte do grupo dos leitores assíduos? Apresentem o projeto para o grande grupo. Se der, escolham um projeto e tentem realmente realizá-lo.

c) O mediador colocará uma série de objetos sobre a mesa (de preferência coisas pequenas) e convidará os participantes a escolherem um objeto que associem à pergunta: Qual é a nossa parte? Como cada um se sente diante do convite de colaborar para um mundo melhor através do processo de alfabetização? Tendo o objeto escolhido em mãos, colocam os sentimentos e os anseios para o grande grupo.

Marguit Goldmeyer
Coordenadora Pedagógica da Rede Sinodal

Dia Nacional da Diaconia - 25 de abril de 2004
 


Autor(a): Marguit Goldmeyer
Âmbito: IECLB
Natureza do Texto: Estudo/Pesquisa
ID: 13639
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